E.COLI, A BACTÉRIA – ESCLARECIMENTO NA REUNIÃO DE CÂMARA

Pois é. Depois de tudo o que foi dito e escrito e perante o último comunicado da Câmara Municipal de Sesimbra, eis que na reunião de Câmara de ontem, dia 20 de Agosto, o Presidente da Autarquia presta um esclarecimento adicional (ao minuto 5:44) afirmando que, perante as descargas da ETAR e a E.coli que provocou a interdição da praia (cito parcial e textualmente): 

“(…) portanto que fique totalmente claro, não havendo neste momento nenhuma informação que nos permita dizer que há uma relação causa-efeito (…) portanto não havendo, não conseguimos nem dizer que sim nem dizer que não (…)” 

Explicando de outra maneira: pode ter sido ou não. E como ninguém sabe nem ninguém tem a certeza de nada (antes pelo contrário) ninguém pode afirmar que foram as descargas da ETAR, as responsáveis pela chegada da E.coli à praia. “Portanto que fique totalmente claro.” 


Atente-se na continuação do esclarecimento, ao referir que a ETAR ficou (e cito) : “sem capacidade de tratar a água por força de descargas de pescado a...… provenientes a...… do território do Porto de Sesimbra. Não sabemos a origem, volto a dizer a..... mas se isso é um dado que foi… é um facto portanto não há, não há hum………. não há dúvidas nenhumas sobre isso (…)” 

Ou seja, já todos sabíamos (pelo comunicado da SIMARSUL) que as duas descargas realizadas pela ETAR surgiram na sequência de "afluências indevidas à rede de drenagem municipal, contendo elevadas quantidades de restos de peixe e escamas”. O que não sabíamos era que as mesmas provinham do “território do Porto de Sesimbra”. Mas, “não sabemos a origem”. 

E é aqui que as dúvidas me assaltam. Pela primeira vez é utilizada a palavra “território” antes de “Porto de Sesimbra”. O Presidente da Autarquia não refere (como afirmou no vídeo que realizou) que “os restos de peixe e escamas” são provenientes do “Porto de Sesimbra” e da “Docapesca”. Não. Desta vez, as “descargas de pescado” são “provenientes a...… do território do Porto de Sesimbra”. E será por estar dentro desse “território” que “não sabemos a origem”. 

Atente-se na imagem (fonte:portodesetubal.pt) que identifica o “território do Porto de Sesimbra” (e que pode ser confirmada aqui): 


As “descargas de pescado” são “provenientes a...… do território do Porto de Sesimbra. Não sabemos a origem.” E porquê? Porque o “território do Porto de Sesimbra” estende-se desde a ETAR até à rampa da praia junto à Fortaleza. É um vasto território e será por isso que “não sabemos a origem”. 

O único dado que se sabe é que " elevadas quantidades de restos de peixe e escamas” foram despejadas na “rede de drenagem municipal” e provocaram anomalias no funcionamento da ETAR e consequentemente, duas descargas. “É um facto portanto não há, não há hum………. não há dúvidas nenhumas sobre isso.” Desde o primeiro momento que não existiriam quaisquer dúvidas sobre isso, até porque foi a SIMARSUL a dizê-lo. 

E, na reunião realizada “com carácter de urgência”, houve (e cito novamente parcial e textualmente o esclarecimento do Presidente da Autarquia) “um facto também que nós conseguimos apurar”: as descargas tiveram origem no “território do Porto de Sesimbra”. Onde? Ninguém sabe. 

E quais foram as conclusões da reunião realizada “com carácter de urgência”? Cito parcial e textualmente: 

(…) conclusões da reunião a... por um lado que haja uma comunicação muito mais célere entre as várias entidades (…) e uma segunda a... de facto a... verificar se de uma forma precisa a... qual foi a origem dos acontecimentos por um lado, e por outro, evitar que eles voltem, que eles voltem a acontecer (…)” 

Foi isto. Com ainda outra informação sobre as duas descargas realizadas pela ETAR. Cito novamente: 

(…) existiram também uma terceira, no próprio dia a... em que foi conhecido o resultado das análises e onde foi determinado pela Delegada Regional de Saúde a interdição a banhos da praia do Ouro (…)” 

Ou seja, no próprio dia da interdição da praia, a ETAR realizou uma terceira descarga. E apesar disso, no dia seguinte a interdição foi levantada, perante o resultado de novas análises realizadas. Sabendo-se que (conforme referi no meu anterior post) a E.coli demora pelo menos 7 dias! a percorrer 1,5 km para chegar à praia, onde estão os resultados das análises de ontem, dia 20 de Agosto? E que ajudarão a provar, ou não, se “há uma relação causa-efeito” entre as descargas da ETAR e a E.coli que provocou a interdição da praia?

Mas existe outro dado nesta informação que merece atenção: a Delegada Regional de Saúde determinou “a interdição a banhos da praia do Ouro”. Repito: “a interdição a banhos da praia do Ouro”. A praia do Ouro estende-se desde a Fortaleza até ao estaleiro naval… Nem sei que diga. 

E sobre a E.coli? Nada. Até porque (e cito novamente): 

(…) acho que não vale a pena nós também neste momento a...... hum…. discutirmos esta matéria que já foi alvo de muita… discutido no sentido de apreciação e análise (…) portanto não vale a pena neste momento também discutirmos esta matéria”. 

E está dito. Quanto a mim, considero que existe ainda muita matéria a discutir “no sentido de apreciação e análise”. Porque uma coisa foram as descargas da ETAR. Outra coisa foi a presença da E.coli que provocou “a interdição a banhos da praia do Ouro” e que ninguém sabe de onde veio. 

À Câmara, sendo a entidade gestora da rede de drenagem municipal (rede de esgotos que liga à ETAR) caberá também (para além de mapear a “infraestrutura do sistema de águas residuais e pluviais internas do Porto de Sesimbra”), garantir que fora do Porto de Sesimbra, estão asseguradas todas as questões que possam provocar uma anomalia (nomeadamente na presença de E.coli que provoque a interdição da praia) assegurando que as zonas de ribeiras e afluentes directos para o mar, estão devidamente monitorizados. 

Não basta referir todo o esforço que é feito (e cito novamente) “por todos os serviços municipais desde as obras, proteção civil, o ambiente, o saneamento, as águas, o turismo” (o turismo?, mas o que raio tem o turismo a ver com a ETAR e a E.coli?). 

É urgente que, apesar desse esforço, e nesta situação concreta, todos os possíveis focos sejam descartados porque, “que fique totalmente claro”, não existe “neste momento nenhuma informação que nos permita dizer que há uma relação causa-efeito” entre as descargas da ETAR, a E.coli e a interdição da praia.

Termino com uma última frase do Presidente da Autarquia, na mesma reunião (ao minuto 40:28): 

 "Menos barulho e mais trabalho; como eu costumo dizer". 

É isso mesmo. “Menos barulho” (menos vídeos, menos certezas que não se comprovam, menos comunicados que nada comunicam, menos politiquice e politiquices) “e mais trabalho” (mesmo que estraguem férias e dias de pré-pré campanha eleitoral). Sesimbra agradece. Porque está em causa, em primeiro lugar, a saúde pública.


LINKS para:

1º post: E.COLI, A BACTÉRIA.

2º. post: E.COLI, A BACTÉRIA - RESULTADO DA REUNIÃO "COM CARÁCTER DE URGÊNCIA"

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