O VENCEDOR É, SIMULTANEAMENTE (E PELA SEGUNDA VEZ), O GRANDE DERROTADO
Agora que a poeira assentou, que a desilusão e a frustração ficaram atenuadas, que o alívio se transformou em responsabilidade, que os partidos fizeram as suas reuniões para analisar o sucedido e que todos parecem, agora sim, conscientes do futuro, decido partilhar algumas ideias sobre a matéria.
Pois é. Pela segunda vez, o vencedor é simultaneamente, o grande derrotado. Mas antes de abordar a derrota, direi que são três os grandes vencedores da noite eleitoral sesimbrense. Em primeiro lugar, o povo, o povo que exerceu o seu maior direito: votar. Neste século, é preciso recuar a 2001 para afirmar que, pela segunda vez, mais de 52% dos eleitores sesimbrenses votaram. Com um dado muito importante: em 2001, os votantes foram perto de 16 mil. Neste ano de 2025, foram votar mais de 24 mil cidadãos. Em 2021, votaram pouco mais de 19 mil cidadãos. Significa que a democracia está viva e que a população cada vez mais se interessa pelos destinos do Concelho. Estes mais de 24 mil cidadãos comuns, mostraram no passado domingo, que valem e muito!
O segundo vencedor da noite é sem dúvida a coligação PSD/CDS. É o terceiro melhor resultado de sempre, da coligação PSD/CDS. Voltam a eleger um vereador, elegem três deputados municipais, regressam à Junta de Freguesia de Santiago, duplicam os eleitos na Junta de Freguesia do Castelo e, triplicam na Junta de Freguesia da Quinta do Conde. A coligação PSD/CDS assume-se, digo eu, como uma espécie de “fiel da balança” nomeadamente na Câmara e na Assembleia Municipal. Explicando melhor: se nenhum dos eleitos pela CDU e pelo PS alinhar com o sentido de voto dos eleitos pelo Chega, será a coligação PSD/CDS a definir o que é, ou não, aprovado, autorizado e viabilizado (a menos que CDU e PS estejam sempre em sintonia, replicando o mandato que agora termina e do qual ninguém terá saudades).
O terceiro vencedor é o Chega. Elegem dois vereadores (perdem a presidência da Autarquia por apenas 147 votos), ganham na Assembleia Municipal (em número de votos), ganham a Junta de Freguesia da Quinta do Conde e elegem pela primeira vez, para as Juntas de Freguesia de Santiago e do Castelo. Direi que o Chega será um verdadeiro “calcanhar de Aquiles”. Só o futuro dirá como se apresentarão nestas novas funções os eleitos pelo Chega (sabendo-se que em campanha eleitoral, todos afirmaram convictamente que não chegariam a acordos e/ou coligações com o Chega; sabendo-se igualmente que, depois destes resultados, provavelmente a convicção de muitos, já não estará tão convicta).
E o que dizer do PS? O PS tinha, conforme fui afirmando por várias vezes, uma missão muito difícil e até, ingrata: conseguir provar ao eleitorado sesimbrense que agora é que era! (depois de ter prometido em 2021 “Sesimbra vai mudar”). Teria de conseguir descolar do inquestionável e evidente “Partido da Câmara” e trilhar um novo rumo. Teria de provar ao eleitorado que o PS não era a CDU.
Pois bem: o PS elegeu dois vereadores e seis deputados municipais (apesar de ter tido o maior número de votos, desde 2001). Ou seja, perdeu um vereador e um deputado municipal. Perdeu a Junta de Freguesia da Quinta do Conde e perdeu um eleito em cada uma das Juntas de Freguesia de Santiago e do Castelo.
O que se espera agora, deste PS renovado? Que não entre numa “gestão participada” que no fim de mandato se transforma afinal numa “gestão partilhada”. Que não defraude o eleitorado que lhe confiou mais de 6 mil votos. Que e se, aceitar algum pelouro, não fique condicionado sobre nenhum tipo de matéria. Que recuse e repudie qualquer tipo de silêncios e falta de transparência nas decisões tomadas. Que não participe em reuniões deliberativas à porta fechada. Que, a cada reunião, a cada assembleia, promova o debate e o esclarecimento dos cidadãos. Que não embarque em reuniões preparatórias que visam apenas e só o silenciamento e os monólogos “quem vota contra quem se abstém aprovado por unanimidade”. Que tome como exemplo, os vereadores eleitos pelo PS em 2017 que, sem pelouros, sem tempos e sem meios-tempos, não permaneceram mudos e quedos nas reuniões em que participaram, promovendo o debate e o esclarecimento público. E mais importante: que não esqueça o Meco, a Mata de Sesimbra, a Revisão do PDM e as desastrosas obras na Marginal de Sesimbra. Sesimbra merece mais, muito mais.
A CDU teve o pior resultado de sempre. E se em 2017 foi a pior circunstância possível (a morte do Presidente Augusto Pólvora) a levar ao colo o candidato e a vitória da CDU, em 2021, valeu a popularidade das Presidentes das Juntas de Freguesia de Santiago e do Castelo. Popularidade que foi perdendo gás e que, apesar da Presidente da Junta de Freguesia do Castelo ter surgido como terceira candidata à Câmara Municipal, e da Presidente da Junta de Freguesia de Santiago se recandidatar, não seguraram uma vitória confortável nem evitaram a perda de um vereador na Câmara, a perda de dois deputados municipais, a perda de maioria nas Juntas de Freguesia de Santiago e do Castelo e, a perda de metade dos eleitos na Junta de Freguesia da Quinta do Conde. Foi uma vitória amarga que se sagra como a maior derrota de sempre da CDU.
Como referi inicialmente, esperei pela reacção dos partidos a estes resultados autárquicos. Nomeadamente, as conclusões do Comité Central do PCP. As populações podem contar com (e destaco apenas três pontos):
- “O respeito dos eleitos da CDU pelos compromissos assumidos.” (No programa eleitoral ou em campanha? É que são coisas bem diferentes. Apelo por isso a que, quem não leu, leia o programa eleitoral da CDU. E a quem não viu, veja os vídeos produzidos, nomeadamente nas vésperas das eleições)
- “Um projecto autárquico distintivo de participação e proximidade.” (Com o fim das reuniões deliberativas à porta fechada e com o fim da tomada de decisões dentro de quatro paredes, em segredo, que impactam sobre o território e a população?)
- “A defesa do Poder Local democrático.” (Nesse poder local democrático que respeita o povo, envolvendo-o nas decisões e promovendo a transparência e partilha de informação válida, esclarecedora e fidedigna?)
- “Combate à política de direita seja ela protagonizada por quem for.” (Estão assim anuladas as coligações e acordos, não apenas com o Chega mas também com o PSD/CDS?)
- “Confronto com os interesses do grande capital.” (Na Mata de Sesimbra e no Meco?)
- “Confronto com as imposições da União Europeia.” (Excepto nos apoios financeiros europeus, que permitem à CDU realizar investimento público e depois, reclamá-lo como seu?)
Na Assembleia Municipal, o vencedor, em número de votos, foi o Chega. Segue-se agora a eleição da respectiva mesa, nomeadamente daquele que será o próximo Presidente da Assembleia Municipal. Até consigo adivinhar o que vai acontecer. Mas prefiro defender uma simples ideia: aquela assunção decorrente dos últimos mandatos de que, os deputados municipais garantiam a aprovação do que quer que fosse proposto pelo executivo municipal, desvirtuando a própria Assembleia Municipal e a importância da sua existência, deverá ser completamente anulada. Dizendo de outra maneira: o Presidente da Assembleia Municipal (e uma vez que ninguém venceu com maioria) deverá ser de outra força politica que não aquela que venceu a Câmara Municipal. Explicando melhor: se as forças políticas dos dois órgãos autárquicos forem diferentes, está assegurado o efectivo escrutínio, por parte da Assembleia Municipal, ao executivo camarário.
Confesso (aqui que ninguém nos ouve) que, de certa maneira, fico feliz com o facto de ser a CDU a presidir por mais quatro anos a Câmara Municipal. Porquê? Porque foi a visão e a estratégia (existiu?) da CDU, com estes mesmos candidatos eleitos (são os mesmos na Câmara e, na Assembleia Municipal, existe apenas uma nova eleita) que nos trouxeram até aqui: com uma Revisão de PDM que dura há mais de 18 anos; com um sem número de camas aprovadas e/ou viabilizadas no Meco; com a Mata de Sesimbra e a caducidade do loteamento; com a desastrosa intervenção na Marginal de Sesimbra; com os milhões que serão necessários para concluir a escola Navegador Rodrigues Soromenho; com a operação “Efimóveis”; com a rede viária miserável que foi, em cima da hora, atamancada com empréstimos bancários; com o caldinho que se prevê venha a ser a obra do Tribunal; com a separação da tarifa do lixo da factura da água e, consequentemente, o agravamento da respectiva taxa; com os custos que se tornarão milionários para depositar lixo em aterro; com as candidaturas (ou falta delas) ao Portugal 2030; com o fim do PRR; com o derrapar das diferentes obras que decorrem na Quinta do Conde; com o estado ambiental da Lagoa de Albufeira; com a Reserva da Biosfera; com as promessas do programa eleitoral e da campanha eleitoral; com tudo o que se avizinha; com a enorme quantidade de projectos que estarão concluídos e prontos a executar (conforme foi sucessivamente afirmado em campanha eleitoral); que sejam os mesmos a gerir tão valiosa e enorme herança.
Reafirmo o que escrevi em 2021: espero que todos os eleitos e reeleitos se empenhem por Sesimbra e pelos sesimbrenses, sendo que desejo a todos as melhores felicidades no desempenho das funções que lhes foram atribuídas pelo povo votante. Quanto aos candidatos não reeleitos, e conforme referi em anterior post, irão reintegrar o povo. E, como sabem, voltarão a ser apenas cidadãos comuns, cuja opinião “vale o que vale”. Sobre os candidatos não eleitos, apenas um pedido: continuem a defender as vossas ideias, as vossas convicções, participando activamente na vida pública e contribuindo inequivocamente para o enriquecimento da democracia.
Termino com um agradecimento público a todos os partidos e candidatos (eleitos e não eleitos) que, 48 horas depois das eleições autárquicas, partilharam nas redes sociais, com alegria e empenho, as acções de retirada da propaganda eleitoral do espaço púbico do Concelho. Obrigada. Espero que os restantes partidos e candidatos (eleitos e não eleitos) aproveitem também esta onda de limpeza inédita, e retirem igualmente a propaganda que colocaram no espaço público que é de todos.
(FONTE DA IMAGEM: resultado da pesquisa efectuada no Google, sobre os números 147)
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