O VENCEDOR É, SIMULTANEAMENTE, O GRANDE DERROTADO
E depois de uma noite longa, Portugal ficou a saber as cores do mapa nacional. O PS continua a ser o vencedor autárquico (apesar de ter perdido algumas Câmaras). Rui Rio refere que o PSD teve um excelente resultado eleitoral, referindo que se tratou de um aviso ao governo. Jerónimo de Sousa referiu que os resultados obtidos pela CDU ficaram aquém dos objectivos traçados. André Ventura mostrou-se desapontado por não ter conseguido consolidar-se como terceira força política, afirmando que não irá alinhar em acordos. Já o líder do CDS afirmou que os resultados obtidos superaram todos os objectivos delineados, apresentando-se o CDS como a verdadeira alternativa de direita. O BE apenas referiu que não negoceia com a direita excepto no tema habitação (numa referência directa a Lisboa).
A surpresa da noite foi a derrota de Fernando Medina em Lisboa. E também, a vitória do PS em Loures. Na península de Setúbal, a surpresa maior terá sido porventura a vitória do PS na Moita sendo que importará também referir a vitória do PS em Almada. A CDU perdeu maiorias, e quase que via fugir-lhe (para o PS) a “vila morena”.
Em Sesimbra, a grande vencedora da noite foi mais uma vez a abstenção: mais de 56% da população não foi votar. Repito: mais de 56% da população sesimbrense não foi votar. Este é o verdadeiro resultado que carece de entendimento. Nomeadamente por parte de todos os partidos. Sesimbra não pode continuar refém daqueles que não exercem o seu maior direito democrático: o voto. Não vale a pena reclamar, partilhar, escrever, mostrar,… nas redes sociais o descontentamento ou a indignação sobre isto ou sobre aquilo. Não vale a pena discutir nas mesas de café o que está mal e o que está bem. Nada vale a pena se depois, a maioria, não vota. O voto é o poder maior do cidadão comum cuja opinião, (conforme se sabe), “vale o que vale”. É a opinião do cidadão comum que, através do voto, decide o futuro dos partidos e dos eleitos. O voto muda efectivamente, o futuro de um território. A resignação perante o poder estabelecido é a maior inimiga da democracia e da liberdade. De nada servem centenas ou milhares de likes se esses mesmos likes não passam disso mesmo: likes mecanizados e desprovidos de qualquer tipo de responsabilidade no futuro de um território.
Apesar da grande vencedora abstenção, e depois de 16 anos de maiorias absolutas da CDU, a coligação PCP-PEV, com o slogan “juntos sempre a crescer”, saíram vencedores perdendo no crescimento ambicionado. Ou seja, juntos decresceram: perderam a maioria absoluta na Câmara Municipal com a consequente perda de um vereador; perderam um deputado na Assembleia Municipal (e consequentemente a maioria que detinham com a “coligação” CDU+PSD/CDS); perderam completamente na Quinta do Conde, inclusive a presidência da Junta de Freguesia.
O PS elegeu mais um vereador na Câmara Municipal, ganhou na Quinta do Conde inclusive, a presidência da Junta de Freguesia e, manteve o número de deputados na Assembleia Municipal. A surpresa para muitos, terá sido a derrota do PSD (que não elege um único vereador para a Câmara Municipal) e a vitória do Chega, elegendo o sétimo vereador daquele que será o próximo executivo da Câmara Municipal. Mais, o Chega elege dois deputados para a Assembleia Municipal (os mesmos que o PSD).
Direi que o vencedor da noite (CDU) é o grande derrotado. E essa derrota traduz-se na vitória do PS, do Chega e do CDS. Sim, o CDS mostra o peso que detém no concelho de Sesimbra, anulando a possibilidade de eleição do candidato do PSD à Câmara Municipal.
CDU e PSD perderam eleitorado para o PS e para o Chega. O BE manteve o mesmo número de deputados eleitos e, o MSU, perdeu um dos deputados da Assembleia Municipal. Teriam sido estes os resultados alcançados se porventura a abstenção não tivesse sido a grande vencedora da noite? Depois da vitória da abstenção em 2017, e hipoteticamente com o slogan “se não votarem, crescemos”, a abstenção agora, em 2021, subiu 1,22%. 1,22% corresponderão, grosso modo, a cerca de 550 pessoas a mais que, no seu livre arbítrio, na sua liberdade enquanto seres individuais e que lhes é garantida pela democracia, decidiram não votar. Abdicando de um dever civilizacional que foi sendo arduamente conquistado. Relembro que há pouco mais de 50 anos apenas uma pequena parte da população portuguesa podia votar. E à esmagadora maioria de mulheres era vedado esse direito. Votar é um direito e um dever. Para que não sejamos apenas povo, cidadão comum cuja opinião “vale o que vale”. O votar ou o não votar, não pode ser uma decisão tomada como se fosse um apetecimento qualquer. Todos, sem excepção, devemos exercer este direito, para que o mesmo não corra nunca o risco de nos ser retirado. De passarmos a ser apenas o miserável povo, sem opinião, sem direitos, sem deveres, à mercê dos poderes instituídos e das forças mais ou menos ditatoriais implementadas. Está nas mãos do povo o poder. E esse poder é expressado através do voto.
Pessoalmente, considero que a abstenção é uma questão educacional. E que serão as escolas o sítio certo para enaltecer o poder do voto, explicando a razão de ser do mesmo num estado livre e democrático, mostrando a luta de todos aqueles que, sofrendo com a própria vida, lutaram por um direito que, aos dias de hoje, parecerá banal e desprovido de valor. Será a escola o garante dos estados livres, educando, mostrando as diferenças de regimes democráticos (e também de todos os outros), esclarecendo as diferenças entre a esquerda e a direita. No fundo, alimentar a consciência dos mais jovens para aquele que é o seu maior direito, para aquele que é o maior poder que lhes é atribuído, apenas por serem seres humanos livres num estado democrático.
Quanto aos resultados eleitorais em Sesimbra: confesso que estou curiosa relativamente ao funcionamento do executivo municipal. Será o vereador do Chega o verdadeiro homem do poder?, decidindo como e quando serão tomadas decisões? É que desta vez, para além da CDU contar apenas com três eleitos, não tem o vereador do PSD que lhes garantiria a maioria absoluta. Será que o Chega irá cumprir a promessa eleitoral de que não se coligará com ninguém? E a outra promessa (igualmente do Chega) dizendo que iria “cobrar” sobre as promessas de milhões (avançadas na campanha eleitoral pelo Presidente reeleito da CDU) para investimentos, obras, equipamentos, habitação, transportes,…? Ou cederá o vereador do Chega a um meio tempo, ou quiçá até, um tempo inteiro, como vereador com pelouro atribuído? Transcrevo uma das frases de vitória de André Ventura: “o Chega elegeu vereadores decisivos que irão definir as maiorias.” Estaria a referir-se também, a Sesimbra? Aguardemos.
E os três vereadores eleitos pelo PS?, aceitarão fazer parte de um acordo que garanta o funcionamento da Câmara sem sobressaltos? Irá o PS assumir pastas que não são suas?, contribuindo para a divisão de responsabilidades se por um acaso, as mesmas não se mostrarem concretizáveis e/ou realizáveis? Relembro que no mandato que agora termina, a CDU, em maioria, não atribuiu qualquer pelouro aos dois vereadores do PS eleitos. Os pelouros da Câmara ficaram nas mãos da CDU e do PSD, descartando a possibilidade dos dois vereadores do PS poderem contribuir com a sua acção e empenho, na definição, gestão e consolidação de medidas inerentes a um qualquer pelouro (aliás, a intervenção do vereador do PS-Carlos Silva, na última reunião de Câmara deste mandato, que agora termina, foi transparente e esclarecedora). Irão os três vereadores eleitos pelo PS dar o braço à CDU?, transformando uma minoria numa maioria incompreensível, perante tudo o que foi referido em campanha eleitoral? Ou será que serão os três vereadores eleitos pelo PS a recusar qualquer pelouro, assumindo uma postura de transparência e esclarecimento que vise defender Sesimbra e os sesimbrenses, caso a caso, sem acordos pré-definidos? Aguardemos.
Quanto aos vencedores: será que os três reeleitos da CDU assumirão a responsabilidade de gerir todos os pelouros da Câmara?, reforçando assessorias e avençados? Ou será que os três vereadores reeleitos pela CDU, habituados a governar e a decidir em maioria, irão conseguir abdicar de alguns pelouros? E se sim, quais serão os pelouros? E se abdicarem de pelouros, será que os três vereadores eleitos pelo PS os aceitarão? E em que termos? Ou será o vereador eleito pelo Chega a abraçar alguns pelouros descartados pela CDU? Aguardemos.
Já na Assembleia Municipal o cenário é outro. A CDU elege 8 deputados (e 2 presidentes de Junta - Castelo e Santiago). Acreditando que a “coligação” com o PSD será mantida, e sendo que este partido elegeu dois deputados, ter-se-ão 10 deputados da “mesma” força politica (e 2 presidentes de Junta). No entanto, somando os deputados eleitos pelas restantes forças políticas representadas (7-PS (sete deputados e um presidente de Junta), 2-Chega, 1-BE e 1-MSU) ter-se-ão 11 deputados na oposição. Será que o PS, ou o Chega, ou o BE ou o MSU, irão dar a mão à CDU, tendo em vista o bom funcionamento da Assembleia Municipal? É que das muitas matérias que a Assembleia irá discutir, será a Revisão do PDM de Sesimbra (se for cumprido o calendário definido pelo Presidente reeleito e, a data limite de Dezembro de 2022). Será que a Revisão do PDM corre o risco de vir a ser reprovada em Assembleia Municipal? E se assim for, irá ser esse o procedimento a adoptar?, reprovar as propostas camarárias que carecem de deliberação na Assembleia Municipal? Ou será que, resultado dos acordos hipotéticos que vierem a ser definidos na Câmara Municipal, entre a CDU e os restantes vereadores (e conforme acima questionei) se consolidarão também, na Assembleia Municipal? É que sem acordos, os eleitos pela CDU não conseguirão garantir qualquer tipo de deliberação/decisão (apesar de terem vencido as eleições). Estaremos à beira de uma geringonça municipal? em que será a CDU (apesar de ser poder) a ceder às exigências do PS?, para ver entre outros, os orçamentos municipais anuais aprovados? Aguardemos.
Espero que todos os eleitos e reeleitos se empenhem por Sesimbra e pelos sesimbrenses, sendo que desejo a todos as melhores felicidades no desempenho das funções que lhes foram atribuídas pelo povo votante. Quanto aos candidatos não reeleitos, e conforme referi em anterior post, irão reintegrar o povo. E, como sabem, voltarão a ser apenas cidadãos comuns, cuja opinião “vale o que vale”. Sobre os candidatos não eleitos, apenas um pedido: continuem a defender as vossas ideias, as vossas convicções, participando activamente na vida pública e contribuindo inequivocamente para o enriquecimento da democracia.
Quanto à abstenção (mais de 56% da população sesimbrense não foi votar), espero que todos os que integram esta percentagem se sintam pelo menos, responsabilizados por se terem descartado de votar, em nome de um qualquer valor maior (não sei qual), abdicando do poder que detêm para tomar decisões, sobre aqueles que gerem o futuro de Sesimbra e dos sesimbrenses. O futuro será aquele, no qual decidiram, não participar. E se porventura alguns dos que integram esta percentagem, tiverem consciência, que vos pese. Eram cinco minutos da vossa preciosa vida. Lembrem-se disso quando reclamarem. Enquanto cidadã comum, num estado democrático e livre, tenho de aceitar a vossa opção (enquanto cidadãos livres, tais como eu) e os efeitos que essa vossa opção provoca nos destinos do Concelho e em cerca de 44% dos sesimbrenses que foram votar (exercendo o seu direito). No entanto, não conseguirei nunca compreender.
Termino com uma pergunta: durante quanto tempo irão perdurar os cartazes eleitorais espalhados um pouco por todo lado do Concelho de Sesimbra? Pelo menos nesta matéria, as forças politicas e/ou partidárias, poderiam ser exemplares. E assim como nos brindaram com a colocação dos mesmos (numa espécie de “surpresa!”), deveriam adoptar o mesmo tipo de postura com a retirada dos mesmos. Já cansam!
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