AUGUSTO PÓLVORA, POLÍTICO

Em 2017, e depois da inauguração do Parque Augusto Pólvora, o novo executivo municipal anunciava que, nas três freguesias do Concelho de Sesimbra iria ser atribuído a um espaço público, o topónimo Augusto Pólvora (espaço público esse que poderia ser um jardim, uma praça, uma rua). Em 2021, na última reunião de Câmara do mandato que agora termina, foi deliberado unanimemente, atribuir o topónimo Avenida Augusto Pólvora à Avenida Casal do Sapo, na Freguesia da Quinta do Conde. E, a poucos dias da tomada de posse do novo executivo, a placa toponímica foi colocada e inaugurada, ostentando a seguinte inscrição: "Avenida Augusto Pólvora - Político - 1959-2017." 

Para mim, qualquer espaço público do Concelho de Sesimbra é digno para receber uma placa toponímica ostentando o nome de uma personalidade marcante. Mas caramba, a Avenida do Casal do Sapo?, que atravessa um conjunto de AUGI que permanecem até hoje, sem uma solução final e que terá sido porventura um dos locais do Concelho onde, os três mandatos do Presidente Augusto Pólvora não conseguiram intervir de forma conclusiva e definitiva? Com toda a certeza que existirá uma justificação que sustente a escolha daquela Avenida em particular e não de outra qualquer. 

No entanto, e na minha opinião (que é apenas disso que se trata), atribuir o topónimo de uma personalidade inimitável e inigualável, de um líder que tanto contribuiu para o desenvolvimento do Concelho de Sesimbra e das três freguesias que o compõem, deveria ter sido ponderado e definido como uma decisão unânime e consensual (bastará ouvir e ver as imagens da reunião de Câmara de 22.Setembro.2021 para se ficar a saber que a ideia partiu da Junta de Freguesia da Quinta do Conde, sem que a Câmara tivesse sido ouvida ou envolvida no processo; mais, a Junta de Freguesia da Quinta do Conde terá consultado os seus fregueses e, ao que parece, a solução reuniu consensos entre os quinta-condenses; mais, o executivo camarário não concorda com a atribuição do topónimo a esta rua especifica mas, por unanimidade, deliberou favoravelmente, respeitando a decisão da Junta de Freguesia da Quinta do Conde). 

Era interessante saber-se publicamente, por parte da Junta de Freguesia da Quinta do Conde, as razões que sustentaram a escolha deste arruamento e não de outro. E até me atrevo a questionar: 

Tendo a Freguesia da Quinta do Conde sido um dos locais onde o arquitecto Augusto Pólvora desenvolveu a sua actividade enquanto técnico da Autarquia, desenvolvendo (entre outros) o Plano de Urbanização da Quinta do Conde, definido a Avenida Principal (numa solução inovadora para a época, já que seria porventura a maior Avenida do Concelho de Sesimbra, com passeios arborizados, faixas de bicicletas e estacionamentos), porque é que não foi esta a Avenida, na Freguesia da Quinta do Conde, a receber o topónimo Avenida Augusto Pólvora? Tratando-se da Avenida Principal da Quinta do Conde, porque não atribuir-lhe o nome de quem foi um dos actores principais (senão o principal) no planeamento, desenvolvimento e legalização da Freguesia da Quinta do Conde?

Volto a dizer que para mim, qualquer espaço público do Concelho de Sesimbra é digno para receber uma placa toponímica ostentando o nome de uma personalidade marcante. No entanto, não concordando com esta escolha específica, concordo ainda menos com o que foi inscrito na placa toponímica. Identificar Augusto Pólvora como "político", é esvaziar a grandeza da sua personalidade. Identificar Augusto Pólvora como "político", é reduzir a sua essência enquanto sesimbrense apaixonado pela sua terra. Identificar Augusto Pólvora como "político", é esquecer a grandeza de um homem de sonhos, de projectos, de ambições, de consensos, de opiniões, de conhecimento. Identificar Augusto Pólvora como "político", é esvaziar a sua memória, numa palavra vazia e desprovida de singularismo.  

Existem três ruas no Concelho de Sesimbra (na Freguesia de Santiago) que ostentam o nome de três Presidentes de Câmara. Duas dessas placas (fotografadas) ilustram o presente post. No entanto, uma das ruas, tendo o topónimo com o nome de um Presidente de Câmara não tem placa toponímica. Ou seja, a placa não existe fisicamente. Refiro-me à Rua Dr. António da Costa Marques. Pelo que se desconhece que tipo de inscrição a mesma teria, teve ou terá.

Foquemo-nos na Rua Augusto Covas. Entre os vários cargos que desempenhou durante a sua vida, foi Presidente interino da Câmara de Sesimbra durante o período conturbado que se viveu entre 1974 e 1976. E talvez pela dificuldade de encontrar as palavras certas para descrever Augusto Covas, no sentido de não o reduzir enquanto personalidade marcante, a inscrição escolhida é até, de certa maneira, poética: “Militante da Liberdade”. Direi que Augusto Covas teria ficado orgulhoso com o epíteto que recebeu por parte dos seus conterrâneos: “Militante da Liberdade”, como lema descritivo para um homem que entre as muitas funções que desempenhou, terá mantido sempre a visão e a vontade de viver em liberdade. 

Sobre a Rua Dr. Peixoto Correia, não restam quaisquer dúvidas. A inscrição é clara: Presidente da Câmara Municipal – 1905-1910. E também neste caso, a presidência desenvolveu-se num período conturbado da nação, com a morte do rei D. Carlos e o movimento republicano no seu auge, culminando com a implantação da República a 5 de Outubro de 1910.

"Avenida Augusto Pólvora, Político". Imaginem que por aquela Avenida irão passar pessoas que não fazem a mais pequena ideia de quem foi Augusto Pólvora. Perguntarão: Político?, em que área? Onde é que exerceu a actividade política? Enquanto político, o que fez de relevante para merecer um nome de Avenida? (estas perguntas serão para todos nós, aos dias de hoje, completamente descabidas mas, alguém saberia, olhando apenas para a placa que ostenta o nome da rua, que Peixoto Correia foi Presidente da Câmara Municipal entre 1905 e 1910 se porventura esta informação não estivesse lá grafada?) 

A maneira mais simples, óbvia e clara de definir um epíteto seria a de consagrar as funções que Augusto Pólvora exerceu durante 12 anos da sua vida: Presidente da Câmara Municipal – 2005-2017.

Mas a verdade é que Augusto Pólvora não foi só Presidente da Câmara Municipal. Foi arquitecto, autodidacta em diferentes matérias, promotor do desenvolvimento e planeamento da sua terra, visionário, preocupado e interessado na resolução e definição de consensos. Foi um líder, apaixonado pela vida, pela sua terra, pelo seu trabalho. Político? Também terá sido.

Tal como Augusto Covas, talvez tenha sido a dificuldade em encontrar as palavras certas para descrever Augusto Pólvora que o reduziu, enquanto personalidade marcante, à inscrição de “Político”. Sou completamente contra esta descrição. Por tudo o que acima explanei e referi no post PRESIDENTE AUGUSTO PÓLVORA

Para mim, a inscrição constante na placa toponímica deveria ter sido clara e objectiva:

Avenida Arqtº. Augusto Pólvora - Presidente da Câmara Municipal - 2005-2017. 

Termino com uma sugestão. Se ainda estiver na mente do executivo municipal a atribuição de um topónimo com o nome Augusto Pólvora na Freguesia de Santiago, considero que o mesmo seria de atribuir à Rua da Fortaleza. A Rua da Fortaleza é o elo de ligação entre a vila a nascente e a vila a poente. Augusto Pólvora também simboliza a ligação, a união entre Sesimbra e os sesimbrenses. 



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