RECRIAÇÃO HISTÓRICA DA FESTA – CABO ESPICHEL – SESIMBRA
Na sequência dos post’s anteriores sobre o Santuário da Nossa Senhora do Cabo Espichel, lembrei-me de que, há cerca de três anos, apresentei umas ideias para a revitalização da festa em honra da Nossa Senhora do Cabo Espichel. Hoje, decidi partilhar essas ideias com todos, desenvolvendo um pouco daquilo que foram apenas ideias telegráficas.
A ideia base seria a de recriar a visita da Família Real ao Santuário, tendo em vista a participação nos festejos em honra da Nossa Senhora do Cabo Espichel. Existem vários relatos sobre estas festas que contaram com a presença da família real:
- D. José I, cuja comitiva para além de integrar toda a família real, contava com a presença de vários elementos da alta nobreza, sendo que o juiz da festa foi o Príncipe D. José (neto do Rei e filho da futura Rainha D. Maria I).
- D. Maria I, cuja comitiva integrava toda a corte, sendo que foi juiz da festa o Infante D. João, futuro Rei D. João VI.
É sabido que para além do culto religioso que a todos unia, a corte entretinha-se nos espectáculos da Casa da Ópera e o povo, juntava-se em festas populares. Há por isso quanto a mim, para além da procissão de Domingo, duas recriações simbólicas que poderiam vir a ser realizadas.
A primeira seria na sexta-feira, ao cair da tarde, com a chegada dos peregrinos ao recinto. Trajados à época. Com círios e bandeiras. No primeiro Cruzeiro, são recebidos por música de Gaita-de-foles que os acompanha até ao segundo Cruzeiro. Aqui, a peregrinação é efectuada apenas a pé e em silêncio (como antigamente), até à entrada no terreiro do Santuário. Visitam a Igreja, onde colocam os círios e as bandeiras. Depois, dirigem-se aos tanques de água existentes (que nesses dias passam a ter água), lavam as mãos e o rosto, (como antigamente), porque naqueles dias “a água é milagrosa”. Acomodam-se no recinto da Casa da Água, onde são fornecidas refeições (recriando a tradição do peixe-seco, arroz de polvo, caldeirada,…). No fim da noite, baile popular.
A segunda recriação simbólica seria no Sábado, também ao cair da tarde, com a chegada da comitiva real. Trajados à época. Cavalos, cuspidores de fogo, bobos, pajens, anjos, tochas, trombetas, carruagens engalanadas,… São recebidos no recinto pelo Grupo de Cantares e Gaita-de-foles, com temas alusivos à época e às festividades. O Mordomo Real anuncia a chegada do Rei. Nesta comitiva vem D. José I, a rainha Dona Mariana Vitória, a princesa herdeira do trono e futura rainha Dona Maria I, o Marquês de Pombal,… Cumprimentos à população e acomodação da comitiva na tenda real. O Rei declara aberto o bodo, onde todos podem participar (no século XVIII, D. José I terá oferecido 16 bois para serem assados e partilhados entre todos). A ideia seria a de assar no espeto, novilhos. No final da noite, espectáculo alusivo à Casa da Ópera, seguido de espectáculo de luz e som associado à tecnologia, criando um mundo virtual com projecção de imagens nas alas das hospedarias.
No Domingo, depois da Procissão, retirada da comitiva real com o Grupo de Cantares e Gaita-de-foles, numa música de despedida, criada para esse momento. A noite avançaria com a actuação de uma banda actual, seguido de espectáculo pirotécnico.
Paralelamente:
- Na Casa da Água: exposição com fotografias e/ou projecção de imagens antigas que retratem as festividades.
- Nas escadarias da Casa da Água: artesanato de Sesimbra.
- No espaço das hortas da Casa da Água: tendas organizadas, marginais a uma zona de mesas e cadeiras, onde serão confeccionadas e servidas refeições para todos os comensais que participem ou visitem as festas (nomeadamente a refeição de sexta-feira e o bodo de sábado).
- Nas arcadas das hospedarias: adegas da região, pão-queijos-bolos-mel. E uma tradição antiga, vender legumes e fruta do concelho. No domingo e durante a Procissão, fotografias gigantes de festejos antigos, uma em cada arcada (tapando os espaços ocupados pelas adegas da região, pão-queijos-bolos-mel, legumes e fruta do concelho).
Algumas notas sobre a organização do espaço, para que seja mantido o eixo visual que liga a Igreja ao Cruzeiro e Casa da Água, garantindo que todo o conjunto arquitectónico faz parte das celebrações:
- Palco para os espectáculos: a sul/nascente da ruína localizada a nascente da ala sul das hospedarias.
- Tenda para receber a comitiva real: a sul, à frente da ruína localizada a nascente da ala sul das hospedarias.
É o Santuário no seu todo, que origina a festa. É ele a razão da sua existência. E por isso, termino com as palavras do Padre Sezinando, que mencionei no SANTUÁRIO DA NOSSA SENHORA DO CABO ESPICHEL: «os santuários são lugares de cultura. Em muitos casos são já em si mesmos um bem cultural. Não descurando o que lhes é específico, de modo a que a dimensão cultural não se sobreponha à cultual».
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