Partilho aqui o meu artigo de opinião no Jornal "Raio de Luz" de Novembro de 2024.
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No dia em que escrevo (19 de Novembro), passam mil dias sobre a invasão russa à Ucrânia. E a notícia que invadiu o mundo, produzindo reacções de todos e para todos, é a decisão tomada por Putin: autorizar o uso alargado de armas nucleares se a Ucrânia atacar a Rússia com armas de outros países. E o que aconteceu nestes últimos dias? 11 mil soldados norte-coreanos foram mobilizados para combater a Ucrânia, apoiando as tropas russas; Joe Biden (depois da eleição de Donald Trump) autorizou a Ucrânia a utilizar misseis norte-americanos de longo alcance contra a Rússia.
E nesta que parece ser uma birra de crianças numa qualquer brincadeira de recreio na escola primária, não se vislumbrando por perto um qualquer adulto que acabe com a birra e a brincadeira parva, o que vai ecoando são as palavras proferidas por Donald Trump em campanha eleitoral, afirmando que acaba com a guerra na Ucrânia em apenas 24 horas. O problema, diz Josep Borrell (vice-presidente da Comissão Europeia) é que nós, os europeus, “não podemos esperar por Trump”. E Roberta Metsola (presidente do Parlamento Europeu) afirma que nós, europeus, “estamos ao lado da Ucrânia, até à liberdade, até à verdadeira paz, durante o tempo que for necessário.”
“Durante o tempo que for necessário.”
Talvez até dia 20 de Janeiro, dia em que Donald Trump toma posse como Presidente dos Estados Unidos da América e que, em 24 horas, acaba com a guerra. Diz Zelensky que “a paz é o que mais desejamos” mas que os americanos não podem obrigar os ucranianos a sentar-se e a ouvir porque a Ucrânia, é um país independente. E Elon Musk (que Trump diz ser um génio) reage na sua rede social com uns emojis de risos, dizendo sobre Zelensky: “o seu sentido de humor é maravilhoso.”
O problema é que toda esta brincadeira não é protagonizada por crianças birrentas. São homens adultos, chefes de estado, com poder e armados até aos dentes. E não é a primeira vez que Putin fala em armas nucleares.
“O destino da Ucrânia é o destino da União Europeia”, afirmou Josep Borrell. Porque se Trump cumprir com o que prometeu (aliás, no discurso de vitória, Trump referiu que a sua gestão teria como programa base “promessa feita, promessa mantida”), os Estados Unidos deixarão de apoiar financeiramente a Ucrânia e a NATO. E a Europa, dependerá de si própria, dos seus sistemas de defesa e na capacidade de apoiar a Ucrânia “durante o tempo que for necessário.”
Entretanto, está a decorrer a Cimeira do Clima – COP29 – em Baku, Azerbaijão. E a guerra não foi esquecida: um estudo da IGGAW (Initiative on Greenhouse Gas Accouting of War) mostra que, depois de 24 meses da invasão russa à Ucrânia, as acções militares lançaram 175 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera. E para que seja cumprido o Acordo de Paris, serão necessários mais de um bilião de dólares anuais para cumprir os objectivos. O problema é que esta COP29 coincide com a Cimeira dos G20 (as vinte maiores economias do mundo) fazendo com que a grande maioria dos países dos G20, não estejam representados pelos chefes de estado ou do governo na COP29. Significa que as decisões desta COP29 terão um peso muito diminuto naquelas que deveriam ser as estratégias comuns às vinte maiores economias do mundo, no combate às alterações climáticas a nível mundial.
Ora perante essa evidência, a Cimeira dos G20 recebeu um pedido de ajuda da COP29. E na sua declaração final (com uma referência à guerra na Ucrânia, sem falar do futuro nem da eleição de Donald Trump) os G20 afirmaram estar “determinados a liderar acções ambiciosas, oportunas e estruturais” não apenas nas suas economias nacionais mas também “no sistema financeiro internacional com o objectivo de acelerar e ampliar a acção climática.” O que quer que seja que isto queira dizer em termos de medidas concretas e metas a alcançar.
A Cimeira dos G20 decorreu no Rio de Janeiro. O Brasil é o quinto maior emissor de metano do mundo e o sexto maior em emissões totais de gases para a atmosfera. Tem um longo caminho a percorrer e comprometeu-se a reduzir as emissões (entre 59 a 67%) até 2035. E apenas para dar um exemplo: o Rio Grande do Norte é um dos estados brasileiros que se destaca na economia do país, pela extracção de petróleo em terra e no mar. E a criação de gado é a uma das suas principais actividades. A capital é a cidade de Natal, destino turístico de eleição de muitos portugueses.
E nem de propósito: Sesimbra participou na promoção do Território Arrábida em terras de Vera Cruz, mais concretamente na cidade de Natal, terra dos potiguares. A Autarquia noticiou que a iniciativa visou a divulgação turística e a captação de investimento em diferentes áreas, (nomeadamente a agropecuária). A comitiva portuguesa (que para além do Presidente da Autarquia de Sesimbra, contou, entre outros, com os presidentes das Autarquias de Palmela e Setúbal) aproveitou a deslocação para apresentar a candidatura da Arrábida a Reserva da Biosfera. O que é absolutamente fantástico. Pelo menos no caso da Autarquia de Sesimbra. Se bem estarão lembrados, (conforme referi na minha crónica de Junho.2024) o Presidente da Autarquia convocou uma reunião extraordinária (12 de Junho) para deliberar sobre esta matéria, à porta fechada, em segredo, não pública, para que ninguém ouvisse ou visse o que teriam a dizer sobre o assunto todos os elementos do executivo. Até hoje, nenhuma acção foi dinamizada tendo em vista a divulgação dessa candidatura da Arrábida a Reserva da Biosfera, aos sesimbrenses. Mais: na página oficial da Autarquia na internet, no separador “Território Arrábida”, nem uma simples frase ou imagem dão a conhecer a candidatura da Arrábida a Reserva da Biosfera. É absolutamente fantástico que o Presidente da Autarquia se desloque mais de 7 mil kms para apresentar Sesimbra, (no âmbito da candidatura da Arrábida a Reserva da Biosfera), ao povo brasileiro e que, não fazendo kms nenhuns, não apresente Sesimbra (no âmbito da candidatura da Arrábida a Reserva da Biosfera) ao povo sesimbrense!
É claro que se o objectivo dos 7 mil kms foi o de divulgar turisticamente o destino Sesimbra e, captar investimento, cai por terra o argumento de apresentar Sesimbra aos sesimbrenses. E a verdade é que, dias depois da visita realizada, o jornal “Folha de São Paulo” dava destaque a Sesimbra na sua publicação: o Santuário do Cabo Espichel, a praia das Bicas, a praia da Califórnia com um mar calminho, adequado para famílias com crianças e também para (e cito) “marmanjos que só querem sossego”. Que belo cartaz turístico.
E ainda no tema das alterações climáticas, Sesimbra simulou, no passado dia 4 de Novembro, um alerta de tsunami na vila sede de Concelho. Não me vou alongar. Até porque foi apenas um simulacro. Tomo apenas a liberdade de dar a minha opinião a quem possa ler estas linhas: se tivermos a infelicidade de viver a experiência de um tsunami na vila de Sesimbra, fujam para os pontos mais altos que conseguirem. Fujam do Largo Bombaldes, do Largo do Município, do Largo Eusébio Leão, do Jardim, e da Avenida da Liberdade. Nestes locais que referi, passam as maiores ribeiras da Vila (emanilhadas, debaixo dos largos e da Avenida). A força do mar varrerá a superfície e destruirá o subsolo, abrindo crateras e pondo à vista as ribeiras que hoje ninguém vê. A acção de 4 de Novembro foi apenas um simulacro sem perigo, animado, e bem-disposto. A realidade, se tivermos a infelicidade de a viver, será catastrófica e bem diferente do simulacro. Fujam para o Parque de Campismo, para o Náutico, para a Rua Conselheiro Ramada Curto, para os Cravos, para o Bloco do Moinho, para o Calvário. E não passem pelas zonas baixas que estarão completamente inundadas e destruídas.
Termino com três notas.
A primeira:
O mês de Outubro (dia 30) terminou com mais uma reunião extraordinária de Câmara, à porta fechada, em segredo, não pública. É a oitava vez em 50 anos de democracia que o executivo municipal reúne em segredo, à porta fechada, e toma deliberações. E qual foi o motivo desta reunião à porta fechada? Deliberar em segredo sobre dois pontos, do qual destaco apenas o primeiro: financiar a 100%, através dos cofres camarários, dos nossos impostos, a construção da Biblioteca Municipal na Quinta do Conde. O financiamento a 100% seria através do PRR mas como o prazo de execução da obra é de 550 dias, o Tribunal de Contas ao invés de atribuir o respectivo visto, solicitou a reprogramação do financiamento para 2026 (ano em que termina o PRR) sendo que a Comissão Executiva da AML, não aceitou essa reprogramação. Ou seja, a obra extravasa o prazo de execução do PRR e por isso, não pode ser financiada por um instrumento financeiro que já não existirá. Mas para que a obra não fique no papel, e porque o próximo ano é de eleições autárquicas e porque esta obra é na freguesia que decide eleições (Quinta do Conde) o executivo aprovou unanimemente o financiamento da construção da biblioteca com recurso único e exclusivamente aos cofres camarários, aos nossos impostos. Agora, caberá à Assembleia Municipal viabilizar essa aprovação, esse gasto, essa transferência de verbas (de outras obras, de outras iniciativas, de outras acções) para a construção da biblioteca. São pouco mais de um milhão e oitocentos mil euros. A somar ao um milhão e trezentos mil euros do Auditório. Mais de três milhões de euros em dois equipamentos na Quinta do Conde, lado a lado, no mesmo terreno, onde se realiza a Feira Festa. Não teria sido mais barato e eficaz, dado que o terreno é o mesmo, fazer um único edifício com as duas valências – Auditório e Biblioteca?
A segunda nota:
No último dia de Outubro, o Presidente da Autarquia dava a conhecer (através das suas redes sociais) a reunião que decorria “com os empresários” para a apresentação do Projecto de Reabilitação da Marginal de Sesimbra. Sobre quem eram “os empresários” convocados para a apresentação, nem uma palavra. Sobre o projecto de reabilitação, também não. Deduz-se que terão sido “os empresários” da Marginal de Sesimbra a conhecer a apresentação. E, a acreditar no jornal “Folha de São Paulo” que acima referi e que cito novamente – “na avenida dos Náufragos, em frente à praia, chovem lugares comandados por brasileiros” – uma coisa é certa: pelo menos desta vez, o Presidente da Autarquia não precisou de percorrer mais de 7 mil kms para apresentar as propostas que Sesimbra tem para o seu território. Adiante.
A Marginal de Sesimbra é um espaço público que é de todos, reabilitado na primeira década deste século, amplamente divulgado e pago com o dinheiro dos nossos impostos. Se existe um Projecto de Reabilitação da Marginal de Sesimbra, o mínimo exigível, é que o mesmo seja amplamente divulgado e apresentado a todos! Porque a Marginal de Sesimbra é um espaço público de todos para todos. Não é da Autarquia, nem dos eleitos, nem dos empresários. É de todos. Todos! O que a Marginal de Sesimbra precisa, conforme referi na minha crónica de Setembro.2024, é de limpeza e da substituição do que está partido e degradado. Com tantas necessidades urgentes de intervenção no espaço público e noutros (seja em soluções de mobilidade, em limpeza urbana, em manutenção do património edificado reabilitado e construído, em mobiliário urbano, na reabilitação das ruas e ruelas do centro histórico da vila que se apresentam em calçada de vidraço gasta e altamente escorregadia, na reabilitação e reorganização da Avenida da Liberdade, na consolidação de um terminal rodoviário naquele que, sendo um terreno que vale milhões, é desde o início de 2023 património municipal, na reabilitação de imóveis municipais com a consolidação de fogos para habitação,…) um novo Projecto de Reabilitação da Marginal de Sesimbra estaria no fim da lista de prioridades. O que a Marginal de Sesimbra precisa é de limpeza! E claro, da reversão das medidas excepcionais aplicadas às esplanadas, aquando da pandemia.
E a terceira nota:
Pedro Martins (na sua crónica de Outubro, aqui no jornal Raio de Luz) refere a insensatez de anular uma das figuras maiores da cultura e conhecimento sesimbrense, substituindo-o por umas t-shirts e uns pares de chinelas. É absolutamente inqualificável o apagar do nome de Rafael Monteiro daquele que era o seu Centro de Documentação, agora transformado em sucursal do posto de turismo.
Na mesma crónica, Pedro Martins avança que Sérgio Faias será o candidato à presidência da Câmara Municipal, fazendo um apelo que eu completo: será, na minha opinião, um erro crasso politico-estratégico se Sérgio Faias não se libertar daquele que foi denominado pelo deputado municipal Carlos Macedo (eleito pelo BE) como “o partido da Câmara”.
Claro que nada disto interessa para o que quer que seja se a autorização de Putin para o uso alargado de armas nucleares, sair do papel. Esperemos que seja apenas mais uma ameaça sem sentido e sem consequências. Mas a verdade é que os países nórdicos decidiram preparar os seus habitantes para a guerra. Afinal, a Rússia está mesmo ali ao lado. E ainda faltam dois meses para que Donald Trump tome posse, acabe com a guerra na Ucrânia em 24 horas, deixe de financiar a NATO, rasgue o Acordo de Paris e comece a perfurar os solos norte-americanos ricos em petróleo!
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