O QUE RAIO ACONTECEU ÀS ÁRVORES EM SANTANA?
Já se sabe que desde 2017 a Autarquia procede a podas radicais e abates de árvores onde quer e lhe apetece por motivos que ninguém compreende. Até porque, sobre essas podas radicais e abates, não é emitido um qualquer comunicado, não é efectuada uma qualquer explicação, que sustente essas podas e abates. Nomeadamente se as mesmas ocorrem por um qualquer devaneio, com argumentos de bradar aos céus (por fazerem muito lixo e porque depois serão plantadas mais e melhores) ou se esses abates e podas estão sustentados em exames fitossanitários. Nada.
Desta vez, foi em Santana. O que raio aconteceu às árvores em Santana? Alguém se lembra daquele troço de estrada sem as árvores? Quem e porquê decidiu abatê-las? O que sustentou essa decisão? Estavam doentes? Estavam em perigo? Ou a vontade de dar uso às motosserras fala mais alto?
Numa altura em que tanto se fala nas alterações climáticas e que são visíveis em todos os pontos do globo terrestre, Sesimbra continua a manter em segredo o PLAAC e o efeito que as alterações climáticas irão provocar no Concelho. Conforme já referi (LINK) um dos impactos esperados na Freguesia do Castelo serão ondas de calor, nomeadamente em perímetros urbanos e de grande tráfego automóvel. Uma das medidas que visam amenizar esse impacto e garantir um ambiente urbano saudável, arejado e com zonas de ensombramento, será plantar árvores. Plantar árvores!
Há 16 anos, a caminho de 20 anos, que a gestão da Autarquia está entregue à CDU. Ora a CDU é uma coligação entre o PCP e o PEV. Atente-se naquela que foi uma proposta do PEV, na Assembleia da República, em Março de 2021, e que visava definir uma estratégia nacional de protecção e fomento de arvoredo em meio ambiente. Nesse documento, o PEV propunha a elaboração de um manual de boas práticas para evitar “podas radicais”, “abates indiscriminados” e a falta de manutenção de árvores em meios urbanos.
E até descreviam as vantagens do arvoredo em espaço urbano, como sejam “o combate à poluição atmosférica”, a “regulação climática”, o “combate à poluição sonora” e o “combate às alterações climáticas”. Dizia o PEV: “o arvoredo urbano tem um papel bastante relevante no equilíbrio e no restauro ecológico”.
Dizem os entendidos nestas matérias que uma “poda radical” (que basicamente corta todos os ramos deixando apenas o tronco principal - e pouco mais - cujo maior exemplo se verifica desde 2017, no jardim da Vila de Sesimbra), visa a produção de fruta, madeira ou alimento para animais nas áreas de campo e de agricultura (pomares). Dizem também que esta “poda radical” não faz qualquer sentido nas árvores em espaços públicos no meio urbano uma vez que irá contribuir apenas para a desvalorização e redução do tempo de vida da árvore.
As podas a realizar em meio urbano consistem apenas na eliminação total ou parcial dos ramos secos e/ou mal orientados. O que se pretende é que a árvore cresça saudável e que, para além de ornamentar o espaço público contribua simultaneamente para a criação de melhores condições ambientais no espaço urbano.
Onde anda o PEV de Sesimbra? Alguém conhece o PEV de Sesimbra? E eu, desde já, reconheço esta minha falha: não sei onde fica a sede do PEV de Sesimbra nem sei quem são os seus representantes no Concelho de Sesimbra. Aliás, a CDU nos seus eleitos, tem apenas um deputado municipal do PEV. Na Câmara Municipal, nenhum dos eleitos pela CDU é do PEV. Onde anda o PEV de Sesimbra? Nomeadamente aquele PEV que é contra as “podas radicais” e os “abates indiscriminados”?
O que raio aconteceu às árvores em Santana? A fotografia que serve de capa a este post, mostra um dos troncos que ficou na pequena caldeira.
Desde 1998 que o PDM prevê no seu artigo 122º, a elaboração de planos e estudos urbanísticos, sendo que para a zona de Santana estabelece a obrigatoriedade de realizar um Plano de Pormenor. Plano de Pormenor esse que, entre outros, defina as regras relativamente ao perfil viário a adoptar (dimensão da faixa de rodagem, passeios, zonas de descanso e ensombramento, plantação de árvores, lugares de estacionamento, locais de cargas e descargas, paragem de transportes públicos,…). Até hoje, nada. Nem uma ideia sequer se conhece para o caos de Santana.
Santana é porventura o lugar mais poluído e caótico da Freguesia do Castelo. A ideia não será o de abater as poucas árvores que existem. A ideia deverá ser a de elaborar e implementar uma estrutura verde arbórea, que enquadre as zonas pedonais, absorva o dióxido de carbono e proporcione zonas de ensombramento e descanso.
De acordo com o Mapa de Pessoal de 2023 da Câmara Municipal de Sesimbra, a Divisão de Ambiente Urbano não tem um único arquitecto paisagista. E para além disso, não tem um mínimo de sensibilidade ambiental. Zero.
Transcrevo um exemplo do muito que já existe espalhado pelo país, em matéria de regulamentação sobre o abate de árvores em meio urbano. Diz o Regulamento Municipal do Arvoredo de Lisboa: “A Autarquia pode proceder ao abate urgente de árvores que representem um risco para pessoas e bens, considerando o seu estado de conservação fitossanitária, devidamente avaliado por técnico da Freguesia ou do Município, de laboratório público ou de instituição de ensino superior ou de empresa habilitada para o efeito.”
No caso de Santana, onde está o relatório que define o estado fitossanitário das árvores abatidas? E quem procedeu a essa avaliação que terá fundamentado a decisão? Terá sido um “técnico da Freguesia ou do Município”, um técnico “de laboratório público ou de instituição de ensino superior” ou terá sido uma “empresa habilitada para o efeito”? E para onde foram as árvores abatidas?
E se por um acaso a Autarquia dispõe de "técnico da Freguesia ou do Município, de laboratório público ou de instituição de ensino superior ou de empresa habilitada para o efeito" que, considerando o "estado de conservação fitossanitária" de determinada árvore, conclui pelo seu abate, publicite!
Façam como os cortes de água: emitam um comunicado, explicando que no dia "x" será efectuado o abate da árvore "y", localizada no espaço público "z" com base no respectivo "estado de conservação fitossanitária, devidamente avaliado por "xpto", transcrevendo o teor do mesmo.
Porque o espaço público não é pertença de sete eleitos que decidem em silêncio e por unanimidade o que fazer, aprovar e viabilizar. O espaço público é pertença de todos nós. O mínimo que devemos exigir dos sete eleitos é informação fundamentada sobre determinada acção que pretendem realizar, em espaço público, nomeadamente, sobre a ideia de abater árvores com dezenas de décadas e marcantes no espaço urbano.
Caramba! Para abate de árvores já chega o que chega! Já chega o abate efectuado no Parque Augusto Pólvora para construir uma zona de estacionamento (e uma enorme fonte de calor), sem uma única árvore! Abatam mas é as árvores todas! Quem é que se lembra de fazer um parque de lazer e desportivo numa zona verde, fresca e apetecível. Só gente doida! Arrasem com tudo! E já que no Parque Augusto Pólvora cabe tudo: um Auditório, o edifício dos serviços camarários, uma central solar fotovoltaica; arranjem lá um cantinho para vender a lenha cortada e uma concessão para exploração de uma loja de motosserras! Valha-nos Deus.
Que política ambiental é esta? Uma política ambiental sustentada em motosserras?
Que política ambiental é esta que valoriza mais as motosserras do que as poucas árvores que existindo ao longo de vias públicas, vão morrendo de pé, com a força de uma lâmina afiada?
Espero que as árvores que ainda resistem a esta febre de podas e cortes mereçam, tal como defende o PEV, não uma “poda radical” nem um “abate indiscriminado” mas sim e apenas, uma manutenção cuidada. A ideia não é abater. A ideia é tratar e manter.
E já agora, no lugar das que foram cortadas, plantem outras. Melhores e mais bonitas, como costumam apregoar aos sete ventos! Mas ainda neste mandato e claro, aprovado por unanimidade!
Comentários
Enviar um comentário