O PASSADIÇO QUE TARDA

A 24 de Março deste ano, o executivo municipal aprovou por unanimidade, em regozijo e aclamação, a adjudicação da empreitada relativa à criação de passadiço elevado entre a Praia do Ouro e a entrada da Doca, por um valor superior a 300 mil euros e, um prazo de execução de 120 dias de calendário. No mesmo dia (24 de Março), a página oficial da Autarquia noticiava a deliberação tomada, referindo que a obra deveria começar em Abril e que, a mesma estaria concluída no verão.

Passou um mês. Mais precisamente 35 dias dos 120 dias do prazo de execução. Não é visível qualquer tipo de movimentação no local. Não existe estaleiro de obra, nem sinalização, nem nada que indique a existência de uma qualquer obra. Nada. Recentemente, numa reunião de Câmara, o assunto relativo à construção do passadiço foi abordado com alguma ligeireza: parece que há ali uma "questãozinha”. 

A mim, não me parece que exista ali uma "questãozinha”. Serei só eu que, ao olhar para os “bonecos” que a Autarquia disponibilizou na sua página oficial (AQUI e AQUI) me parece que os mesmos não refletem a realidade? Melhor perguntando: serei só eu que vejo um "boneco" de um passadiço pendurado num muro que podia ser ali, naquele local, ou noutro sítio qualquer do mundo onde exista um muro? 

O que me parece é que o "boneco" é apenas uma ideia daquilo que poderia ser realizado naquele troço, para permitir um acesso pedonal em segurança, fora da faixa de rodagem. E apesar de ter até algum pormenor, foi apenas uma ideia. Aliás, essa ideia é anterior a 2017. E entre a ideia e um projecto de execução, há todo um longo caminho a percorrer. Para que a ideia se transforme num projecto exequível, susceptível de ser adjudicado e construído; dimensionando, estudando e considerando a realidade existente e a respectiva envolvente. E muitas vezes, entre a ideia e o projecto as diferenças são abismais. 

O que eu vejo nos “bonecos” não é um projecto de execução, sustentado num levantamento topográfico, com indicação de altimetrias e existências que pudessem condicionar o desenvolvimento do mesmo. O que eu vejo nos “bonecos” é um passadiço que parece flutuar sobre o estacionamento, sem qualquer relação com a estrutura do muro existente (LINK). Mas lá está, o ser humano não vê o mundo de igual maneira e com toda a certeza, sou eu que não vejo o que todos vêem.

Para além de que, como é óbvio, tudo estará previsto, dimensionado, estudado. E como é igualmente óbvio, a Autarquia não iria partilhar desenhos complexos e de eventual difícil leitura. Basta uns “bonecos”, para dar uma ideia do que será executado. E se assim for, os “bonecos” servem esse objectivo. Apesar de existir ali uma "questãozinha”.

E claro, fui ver qual seria a “questãozinha”. E as imagens falam por si: para que o passadiço consiga passar, haverá que reformular as coberturas dos pavilhões do estaleiro naval. Melhor dizendo: haverá que retirar a cobertura dos pavilhões, refazendo-a uns metros mais abaixo. Melhor ainda: haverá que demolir parte dos pavilhões do estaleiro naval e reconstruí-los de maneira a que o passadiço consiga passar. Coisa simples.

Então mas quem fez o projecto de execução desta obra, não foi ao local? Então mas os "bonecos" não estão consolidados em vários cortes e alçados de arquitectura, onde deveriam ser visíveis os impactos do passadiço no muro e pavilhões existentes? Não me digam que agarraram numa planta de trabalho e nuns "bonecos" muito lindos e, ao invés de desenvolverem em primeiro lugar o projecto de execução de arquitectura, verificando as dificuldades existentes e apresentando soluções, avançaram para o projecto de execução de dimensionamento da própria estrutura do passadiço? E é agora, depois da adjudicação, que se levanta a “questãozinha”? Até já estou a imaginar o montante dos trabalhos a mais e não previstos. Valha-nos Deus. 

No segundo “boneco” (LINK) é visível que o muro existente será a própria guarda de protecção entre o passadiço e a faixa de rodagem. Significa portanto que, para ter essa função, o passadiço irá ser colocado pelo menos, 1 metro abaixo do topo do muro. A esse 1 metro, acresce toda a estrutura metálica que suportará o próprio do passadiço, com uma solução de travamento amarrada ao próprio muro. Direi que as coberturas dos pavilhões do estaleiro naval terão de descer mais de 2 metros. Digo eu. E será que o muro existente aguenta o peso desta nova estrutura do passadiço? 

Não há com toda a certeza motivos para preocupação. Afinal as imagens partilhadas são apenas uns “bonecos” para mostrar a ideia. Nada mais. O projecto de execução de arquitectura e de dimensionamento de toda a estrutura aferiu da capacidade de resistência do muro existente, acautelou todas e quaisquer situações. Mal seria se assim não fosse. É apenas ali uma "questãozinha” que está a dificultar o início da obra. Nada de preocupante. E até Julho, estará tudo concluído. Ou tudo esburacado e partido. Ou nada executado. Não sabemos.

Seja o que for, espero sinceramente que se por um acaso a “questãozinha” se arrastar durante mais um mês, a obra só seja iniciada depois do verão. Para que o estacionamento ali existente continue a funcionar naquele que é o período fundamental para a sobrevivência das actividades económicas existentes na Vila de Sesimbra. Importa dizer que, a acreditar nos “bonecos”, o que os meus olhos vêem é a anulação de umas dezenas de lugares de estacionamento, nomeadamente de todos os lugares existentes junto ao muro e onde o passadiço irá “flutuar”.

E permitam-me formular um desejo: que o passadiço respeite a mesma imagem e materiais que foram utilizados nos passadiços da praia do Ouro, ligando-o à escadaria com o mesmo tipo de guarda metálica e réguas de madeira. O que será um desejo disparatado: porque se existe um projecto de execução de arquitectura, como é óbvio, estarão definidos todos os materiais e acautelada a coerência da imagem urbana.

E uma constatação: há outras questõezinhas a considerar, para além das coberturas dos pavilhões do estaleiro naval. Refiro-me por exemplo ao candeeiro de iluminação do próprio estaleiro naval (uma vez que os “bonecos” referem que a largura do passadiço é superior a 2 metros). Mas como não foram mencionadas, estarão com toda a certeza, consideradas e solucionadas. 

Faltam 85 dias para a conclusão da obra. E 241 para a chegada do Pai Natal; há quem ainda acredite.



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