“AS ÁRVORES NÃO, DIGAMOS ASSIM, NÃO GOSTARAM DO SOLO”
As árvores. Serão provavelmente um dos flagelos do Concelho de Sesimbra, identificados nos últimos 5/6 anos, por quem gere o território. Há 16 anos, a caminho de 20 anos, que a gestão da Autarquia está entregue à CDU. Ora a CDU é uma coligação entre o PCP e o PEV. No entanto, nenhum dos elementos (do executivo municipal) eleitos pela CDU é do PEV. Onde anda o PEV de Sesimbra? Haverá alguém do PEV sesimbrense capaz de explicar ao PCP de Sesimbra que as árvores do Concelho não são um flagelo? Que as árvores devem ser tratadas, cuidadas e preservadas? E não, podadas barbaramente, cortadas e abatidas?
As imagens que ilustram este post são do Parque da Vila da Quinta do Conde. O Parque da Vila foi inaugurado no dia da criança em 2008, estando quase a celebrar 15 anos! São cerca de 20 mil metros quadrados, onde dezenas de árvores ornamentais enquadram os caminhos e equipamentos existentes. É o maior espaço verde e de lazer da Quinta do Conde e o segundo maior do Concelho de Sesimbra, continuando a atrair miúdos e graúdos que ali se dirigem para passear, exercitar, descansar.
E que bonitas que já estão as árvores que foram ali plantadas há 15 anos! Umas maiores, outras menores, com ritmos de crescimento diferentes e inerentes a cada uma das espécies escolhidas. Por exemplo, se um Pinheiro é capaz de atingir, em 20 anos, cerca de 50cm de diâmetro no tronco, um Carvalho precisa de 200 anos para se desenvolver completamente. Já nas espécies ornamentais, o conhecido kiri-japonês é de crescimento rápido (pode crescer 6 metros num ano), desenvolvendo uma copa que proporciona belas sombras e, produzindo 3 a 4 vezes mais oxigénio do que qualquer outra árvore.
É claro que, compete aos arquitectos paisagistas escolher as espécies que melhor se adequam aos espaços, considerando factores como a exposição solar, o vento, a precipitação,… No caso do Parque da Vila, direi que as espécies escolhidas servirão o propósito que terá sido definido: enquadrar os caminhos e os limites do próprio Parque, libertando as áreas relvadas para o desenvolvimento de outras actividades.
Vem isto a propósito da reunião de Câmara extraordinária, realizada no passado dia 11 de Abril, que visava aprovar (entre outras) a prestação de contas de 2022 a remeter à AM, onde um dos temas abordados foi o Parque da Vila da Quinta do Conde. Cito parcial e textualmente:
"(...) vamos fazer um projecto novo para o mesmo, com a substituição integral do sistema de rega e a substituição de muitas das árvores que estão lá, porque as árvores não, digamos assim, não gostaram do solo (…)”
O quê? “As árvores não, digamos assim, não gostaram do solo”? Continuemos:
“(…) e portanto estamos neste momento em fase de conclusão de um novo projecto para aquela, para aquela área, onde vamos substituir muitas delas (…)”
Nem sei que diga. Talvez perguntar: então mas não têm mais nada onde gastar dinheiro? Todos sabemos que a CDU nas últimas eleições autárquicas de 2021, perdeu na Quinta do Conde, perdendo inclusive a Junta de Freguesia. Todos sabemos que é a Quinta do Conde que resolve eleições. E todos sabemos também que, a atenção dos políticos e dos partidos políticos, está na Quinta do Conde, na caça aos votos daqueles que podem garantir mais quatro anos de mandato. Mas caramba!, substituir as árvores do Parque da Vila porque “digamos assim, não gostaram do solo”, não lembra a ninguém.
O que as árvores do Parque da Vila precisam é de tempo! De tempo, de água, de fertilizante, de cuidado. Abater uma árvore é a última solução depois de esgotadas todas as outras hipóteses! Mais: a decisão de abater uma árvore é sustentada numa análise fitossanitária que conclua não existir outra solução.
Dizer que “as árvores não, digamos assim, não gostaram do solo”, para além de não ser argumento, é revelador de uma total falta de sensibilidade ambiental. Reafirmo o que já referi em anterior post: de acordo com o mapa de pessoal de 2023 da Câmara Municipal de Sesimbra, a Divisão de Ambiente Urbano não tem um único arquitecto paisagista. E para além disso, não tem um mínimo de sensibilidade ambiental. Zero.
Onde está o relatório que define o estado fitossanitário das árvores que irão ser abatidas? E quem procedeu a essa avaliação que terá fundamentado a decisão? Terá sido um “técnico da Freguesia ou do Município”, um técnico “de laboratório público ou de instituição de ensino superior” ou terá sido uma “empresa habilitada para o efeito”? (conforme referi no post O QUE RAIO ACONTECEU ÀS ÁRVORES EM SANTANA?)
Valha-nos Deus. As árvores com mais de 15 anos, que foram plantadas no Parque da Vila, e porque “digamos assim, não gostaram do solo” irão ser substituídas. “Muitas delas”. Quantas? Quais? Quando? Porquê?
“Estamos neste momento em fase de conclusão de um novo projecto para aquela, para aquela área”. Ai sim? E estão salvaguardados os direitos de autor do anterior projecto? Com toda a certeza que estarão. Desde quando é que a Autarquia altera projectos, desrespeitando os autores dos mesmos? Que cabeça a minha.
Permitam-me a sugestão: com o dinheiro dos nossos impostos, que vão gastar nessa ideia peregrina, plantem árvores, muitas mais árvores, na Quinta do Conde. Comecem desde já a implementar o que se conhece e está definido no PLACC – Arrábida: “Ensombramento das zonas urbanas (estruturas naturais e artificiais) e arborização com árvores de sombra e/ou grande porte” como forma de amenizar os efeitos das ondas de calor e do calor excessivo.
E tratem, fertilizem, reguem as dezenas de árvores existentes no Parque da Vila, mantendo-as sãs e vivas! Abater árvores porque “digamos assim, não gostaram do solo”, não lembra a ninguém. Até porque provavelmente, o problema (se é que existe) estará no solo e não nas árvores. Digo eu, que não percebo nada de nada de árvores, nem de solos, nem de sistemas de rega, nem de fertilizantes, nem de coisa nenhuma.
Sinceramente.
O que terá a Junta de Freguesia da Quinta do Conde a dizer sobre esta iniciativa sustentada na opinião de que “as árvores não, digamos assim, não gostaram do solo”?
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