O PARQUE DE CAMPISMO FORTE DO CAVALO
A primeira vez que estive no Parque foi há mais de 30 anos. E na última vez que lá voltei (há cerca de 8 anos) a sensação que tive foi de que o Parque estava completamente esquecido. Há mais de 30 anos, os problemas do Parque eram as casas de banho, os balneários, a falta de água quente e a falta de pontos de electricidade. E depois de ouvir as declarações do Presidente da Autarquia aos microfones da rádio Sesimbra FM, finalmente terá sido efectuada (e cito textual e parcialmente) “uma remodelação de toda a rede de águas; uma remodelação de toda a rede eléctrica com novos, com novos novas luminárias, com novos pontos de iluminação e novos pontos de luz”, sendo que está a decorrer a recuperação de “um dos balneários e casas de banho, um deles já tinha sido recuperado também, portanto vai ficar a faltar um dos balneários, vai ser, se tudo correr bem, no próximo ano”.
Apesar de desconhecer o conjunto de obras que foram e estão a ser realizadas, lembrei-me de um pequeno edifício localizado entre dois dos blocos de balneários, julgo que será da década de 50 do século passado, com uma zona exterior de lava-loiças. E decidi partilhar o conjunto de imagens que ilustram este post e que correspondem a uma das paredes desse pequeno edifício e que, pelo valor patrimonial, histórico e cultural, espero que tenham permanecido intocáveis no mesmo lugar e que não tenham tido o mesmo triste fim que tiveram os azulejos centenários que forravam as fachadas do edifício da Rua Dr. Aníbal Esmeriz, conforme referi no post O QUE RAIO ACONTECEU AOS AZULEJOS?.
O pequeno edifício com este conjunto de azulejos pintados à mão é composto por pescadores, varinas, barcos, camponeses, pastores, ceifeiras, animais, flores, pássaros e até, o Castelo. Devem, têm de permanecer intocáveis. Espero sinceramente que a “remodelação de toda a rede de águas” tenha respeitado os azulejos, preservando a sua autenticidade e valor patrimonial. Mas claro que, com toda a certeza, estará tudo assegurado, salvaguardado e preservado. Não há motivos nenhuns de preocupação.
Importa também referir que o Parque de Campismo foi devidamente projectado, integrado na paisagem (em socalcos), encaixando os alvéolos entre as dezenas de árvores existentes, preservando-as. Árvores essas que são, na sua esmagadora maioria, pinheiros-mansos.
E permitam-me dois considerandos:
O primeiro:
- Que a febre de abater pinheiros-mansos não tenha chegado ao Parque, dado que a Autarquia andou a remodelar “toda a rede de águas”, “toda a rede eléctrica” e a reparar (e cito novamente, parcial e textualmente) o “piso das acessibilidades todas, portanto foi um piso completamente novo”.
- Ficámos com a “opinião” de que, conforme referi no post “IREMOS ABATER A GRANDE MAIORIA DAQUELES PINHEIROS”, os pinheiros-mansos têm de ser abatidos e substituídos por outras árvores uma vez que as suas raízes danificam “as infraestruturas, não só as que estão enterradas mas também as estradas, os passeios e isso tudo”.
- Espero que, pelo menos desta vez, os abates tenham sido nulos e que a remodelação de “toda a rede de águas” e de “toda a rede eléctrica” tenha respeitado e acautelado os pinheiros-mansos existentes, com dezenas de anos (para não dizer, pelo menos, uma centena de anos).
O segundo:
- Que a reparação do “piso das acessibilidades todas, portanto foi um piso completamente novo” não seja em betuminoso, em alcatrão. Com toda a certeza que terá sido aplicado “um piso completamente novo” que anulando o pó dos caminhos existentes, mantém e garante a permeabilidade do solo (os tão conhecidos pavimentos permeáveis).
Perdoem-me a ousadia destes dois considerandos. Não haverá com toda a certeza motivos para qualquer tipo de preocupação.
O Parque de Campismo Forte do Cavalo, municipal, com uma localização excepcional, podia ser, há anos!, um dos grandes activos promocionais, turísticos e económicos do Concelho de Sesimbra.
O que o Parque de Campismo Forte do Cavalo precisa, não são de remodelações e recuperações e substituições executadas ao sabor da maré. O que o Parque precisa é de ser pensado como um todo, estabelecendo com rigor as intervenções necessárias que visem atingir um qualquer objectivo final que esteja planeado e definido. Porque para além de remodelações e recuperações e substituições, todo o Parque precisa de uma intervenção urgente, que o dignifique e o enquadre nos critérios e exigências do século XXI.
O Parque está dentro do Parque Natural da Arrábida, estando abrangido por um conjunto de regras e condicionantes legais. Está igualmente abrangido por normas e condicionalismos resultantes do POC Espichel-Odeceixe. São os valores naturais que o enquadram que devem ser preservados e valorizados, integrando as raízes rurais da Freguesia do Castelo e o mar e a pesca da Freguesia de Santiago.
Sabendo-se, é certo, que tudo no Concelho de Sesimbra já foi feito, está feito, está a ser feito ou está pensado para ser feito, permitam-me a ousadia descabida de uma sugestão para o Parque de Campismo Forte do Cavalo:
- Implementar um Parque de Campismo Ecológico e Sustentável que, estando localizado sobre a baía da Vila de Sesimbra e sendo abraçado pela Serra da Arrábida, se venha a destacar a nível nacional e internacional, obtendo os respectivos certificados de sustentabilidade do turismo, como por exemplo a “Green-Key”, o “Eco-camping” ou o “EU-Ecolabel”. E um programa:
Em termos de organização geral:
- Criar três zonas de campismo:
- A primeira, destinada aos campistas que se deslocam em autocaravanas.
- A segunda, destinada aos campistas que trazem as suas próprias tendas e caravanas.
- A terceira, destinada aos campistas que procuram alojamentos existentes no próprio Parque, como sejam bungalows, cabanas, tendas equipadas, etc.
- Reabilitar e equipar o campo polidesportivo;
- Implementar um eco-parque infantil;
- Definir uma zona de convívio ao ar livre, com churrasqueiras e área de piquenique;
- Construir a tão desejada piscina, virada para a baía de Sesimbra, com zonas de estar e relaxamento;
- Reabilitar a sala de convívio, zona de entrada e portaria;
- Realizar instalações sanitárias adaptadas a pessoas com mobilidade reduzida (sobre este ponto específico com toda a certeza que as obras realizadas nos balneários contemplaram esta necessidade).
Em termos de sustentabilidade ambiental e energética:
- Instalar painéis solares nas coberturas dos balneários, capazes de gerar a energia necessária para aquecer a água e garantir o bom funcionamento dos mesmos (sobre este ponto específico com toda a certeza que as obras realizadas nos balneários contemplaram a eficiência energética);
- Instalar candeeiros de iluminação solar, com sensores e painéis solares, que garantam a iluminação de todo o Parque (sobre este ponto específico, com toda a certeza que as obras realizadas na rede eléctrica contemplaram esta medida);
- Instalar sensores de movimento na iluminação dos equipamentos que permita poupança energética quando os mesmos não estão em utilização (sobre este ponto específico, mais uma vez e com toda a certeza que as obras realizadas na rede eléctrica contemplaram esta medida);
- Instalar torneiras e chuveiros mais eficientes (por exemplo, com temporizadores) - (sobre este ponto específico, com toda a certeza que as obras realizadas nos balneários/rede de águas, contemplaram esta medida);
- Na terceira zona, os alojamentos (que estarão instalados durante todo o ano) deverão ser executados em estruturas sobre-elevadas, que impactem o mínimo possível com o solo natural, utilizando materiais naturais, reciclados e/ou amigos do ambiente;
- Em todas as zonas, permitir apenas a circulação de carros eléctricos e bicicletas, disponibilizando postos de carregamento;
- Em todas as zonas/alvéolos, disponibilizar bicicletas eléctricas que permitam a circulação dentro do Parque e até, fora do Parque (como meio de transporte até ao centro da Vila).
Em termos de gestão de resíduos:
- Definir espaços para a reciclagem dos resíduos produzidos pelos campistas (biorresíduos);
- Implementar ecopontos que permitam a recolha seletiva de plásticos, vidros e cartão;
- Limitar a produção de resíduos orgânicos, promovendo o combate ao desperdício alimentar;
- Utilizar produtos biodegradáveis no restaurante/cafetaria e demais instalações.
Em termos de actividades:
- Implementar um programa com actividades na natureza (por exemplo: passeios pedestres, mergulho, aulas de surf, visitas a praias e monumentos naturais,…) desenvolvendo parcerias com os vários agentes económico-turísticos existentes;
- Promover a degustação de produtos locais (queijo da Azoia, pão caseiro, farinha torrada,…).
Em termos de ruído e poluição:
- Implementar parques de estacionamento no exterior do Parque (mas isto já é outro tema que não cabe neste post e que, como é óbvio, já estará pensado para ser feito), garantindo que o Parque é um espaço livre de poluição química, sonora e visual.
Pano para mangas! Mas repito: como sabemos, tudo no Concelho de Sesimbra já foi feito, está feito, está a ser feito ou está pensado para ser feito. Pelo que este post é completamente despropositado e descabido.
São os efeitos dos pólens que andam no ar. Mas como até foi feita a pergunta aos cidadãos comuns, munícipes, onde é que gastariam os 9 milhões de euros de excedente orçamental, fica mais uma sugestão.
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