MULHERES 2025
É certo e sabido: não gosto do dia da mulher. Não gosto do dia da mulher porque não é o dia da mulher. É o dia de cinismos, frases feitas, risinhos e simpatias e, na esmagadora maioria, com eventos agendados – que dizem ser para celebrar o dia da mulher – que são apenas iniciativas políticas e politizadas. Não gosto do dia da mulher.
É um dia de consumismo, de propaganda, de eventos e eventozinhos mais ou menos intelectualizados mas sempre, sempre, de cariz político e com aproveitamentos políticos. Em especial quando o dia da mulher coincide com ano de eleições. E este ano de 2025, para além das autárquicas daqui por seis meses, tudo indica que será também ano de eleições legislativas (a 11 ou 18 de Maio, caso a moção de confiança venha a ser chumbada no parlamento).
Não gosto do dia da mulher porque é um dia vazio, desvirtualizado, despido da sua essência.
É um dia parvo. Recheado de parvoíce. Em que as mulheres são, mais uma vez, banalizadas e tratadas como parvas, a quem basta sorrir, dar uma flor, levar para jantar, oferecer um qualquer presentinho inventado para a ocasião, e tudo está bem. Amanhã é outro dia. Felizmente.
Não gosto do dia da mulher. Não gosto quando são mulheres a distribuir cinismo, flores e cumprimentos a outras mulheres. Como se fossem mulheres acima das outras mulheres, que não sendo aparvalhadas, aparvalham. Haja dignidade. Não se trata de mostrar superioridade ou inferioridade. As mulheres são mulheres. Sem distinções sociais, raciais, sexuais, religiosas, partidárias. Apenas mulheres que, no dia da mulher, deviam celebrar as mulheres e não, as celebrações que politicamente são mais favoráveis ou vantajosas para um determinado objectivo político ou politizado.
Celebrem-se as mulheres com mulheres. Com todas aquelas que não estão nos livros de história e também com todas aquelas que estão nos livros de história e que lutaram pelos direitos de todas. Mulheres de todos os cantos do mundo, perdidas nos séculos do tempo, e reconhecidas nos dias de hoje. Não misturem o dia da mulher com eventos políticos e politizados com frases feitas e moções e saudações. Porque isso é esvaziar, desconsiderar, apagar, secundarizar aquele que existindo, devia ser um dia de lembrança e de objectivos.
Lembrança sobre o já alcançado pelas mulheres que nos precederam e objectivos para manter esses direitos que, num mundo cada vez mais perdido entre extremismos e populismos, correm o enorme risco de ser revertidos. Mas também definir e lutar, diariamente, por novos objectivos a alcançar: igualdade, respeito, dignidade, educação.
Celebrem-se as mulheres com mulheres. E na palavra ‘mulheres’ estão como é óbvio, as ‘meninas’. Que todas as meninas que são violentadas, vendidas, prostituídas, discriminadas e exploradas sejam a força motora para que todas as mulheres caminhem lado-a-lado, exigindo humanidade, responsabilidade e consequências para todos aqueles que, desrespeitando mais de metade da espécie humana, fomentam um mundo de força, de ódio, de vício.
Não gosto do dia da mulher. É um dia vazio, desvirtualizado, despido da sua essência. É um dia parvo. Recheado de parvoíce.
Que se celebre o dia da mulher, ano após ano, perante objectivos conseguidos e que continuem a enaltecer as acções e posições de tantas mulheres que reúno apenas num nome: Fawzia Koofi, a primeira e única mulher a ocupar o lugar de Vice-Presidente do Parlamento do Afeganistão.
Que se celebre o dia da mulher garantindo que, num mundo cada vez mais perdido entre extremismos e populismos, os direitos conquistados não sejam revertidos. Fawzia Koofi (depois de várias tentativas de assassinato) saiu do Afeganistão no último avião norte americano. Deste Afeganistão que em pleno século XXI proíbe o que quer que seja às mulheres.
Não gosto do dia da mulher. O dia da mulher não é uma efeméride politica e não deve ser utilizada para fins politizados. Não gosto do dia da mulher porque é um dia vazio, desvirtualizado, despido da sua essência.
FONTE DA IMAGEM: www.colombo.com.br
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