“FORTÍSSIMA BIPOLARIZAÇÃO ARTIFICIAL”

Permitam-me em primeiro lugar, um resumo do que foi a campanha eleitoral:

Duas situações inacreditáveis: 

  1. O apoio de mais de uma centena de sindicalistas da CGTP a António Costa e, o apelo ao voto no PS;
  2. O gato Zé Albino que, não sendo candidato a coisa nenhuma, dominou redes sociais, jornais e telejornais.

Duas situações inesperadas: 

  1. A entrevista de José Sócrates, repetindo sucessivamente que “não queria entrar na campanha”, entrando;
  2. A operação a Jerónimo de Sousa, afastando-o das arruadas e comícios.

A grande influencer

  1. As sondagens diárias que foram moldando a campanha ao gosto dos números que iam sendo apontados.

Os argumentos chave dos partidos:

  1. O argumento comum (à esquerda e à direita): é o voto dos portugueses que decidirá o resultado das eleições, pelo que a composição do parlamento será aquela que o povo quiser;
  2. Argumento comum da esquerda da esquerda e, da direita da direita: evitar a maioria absoluta (do PS ou do PSD);
  3. O argumento de toda a esquerda: evitar um governo de direita;
  4. O argumento da esquerda à esquerda: tirar a maioria a António Costa (porque as maiorias absolutas são perigosas) sendo que é o parlamento que decide sobre quem é o Primeiro-Ministro;
  5. O argumento de toda a direita: acabar com o governo socialista de esquerda;
  6. O argumento da direita à direita: ser governo com o PSD (uma espécie de nova geringonça);

Resumindo: a campanha eleitoral foi entre a eleição de um governo de esquerda ou de direita. Com mais ou menos representatividade dos partidos à esquerda da esquerda (PCP, PEV e BE) caso o vencedor fosse o PS ou, com mais ou menos representatividade dos partidos à direita da direita (CDS, CHEGA e IL) caso o vencedor fosse o PSD. Sobravam o PAN (que apoiaria o governo de quem ganhasse) e o Livre (favorável a um governo de esquerda). 

E no meio de debates, comícios, mercados e feiras, escolas e hospitais, arruadas em regiões tradicionalmente mais de esquerda ou mais de direita, a sondagem do final da campanha estabelecia um empate técnico entre PS e PSD; um empate entre IL, CHEGA e CDU (que partilhavam o 3º lugar); o BE como 6º classificado; o PAN em 7º. lugar; CDS e Livre empatados no último lugar.

Dia de reflexão e, no domingo, o “povo saiu à rua” para votar. O cidadão comum, cuja opinião vale e muito, a cada acto eleitoral, foi votar. Até os confinados e infectados puderam sair para ir votar. No cumprimento daquele que foi o único argumento comum de todos os partidos: é o voto dos portugueses que decidirá o resultado das eleições, pelo que a composição do parlamento será aquela que o povo quiser.

E às oito horas em ponto, todos os canais televisivos eram unânimes: PS vence as eleições com hipótese de vir a ter maioria absoluta. E à medida que a noite foi avançando, a maioria absoluta confirmou-se, num António Costa emocionado e (na minha opinião) completamente arrebatado pela responsabilidade de uma maioria absoluta que evidencia claramente a vontade de mais de 2 milhões e 200 mil portugueses: um governo de maioria socialista, estável e em funções, durante os próximos quatro anos.

  • Rui Rio assumiu a derrota (os resultados ficaram muito aquém do esperado, sendo que o gato Zé Albino pode voltar ao anonimato do sofá, saindo das luzes da ribalta, nas quais não pediu para entrar), e não dizendo (apesar de até ter falado em alemão) Rui Rio demitiu-se.
  • Jerónimo de Sousa foi igual a si próprio. A luta continua! Pelo povo e pelo direito dos trabalhadores! E o resultado catastrófico alcançado (digo eu) é fruto apenas e só da “fortíssima bipolarização artificial”. João Oliveira (que não foi eleito) questionado se o PCP iria agora reflectir sobre a liderança do partido respondeu: “os resultados eleitorais não são decisivos para a liderança do partido; sabemos bem a nossa luta e existem outros factores muito mais importantes” (não sei quais). Estranhamente, e até porque o PCP se candidatava em coligação com o PEV (a conhecida CDU), ninguém do PEV se pronunciou sobre o facto de não elegerem um único deputado.

Não sei o que raio quererá dizer “fortíssima bipolarização artificial”. Mas na minha opinião, de simples cidadã comum, parece-me que para a esmagadora maioria do povo português, “fortíssima bipolarização artificial”, quererá dizer: em plena pandemia, quando todos os portugueses estavam fechados em casa, o PCP fez o congresso, comemorou o 1º de Maio, realizou as Festas do Avante e, como gota final, chumbou o orçamento de estado (o mais à esquerda de sempre), fazendo cair o governo e provocando eleições antecipadas. 

  • Catarina Martins assumiu a derrota, dizendo que o BE terá de reflectir sobre o que aconteceu. E apesar do argumento (comum a todos os partidos) de que “o povo é quem mais ordena”, lá utilizou também as palavras “fortíssima bipolarização” (omitindo o “artificial”). Pergunto-me se a opinião do povo só é válida se for de acordo com as expectativas da esquerda à esquerda. O povo disse claramente que não quer uma geringonça de esquerda que, a qualquer momento, faz cair o governo. O povo disse claramente que quer um governo de esquerda, sem PCP, PEV e BE. E a maneira que o povo arranjou para conseguir essa solução, foi dar a António Costa maioria absoluta. E é esta a vontade do povo que decidiu claramente, qual é a composição do parlamento. E porque é de facto o povo quem mais ordena, até arranjou maneira de eleger desde logo o Primeiro-Ministro, para que nem se pusesse a hipótese do Parlamento eleito poder vir a criar uma nova geringonça mal geringonçada.

  • André Ventura. 12 deputados eleitos. Frase do discurso de vitória: “António Costa, agora vou atrás de ti!” Perto de 400 mil portugueses votaram no CHEGA. E os dois partidos de direita (PSD e CDS), também eles, pais da Constituição da República Portuguesa, assistem serenamente a esta ascensão meteórica, sem conseguirem reagir ou introduzir novas dinâmicas de direita que aglutine a pessoa que se diz partido. Confesso que estou curiosa sobre o desempenho deste novo grupo parlamentar que se sustenta apenas em três ou quatro frases efeito, de uma única pessoa.

  • João Cotrim de Figueiredo. Será o IL o partido que irá conseguir levantar a direita, destronar o Ventura e entender-se no futuro, com o PSD? A verdade é que consegue 8 deputados e é a 4ª força política nacional. 

  • Francisco Rodrigues dos Santos. Pela primeira vez na história da democracia portuguesa, o CDS não elege nenhum deputado para o parlamento. Um partido destruído, dividido e refém de um alter-ego, que se demitiu. O Livre, que diz ser a esquerda europeísta ecologista, elege Rui Tavares (que terá mais ou menos o lugar do PEV). Inês Sousa Real lá conseguiu ao fechar da noite, eleger-se como única deputada do PAN, dizendo que o partido também terá de reflectir sobre o resultado conseguido. Por fim a abstenção. Apesar de continuar em valores elevados, desceu para 42,04%. 

Direi que a grande derrotada da noite é a esquerda à esquerda do PS. O BE perde cerca de 2/3 dos deputados, passando de um grupo parlamentar de 19 elementos para apenas 5. O PCP-PEV perde metade dos deputados, passando de um grupo parlamentar de 12 elementos para apenas 6. 

A nível nacional, o BE e PCP-PEV são agora a 5ª e 6ª forças políticas, atrás da IL e do CHEGA. Resultado do voto dos cidadãos comuns. Porque o povo é, de facto, “quem mais ordena.” E se até admito que o BE possa estar preocupado com a maioria absoluta do PS (porque perdem o poder de, com o seu voto, poderem chumbar orçamentos de estado), permitam-me um conselho ao PCP: não precisam de estar preocupados com o facto do PS ter ganho as eleições com maioria absoluta. Na pior das hipóteses, o PS irá exercer o poder (resultado da maioria absoluta) da mesma forma que o PCP-PEV exerceu e exerce o poder (resultado de maiorias absolutas) em algumas Câmaras do país (algumas há mais de 45 anos). A menos que a preocupação resulte do facto de saberem, por experiência própria, o que significa governar com maioria absoluta (e que referi AQUI).  

Haverá ainda que olhar para os resultados a nível distrital e relativamente ao distrito de Setúbal (que elege 18 deputados). O PS ganhou em todos os concelhos, elegendo 10 deputados. O PSD é o 2º partido mais votado, mantendo o mesmo número de deputados eleitos (3). O PCP-PEV passa a 3ª força política, perdendo um deputado (elege 2). O CHEGA surge em 4º lugar com um deputado eleito e, o BE, em 5º lugar com apenas um deputado. IL e PAN elegem 1 deputado. 

E também, para aquela que é a nossa terra: Sesimbra. O PS ganha inequivocamente com 11.403 votos. PCP-PEV é a 4ª força política do concelho (atrás do PSD e do CHEGA) conseguindo uns míseros 2.135 votos dos 26.220 votos dos cidadãos comuns que exerceram o seu direito e dever.

Quer isto dizer que o PS é o partido mais votado a nível nacional, regional e local. O CHEGA, é o 3º partido a nível nacional e local. O PCP é o 6º partido a nível nacional e, o 4º a nível local. E esta conclusão é demasiadamente importante para que não seja evidenciada. 

Importa relembrar os resultados das autárquicas do passado dia 26 de Setembro de 2021 e que elegeu em Sesimbra, nomeadamente para a Câmara Municipal, 3 vereadores PCP (o PEV não existe), 3 vereadores PS e, 1 vereador CHEGA. Ou seja, o povo sesimbrense retirou a maioria absoluta à CDU, elegeu como 2ª força política o PS e, elegeu o CHEGA como 3º força política do concelho. Acresce que, a CDU perdeu na freguesia com maior densidade populacional: Quinta do Conde. E foi esta freguesia que elegeu, não um vereador independente mas, um vereador do CHEGA. Mais: a CDU vencendo, perdeu em todas as freguesias, conforme referi AQUI

E importa falar disto porquê? Porque ficámos a saber que o vereador eleito pelo CHEGA (agora independente) depois de ter sido excluído da gestão camarária (por ser do CHEGA), foi agora acarinhado com um meio tempo e o pelouro da protecção civil. Ao que parece, o candidato do CHEGA afinal não é de extrema-direita e talvez até venha a ser (digo eu) da extrema-esquerda (o que não seria inédito).  

E eu que não percebo nada de nada de política, parece-me que estão reunidas as condições necessárias para que a CDU (PCP) volte a ter uma maioria absoluta na Câmara Municipal. A tal maioria absoluta (conquistada pelo PS) que o PCP diz ser “perigosa”. A diferença é que, no caso nacional, o PS tem maioria absoluta porque foi essa a vontade do povo. No caso de Sesimbra, o povo sesimbrense retirou a maioria absoluta à CDU. 

Se vier a verificar-se esta aliança inesperada e completamente descabida, as eleições autárquicas em Sesimbra terão sido uma fraude. 

E ao PS caberá o papel principal, enquanto primeira força política nacional e regional. E enquanto segunda força política do concelho de Sesimbra: ao invés de participar na gestão, fazer oposição. Mostrando a sua indignação, rejeitando pelouros minados de problemas e reféns de orçamentos que serão aprovados sem sobressaltos e completamente alheios às expectativas dos vereadores socialistas. 

E aos sesimbrenses, caberá também uma palavra importante: indignarem-se. Porque ao contrário do que foi afirmado, a maioria do povo sesimbrense que votou nas autárquicas de dia 26 de Setembro de 2021, não votou na CDU. Nem tão pouco no CHEGA. E muito menos num vereador independente.

O PCP é o 6º partido a nível nacional e, o 4º a nível local. Alguns comentadores especializados e conhecedores destas matérias (que em última análise, serão também apenas cidadãos comuns ☺), dizem que, futuramente, o PCP será apenas um partido com representatividade na Assembleia da República com deputados eleitos apenas por Lisboa. Será? 


FONTE DA IMAGEM: fotografia ao jornal EXPRESSO



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