ARTE NA RUA - SESIMBRA
Diz o dicionário de língua portuguesa que “arte” é o conjunto de regras para bem dizer ou fazer qualquer coisa. E divide a definição em três conceitos: as “artes liberais”, as “artes mecânicas” e as “belas artes”. Sobre as “artes liberais” diz serem as que dependem da inteligência. Sobre as “artes mecânicas” diz serem as que dependem do trabalho manual. As “belas artes” são a arquitectura, a escultura, a pintura, a música e a poesia.
Foquemo-nos então nas “belas artes” e na definição completa: As que, por meio do desenho, da pintura, da gravação, da escultura, da música e da eloquência, excitam no nosso ânimo as sensações e ideias que excitariam os próprios objectos, se presentes fossem. (uma definição, no mínimo, artística) 😊
Serão as “belas artes” as produtoras de “obras de arte”. Sejam poemas, peças musicais, obras de arquitectura, escultura ou pintura.
E agora socorrendo-me da Enciclopédia, transcrevo alguns princípios que me parecem importantes: o primeiro diz-nos que a obra de arte supõe uma ideia no artista. Em segundo lugar, a concretização dessa ideia pelo artista. E em terceiro lugar, a existência de contempladores da obra de arte capazes de receberem a ideia do artista. Ou seja, a obra de arte é um intermediário entre o artista e o espectador, sendo que a qualidade artística duma obra é independente da categoria a que pertence. E dá o exemplo: uma canção de revista pode ser boa no seu género e, uma elaboradíssima sinfonia pode, no seu, ser péssima.
E alerta para o facto de os homens não serem igualmente dotados para apreciar todas as ideias de beleza, ou sensíveis a todas as formas de expressão. Ninguém é tão universalmente dotado. Assim, nenhum artista se dirige a toda a humanidade nem pode ser apreciado por toda ela.
Complementarmente, cada um tem o seu gosto. O seu conceito de beleza. O que faz com que não gostemos das mesmas coisas. Que monotonia se assim fosse. Há quem não goste de Paula Rego. Há quem goste da escultura de João Cutileiro ali no topo do Parque Eduardo VII.
Vem isto a propósito das intervenções plásticas que ocorrem um pouco por todo o mundo, e que começam a invadir as ruas, portas e largos da vila de Sesimbra.
Entendo estas intervenções como mais-valias que visam dignificar determinados espaços urbanos no sentido de os devolverem ao ambiente da vila, da rua, do largo, anulando paredes cegas, muros velhos, portas estragadas e edifícios devolutos. Por isso, são admiráveis e valiosas, por serem pontuais e balizadas temporalmente. Relembrando o início deste post, não estão em causa as “obras de arte” que adornam por agora, alguns espaços emblemáticos da vila de Sesimbra.
O que está em causa é a falta de bom-senso na escolha dos locais onde as mesmas seriam executadas. Com tantas paredes, tantos muros, tantas portas, tantos espaços a precisarem de intervenção.
Não entendo como é que ocupam paredes e largos, de espaços que fazem parte da identidade da vila, mudando-lhes a imagem e descaracterizando o ambiente urbano. Não entendo como é que edifícios que são patrimoniais e que representam o poder local, são invadidos por este tipo de intervenções.
Não faltará muito para vermos os muros da Capela do Espírito Santo dos Mareantes invadido por cores e peixes e frases. E a própria Fortaleza, com aquelas paredes tão brancas ali à disposição. E as portas todas dos edifícios que envolvem o largo do Município. E os muros do Auditório Conde Ferreira. E aquela empena do cinema. E os muros todos do Largo do Grémio. E os muros do cemitério…
Espero que seja perceptível para todos que estou a ironizar.
A verdade é que, a responsabilidade não é do artista.
A responsabilidade é de quem escolheu os locais para as intervenções. Mas a responsabilidade maior é de quem as aprovou.
Mas como vivemos numa vila democrática (que elegeu os órgãos do poder local democraticamente) quem manda, manda. E mais nada! 😊
Por isso, aguentemos!😊 Resta-nos, por aqui e por ali, manifestarmos a nossa indignação.
PS: não posso deixar de remeter para o post PATRIMÓNIO CULTURAL - SESIMBRA
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