“O ESTADO A QUE ISTO CHEGOU!”
Partilho aqui o meu artigo de opinião no Jornal "Raio de Luz", dia 31 de Março de 2023.
A 26 de Setembro de 2021, os eleitores sesimbrenses decidiram, através do voto, retirar a maioria absoluta à CDU, elegendo três vereadores pelo PS que prometiam “Sesimbra vai mudar” e, um vereador pelo Chega que dizia ser a “alternativa a um executivo gasto”. Tudo indicava que Sesimbra iria de facto sofrer uma qualquer mudança, acabando com 16 anos de gestão CDU em maioria.
A verdade é que, em apenas 4 meses, a minoria CDU atribuiu pelouros aos três eleitos pelo PS e ao candidato eleito pelo Chega, agora independente. Aquela que foi uma decisão dos eleitores sesimbrenses, que votaram pela mudança e não, pela continuidade (a maioria dos eleitores não votou CDU) foi transformada numa maioria inquestionável, implementado uma hipotética gestão partilhada e facilitando a gestão de uma minoria CDU que assiste de camarote ao desaparecimento de uma qualquer hipótese de oposição àquele que seria “um executivo gasto”. Sesimbra não mudou.
Ou melhor, Sesimbra mudou de facto: para uma maioria absolutíssima e que nem a CDU imaginaria. Os três eleitos pelo PS embarcaram numa gestão que os eleitores sesimbrenses rejeitaram a 26 de Outubro de 2021. E o consenso é de tal ordem que até o orçamento municipal para 2023 foi aprovado por unanimidade (sendo que o executivo PS foi o primeiro a reclamar como seu o orçamento, perante a indignação da CDU).
“O estado a que isto chegou!” A frase não é minha. Fez parte do discurso de Salgueiro Maia quando, em Santarém, ao motivar as suas tropas afirmou: “Há diversas modalidades de Estado, os estados socialistas, os estados corporativos e o estado a que isto chegou!” E pareceu-me oportuno utilizar esta frase para iniciar este texto. Por duas razões: a primeira porque está a entrar o mês de Abril; a segunda porque ninguém imaginaria uma coligação camarária de maioria absolutíssima CDU.
“O estado a que isto chegou!” já levou a bancada do PS a afirmar que, pelo menos na Assembleia Municipal, o PS é oposição. E perante a harmonia, entendimento e cumplicidade que reina entre os vereadores que compõem o executivo municipal, o deputado municipal Carlos Macedo, eleito pelo BE, designou-os, não como executivo multipartidário e com posições político-ideológicas diferentes, mas sim como o “Partido da Câmara”: uma espécie de novo grupo politico, que segue a ideologia dominante desde 1976 e que esqueceu aqueles que foram os resultados do voto popular: acabar com a maioria CDU, elegendo quatro elementos no novo executivo municipal que seriam o garante de uma qualquer mudança.
Nada mais errado. Basta assistir às reuniões de Câmara: as dezenas de pontos que constituem a ordem de trabalhos são aprovadas em silêncio, por unanimidade. Sejam projectos com a dimensão da Mata de Sesimbra; sejam atribuições de subsídios a uma qualquer associação. Nenhum dos vereadores tem perguntas ou dúvidas a colocar. Nada. Nem tão pouco promovem uma qualquer troca de ideias que permita informar os sesimbrenses que os elegeram, sobre aquilo que estão a deliberar.
É sabido que a maioria dos eleitores sesimbrenses não vota. E dos que ainda votam, apenas 34,3% votou na CDU. Significa que mais de 60% dos eleitores sesimbrenses votaram no fim da continuidade, no fim da maioria CDU. Significa portanto que mais de 60% dos eleitores sesimbrenses foram completamente defraudados a partir do momento em que o PS e o candidato eleito pelo Chega (agora independente) abraçaram e acarinharam os eleitos da CDU, em nome claro está, de Sesimbra e dos interesses sesimbrenses.
“O estado a que isto chegou!” De nada serviu votar numa mudança, quando a mudança alcançada se transformou numa maioria absoluta de quem, perdendo, ganhou. Na edição de Fevereiro do jornal Raio de Luz, Adelino Fortunato referiu: “o esgotamento da governação da CDU atingiu um nível sem precedentes e todos os observadores dão como certa a perda da Câmara de Sesimbra, nas próximas eleições, a favor do PS.”
Tenho contudo, uma opinião diferente. O “esgotamento da governação da CDU” foi visível na sequência dos resultados autárquicos de 2021. O “esgotamento da governação da CDU” é visível nestes 18 meses de gestão. E os vereadores eleitos pelo PS correm o enorme risco de virem a ser os grandes derrotados em 2025 porquanto abraçam o “esgotamento da governação da CDU”, esgotando-se a si próprios.
Dizem que a história é cíclica e que se repete, numa espécie de padrão constante. E se assim for, no caso de Sesimbra, depois de uma perda de maioria, perdem-se eleições. Aconteceu em 1997 e em 2005.
Em 2021, a CDU perdeu a maioria. Em 2025, se a história se repetisse, a CDU perderia e o PS venceria com maioria absoluta. E nas palavras de Adelino Fortunato “é baseado neste cálculo que o PS pouco ou nada faz para acelerar o declínio da atual maioria tangencial, limitando-se a esperar que o poder lhe caia nos braços.”
O problema é que esse horizonte está cada vez mais longínquo. Porquê? Porque a CDU se consolidou numa maioria inesperada (inclusive para a CDU). Ou seja, está quebrada a repetição, o percurso histórico cíclico, porquanto se alteraram as constantes do padrão. São dados novos: apesar de perder a maioria absoluta com o voto popular, a CDU tem uma maioria absoluta esmagadora, através de acordos pós-eleitorais com os eleitos que seriam à partida, oposição e que, com pelouros, tempos e meios-tempos, integraram a gestão e formaram o “Partido da Câmara”.
A menos que se dê um qualquer milagre entre os vereadores eleitos pelo PS, os resultados de 2025 serão surpreendentes. A CDU perdendo, levará consigo o PS.
O PS ao “esperar que o poder lhe caia nos braços” está a comprometer não apenas quatro anos de mandato mas futuros mandatos. Será difícil voltar a convencer os eleitores sesimbrenses que o PS é a alternativa, quando tiveram a faca e o queijo na mão e optaram por se resignar ao “esgotamento da governação da CDU”.
O PS, o executivo camarário PS, os vereadores eleitos pelo PS, esgotaram-se a eles próprios.
“O estado a que isto chegou!”
É pena.
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