ESTE É QUE É O MAIOR ORÇAMENTO DE SEMPRE: 16 MILHÕES DE EUROS!
E eis que o último orçamento municipal deste mandato foi disponibilizado na página oficial da Autarquia mais de um mês depois de ter sido aprovado. Acontece, são vicissitudes inerentes ao procedimento. Finalmente o cidadão comum (que como se sabe, não percebe nada de nada sobre nada) pode consultar o que raio está previsto naquele que é o maior orçamento da história de Sesimbra: perto de 91 milhões de euros (em rigor, 90.861.855,00€).
Deste elevado montante, importa tecer algumas considerações:
- A transferência de competências, nas áreas da educação, acção social e saúde (ou seja, o montante que o estado transfere para a Autarquia para ser aplicado na educação, acção social e saúde) corresponde a mais de 7 milhões de euros (7.210.769,00€).
- Os projectos cofinanciados pelo PRR e por outros programas financeiros (POSEUR, FEDER, Fundo Ambiental,…) que chegam quase aos 12 milhões de euros (11.887.406,00€), destinados à:
- Construção de equipamentos na Quinta do Conde:
- Novo Centro de Saúde;
- Spot das Artes;
- Anfiteatro da Boa Água;
- Auditório.
- Construção, reabilitação e recuperação de equipamentos, habitação pública e espaços públicos na Freguesia do Castelo:
- O que quer que seja que vai ser construído no Parque Augusto Pólvora: começou por ser um "Auditório" cujo nome técnico seria “Sala Multiusos” mas que afinal parece que é um "Edifício Polivalente com Cafetaria";
- O novo Pavilhão Desportivo de Sampaio;
- A continuação da obra na Escola Navegador Rodrigues Soromenho;
- A recuperação de habitação municipal na Almoinha;
- A reabilitação dos espaços públicos nos bairros municipais da Almoinha e do Zambujal);
- A implementação dos Bairros Digitais;
- Um conjunto de projectos imateriais integrados no programa PRR-AML - Comunidades Desfavorecidas;
- Meia dúzia de trocos para a recolha de biorresíduos.
- O montante oriundo do empréstimo contraído para arranjar a miserável e deplorável rede viária da Freguesia do Castelo e que fica perto dos 3,5 milhões de euros (3.490.509,00€).
Ou seja, aos quase 91 milhões de euros terão de ser retirados os quase 22,6 milhões de
euros (em rigor, 22.588.684,00€) que são receitas destinadas a um fim perfeitamente
identificado e a concretizar. Direi que a Câmara é apenas o mediador entre o dinheiro
(oriundo do estado, dos fundos europeus e do empréstimo) e as obras a realizar.
Sobram mais de 68 milhões de euros (68.273.171,00€), aos quais terão de ser retiradas as
despesas certinhas (despesas com pessoal, pagamento de empréstimos e juros): 40
milhões de euros (40.031.050,00€).
Significa que os quase 91 milhões de euros ficam reduzidos a pouco mais de 28 milhões de
euros (28.242.121,00€).
É este o orçamento municipal para 2025: 28 milhões de euros.
Para gerir o dia-a-dia. Para pagar o que tiver de ser pago. Para subsidiar o que tiver de ser
subsidiado. Para adquirir o que tiver de ser adquirido. Para investir no que tiver de ser
investido. Para gastar no que tiver de ser gasto.
E o que é que tem de ser pago? Por exemplo: gasóleo, seguros da frota automóvel,
seguros de acidentes de trabalho, impressos e documentação, publicidade na
comunicação social. E quanto é que isto vale? 2 milhões de euros (2.082.804,00€).
Mas também as facturas da AMARSUL, da SIMARSUL, da EDP. A já famosa TGR. E também
os subsídios protocolados e as transferências para as Juntas de Freguesia, Instituições e
outros. E de quanto é que estamos a falar? Muito dinheiro: 10.305.700,00€.
Ou seja: chegados aqui, o maior orçamento de sempre apresentado pelo executivo
municipal para este último ano de mandato (2025) não chega a 16 milhões de euros
(15.853.617,00€). Gastos em quê? Por exemplo (e sem qualquer tipo de comentário):
- 175 mil euros para a conservação e manutenção das escolas do Concelho;
- 35 mil euros para receber a comunidade educativa;
- 10 mil euros para manter/reparar a biblioteca;
- 50 mil euros para manter/reparar o cinema;
- Mil euros para manter/reparar os museus;
- 55 mil euros para recuperar/manter a habitação pública existente;
- 240 mil euros nas obras que vão ser realizadas na Marginal de Sesimbra;
- 47 mil e 500 euros para o Espaço BUS Alfarim;
- 10 mil euros para reabilitação geral da rede águas (residuais/pluviais) do Concelho;
- 50 mil euros para reabilitação das redes de esgoto pluvial na Vila de Sesimbra;
- 80 mil euros para remodelações/reparações na rede da Quinta do Conde;
- 150 mil euros para a reabilitação de coletores do Alto das Vinhas;
- 350 mil euros para adquirir contentores do lixo;
- 120 mil euros para construir o Centro de Coordenação Operacional Municipal da Protecção Civil;
- 100 euros para a substituição de condutas de água, em fibrocimento;
- 385 mil euros para a substituição de outras condutas no Concelho;
- 480 mil euros para construção a nova célula no Cabeço do Melão;
- 280 mil euros para adquirir contadores;
- 400 mil euros para informatizar a leitura e a cobrança;
- 297 mil euros para o Carnaval:
- 70 mil euros na Festa das Chagas;
- 40 mil euros na Temporada da Casa da Ópera;
- 183 mil euros para o Natal e Réveillon;
- 193 mil euros para outras animações culturais;
- 34 mil euros para as festividades religiosas;
- 83 mil e 700 euros para eventos de promoção turística;
- 190 mil euros em iniciativas culturais;
- 15 mil euros para a Estratégia Turística;
- 204 mil e 700 euros para as feiras/festividades do Concelho (Feira-Festa, Festa das Chagas, ZimbraMel, Natal);
- 100 mil euros para Reparações/beneficiações no Parque de Campismo Forte Cavalo;
- 35 mil euros para a Mostra Maçã Camoesa;
- 52 mil euros na Quinta da Moagem;
- 24 mil euros na Vinha de Sesimbra;
- 700 euros para o Festival do mar e actividades náuticas;
- 600 euros para promover a uva Stª. Isabel;
- 5 mil e 500 euros para a valorização dos produtos do mar;
- 12 mil e 500 euros no Olival do Castelo;
- 5 mil euros para o Encontro de Empresárias do Concelho de Sesimbra;
- 127 mil e 500 euros para a limpeza das praias;
- 60 mil euros para criar/conservar as áreas verdes existentes no Concelho;
- 40 mil euros para as obras no Parque da Vila;
- 65 mil euros para iluminar o Parque Augusto Pólvora;
- 1,7 milhões de euros para construir a biblioteca da Quinta do Conde
- …
- 100 euros para a obra da Loja do Cidadão na Quinta do Conde;
- 100 euros para a obra do Parque de Alfarim;
- 100 euros para o espaço da Feira-Festa;
- …
Acontece porém que a Europa poderá estar à beira de uma guerra. E os fundos europeus
parecem começar a destinar-se também para a defesa da Europa e dos países europeus. O
que significará que os fundos europeus para outras matérias serão menores, perante o
investimento que se avizinha (em matéria de segurança e defesa). Acresce que, o
desdobramento das NUTS trará também verbas menores. E, para agravar o cenário, a
Revisão do PDM não tem fim à vista e, consequentemente, os licenciamentos em espaços
urbanizáveis estão suspensos até que entre em vigor a Declaração (que referi AQUI).
Significa que vai existir uma redução na receita. Explicando melhor: os cofres camarários
vão receber menos taxas de licenciamentos e, consequentemente, menos IMI. E perante a
dúvida e instabilidade que esta medida provoca nos investidores, também o IMT poderá
sofrer uma redução.
Ora sem PRR, com menos fundos europeus (de outros programas), com menos receita de
IMI, IMT e de taxas de licenciamentos, como é que será possível assegurar em primeiro
lugar, aquelas que são as obrigações e compromissos assumidos que, grosso modo,
correspondem a 59,6 milhões de euros?
Explicando melhor: a despesa existente, concreta e real, a pagar ano após ano, é de pelo
menos 59,6 milhões de euros. É muita massa. E mais de 36% da receita camarária vem do
IMT, IMI, IUC e Derrama. Se estes valores decrescerem, qual é a estratégia financeira (suportada numa qualquer estratégia de desenvolvimento concelhio que, como
sabemos, estará espelhada nesse “instrumento estratégico de excelência” em Revisão há
18 anos) que será aplicada para que o Concelho de Sesimbra possa investir no seu território, e
não apenas numa gestão do rame-rame, do dia-a-dia, com os trocos contados?
Mas lá está, como não percebo nada de nada de absolutamente nada, e muito menos de
orçamentos e estratégias financeiras, é natural que as dúvidas me invadam. Ainda bem
que existem verbas do PRR para promover investimento, e transferências de competências
na educação, acção social e saúde e, o empréstimo bancário para reabilitar a deprimente
rede viária do Castelo. Caso contrário, este que é o último orçamento deste mandato,
rondaria os 68 milhões de euros.
68 milhões de euros para pagar, logo à cabeça, a despesa real anual: 59,6 milhões de
euros. Sobrariam cerca de 8,4 milhões de euros…
O melhor é não pensar muito nisto.
Afinal não percebo nada de nada de finanças e de rácios e de passivos e de activos e de
endividamento e de…
Que o IMT continue a ser a ‘galinha dos ovos de ouro’, porque a estratégia, se existe, não
se percebe. O que será natural, obviamente.
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