50 ANOS DO JORNAL RAIO DE LUZ
Numa altura em que é difícil distinguir o real do ficcionado; numa altura em que a realidade digital parece aniquilar a realidade física e material; numa altura em que as “fake news” se tornam para muitos, verdades absolutas; numa altura em que a imprensa sofre ameaças constantes relativamente à sua autonomia e liberdade; numa altura em que os jornais impressos são dispensados e substituídos por páginas virtuais; numa altura em que a leitura de jornais impressos é cada vez mais diminuta; é absolutamente admirável a comemoração de 50 anos sobre a edição ininterrupta, e em papel, de um jornal regional.
Na casa dos meus pais, liam-se jornais. Vários. Muitos diários, alguns semanários e poucos mensais. O jornal «Raio de Luz» foi um desses poucos jornais que começou a chegar pelo correio todos os meses. E era, confesso, o que me causava mais curiosidade, talvez por vir num invólucro plástico, dobrado num A5, como se trouxesse uma qualquer noticia que precisava de ser protegida. Cresci com a rotina mensal do jornal «Raio de Luz» e jamais imaginei que um dia, faria também eu, parte da sua história.
É por isso uma honra imensa escrever sobre os 50 anos do jornal «Raio de Luz». Não vou escrever sobre o passado, nem sobre o presente. Vou antes tentar abordar o futuro, num desejo que espero se concretize: que o jornal «Raio de Luz» se mantenha activo e firme, durante os próximos 50 anos, resistindo às adversidades que se avizinham, com a chegada de novas tecnologias como a Inteligência Artificial.
Que continue fiel à sua missão e aberto a uma pluralidade de opiniões, sem partidarismos e sem favoritismos. Que saiba resistir às pressões e às dificuldades inerentes a um mundo cada vez mais digital. E que preserve, acima de tudo, a sua autonomia e liberdade.
Quando o Director Engº. António Marques me convidou para escrever para o jornal, confesso que hesitei em aceitar: poderia eu escrever sobre qualquer tema? Ou teria de respeitar uma qualquer norma instituída, uma qualquer ideologia? Lembro-me do que me disse: o jornal «Raio de Luz» é um jornal livre e os seus colaboradores escrevem em liberdade.
Direi que a liberdade (de imprensa, de opinião) é e será porventura, o maior valor de futuro. Um futuro que começa a ser invadido por certezas absolutas, e que parece não permitir visões, opiniões, pensamentos, diferentes e diferenciados. Um futuro cada vez mais radicalizado, com posições extremistas que parecem abanar a democracia que conhecemos e que damos como garantida.
Um jornal regional como o «Raio de Luz» prova que é possível continuar o caminho desencadeado há 50 anos, num país que saía de uma ditadura e acordava para a liberdade. A liberdade está por isso, na génese do jornal «Raio de Luz». E é essa liberdade que importará proteger e preservar.
Só com liberdade se preservará a democracia. É preciso proteger a diferença de opiniões, as visões diferenciadas sobre tantas matérias, para que novos moralismos, populismos e extremismos não nos invadam radicalmente, moldando o pensamento dos mais distraídos.
Cabe à imprensa lutar por essa diversidade de pensamento, abarcando visões diferentes e permitindo que cada um possa, em consciência, desenvolver também uma opinião que não apenas fundamentada num mundo virtual muitas vezes apoiado em notícias falsas ou em meias-verdades manipuladas e descontextualizadas.
O jornal «Raio de Luz» tem por isso uma missão maior: continuar a caminhar em liberdade, no respeito pela diferença, permitindo várias visões e promovendo o pensamento critico sustentado em opiniões reais, partilhadas de forma séria e rigorosa, através dos textos dos seus colaboradores.
Parabéns ao jornal «Raio de Luz». Parabéns ao seu Director e a todos os seus colaboradores. Meio século de jornal que marca, indubitavelmente a história da região e de Sesimbra. Que os próximos 50 anos sejam, acima de tudo, rigorosos e livres!
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