ANA DE CASTRO OSÓRIO

Não sei quando e como cheguei ao nome Ana de Castro Osório. Sei que, quando li “As Mulheres Portuguesas”, publicado em 1905, em pleno clima de instabilidade perante o movimento republicano e o fim da monarquia, pensei: que coragem! Numa altura em que a mulher era um ser inócuo, sem pensamento, sem opinião, sem vontade, dependente do marido para tudo e mais alguma coisa, Ana de Castro Osório adere ao movimento republicano para, em primeiro lugar, defender o direito das mulheres e a igualdade de género. Em 1905.

Transcrevo aqui apenas duas passagens de “As Mulheres Portuguesas”, que me parecem ainda tão actuais que poderiam ter sido escritas nos dias que correm. A primeira, relativa à posição dos pais face às filhas mulheres:
Ser feminista é o dever de todos os pais. Porque ser feminista não é querer as mulheres umas insexuais, umas masculinas de caricatura, como alguns cuidam; mas sim desejá-las criaturas de inteligência e de razão, educadas útil e praticamente de modo a verem-se ao abrigo de qualquer dependência, sempre amarfanhante para a dignidade humana.”

A segunda, relativa à igualdade de género:
Começa a mulher entre nós — o ultimo país da Europa que tal faz! — a ser utilizada no comércio, para que tem já provadas e apreciáveis aptidões, mas não deve consentir que a utilizem por exploração, para lhe pagarem inferiormente um trabalho igual ao dos homens. Por igual trabalho, igual paga – tal deve ser o princípio fundamental do labor feminino.”

Ana de Castro Osório nasceu a 18 de Junho de 1872. Viveu em Setúbal. E foi em Setúbal que começou a publicar alguns artigos e crónicas jornalísticas. E também a escrever a colecção “Para as Crianças”, fazendo-a merecedora do título de ‘mãe’ da literatura infantil em Portugal. 

Escritora, jornalista, feminista e activista republicana. Fundou em 1909 a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, com duas médicas: Adelaide Cabete e, Carolina Beatriz Ângelo (a primeira mulher portuguesa a exercer o direito de votar, depois de um parecer favorável do magistrado João Baptista de Castro, pai de Ana de Castro Osório). Criou, em 1914, a Comissão Feminina Pela Pátria, uma instituição que reunia mulheres para auxiliar os soldados mobilizados para a 1ª guerra mundial, nomeadamente as suas famílias.

Lembrei-me da Sesimbrense Olinda da Conceição que, pertencendo à Associação de Classe das Operárias Conserveiras e Costureiras de Sesimbra, foi figura principal na criação da Federação Socialista do Sexo Feminino em 1897, defendendo e lutando pelas causas femininas.

Terá conhecido Ana de Castro Osório? Quem terá inspirado quem?, nesta luta pela igualdade de direitos? Provavelmente, nunca saberemos. 

Termino com mais um excerto de “As Mulheres Portuguesas”:
 “Julgaram os homens por acaso – tamanha será a sua ingenuidade?! – que podiam em vão dispor de metade da humanidade, reduzi-la ao papel farfalhudo de deusa do lar, nuvem, anjo, demónio, e todas quantas mais banalidades se têm dito e escrito há séculos, e dizer-lhe: fica aí! O teu destino é agradar-me ou servir-me, conforme o meu capricho de senhor!?

Reduzir em metade a humanidade. Palavras de 1905. 

E ainda continuamos neste marasmo, à espera de leis de paridade, quotas, igualdade salarial, igualdade de direitos… NÃO GOSTO DO DIA DA MULHER




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