Israel atacou o Irão. O Irão retaliou. A faixa de Gaza deixou de ser notícia. A Ucrânia passou para segundo plano. E a Rússia também. Numa atitude inesperada, Moscovo ofereceu-se para mediar diplomaticamente uma reunião entre Israel e o Irão porque, aquele conflito tem de terminar. Trump afirma que apoia Israel. Mas, sobre a guerra desencadeada pela Rússia sobre a Ucrânia afirma que, por vezes, é preciso deixar que lutem entre eles para depois poderem chegar a um acordo. Que mundo é este que nos invade diariamente, com imagens que estariam reservadas apenas para as histórias fictícias produzidas pela sétima arte?
Em Portugal, assistimos ao 10 de Junho. E depois do que foi dito por Lídia Jorge; depois do que aconteceu em Lisboa, junto ao monumento aos combatentes; depois de um actor ter sido agredido quando ia interpretar Camões; que país é este que nos mostra um povo que não sabe ou não quer saber, quem somos, o que fomos e o que devemos ser?
No último poema da "Mensagem", diz Fernando Pessoa:
"Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
(...)
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem."
Que bom seria se todos os portugueses, inclusive aqueles que se afirmam "puros", lembrando o dia da raça instituído pelo estado novo, lessem e percebessem o que pudessem ler. Desde logo, a história portuguesa desde a sua génese.
Estes novos moralismos que tudo podem e tudo querem, impondo nos outros uma nova verdade, definindo conceitos há muito ultrapassados, com discursos distorcidos e desarticulados, que promovem a discórdia, a ignorância, a estupidez, o ódio inexplicável perante o que desconhecem, está a minar a humanidade. Nada será como dantes. O mundo parece distante das suas raízes, das suas pessoas, das suas culturas, dos seus credos, das suas línguas, das suas raças, que faziam do planeta Terra a casa da humanidade: uma aldeia global, capaz de albergar, aceitar e respeitar todos e cada um.
O ser humano, dotado de inteligência, parece estar cansado da capacidade que tem para raciocinar, pensar, ler, adquirir conhecimento, formular opiniões. Parece estar cansado de ser, correndo apenas atrás daqueles que surgem como falsos profetas, com conhecimentos básicos descontextualizados, que lhes vende a "banha da cobra", com um único objetivo: conseguir alcançar uma qualquer cadeira dourada que lhes dê poder, fama e uns milhares de likes nas redes sociais.
Que diria Fernando Pessoa nos dias de hoje, passados que estão 90 anos sobre a publicação da "Mensagem"?
E Camões? Quão actuais são muitas das estrofes dos Lusíadas:
"(...) Vê, enfim, que ninguém ama o que deve,
Senão o que somente mal deseja; (...)"
"Liberté, égalité, fraternité". São estes os valores maiores dos estados democráticos. São estes os alicerces da condição humana e da sua relação com os outros. É por eles e com eles que a humanidade deve lutar.
Entretanto o primeiro-ministro e os seus ministros tomaram posse e apresentaram o respectivo programa de governo. A esquerda irá afirmar que o programa do governo não responde às necessidades dos portugueses e, a direita, irá afirmar exactamente o contrário. E outros, irão afirmar o que der mais jeito, perante uma parte do eleitorado que anseia ouvir gritar na televisão, aquelas que são as suas angústias pessoais.
Por cá, na "piscosa" camoniana, já são conhecidas as frases efeito, os slogans de campanha dos três partidos locais que já deram a conhecer os seus candidatos.
Uma "onda de mudança", para "fazer melhor; marcar o rumo", perante a promessa de "um futuro de confiança". "Sesimbra merece mais". Sem dúvida nenhuma. Muito mais.
Aguardemos pelas promessas e pelos programas eleitorais. E também, pelos outros candidatos de outros partidos e movimentos.
A democracia, a pluralidade e a diferença são as raízes da liberdade. No respeito pelo outro, por uma sociedade livre, integradora, acolhedora, respeitadora e, acima de tudo, dotada de educação.
Nas palavras de Agostinho da Silva, quando "acabássemos deviam dizer: "morreu um poema". Esse devia ser o objetivo da nossa vida."
Comentários
Enviar um comentário