CDU DE SESIMBRA NÃO APROVA MOÇÃO DE SOLIDARIEDADE PARA COM O POVO UCRANIANO E RUSSO, EXACTAMENTE UM ANO DEPOIS DO INICIO DA GUERRA
Na reunião da sessão da Assembleia Municipal de dia 24 de Fevereiro (no mesmo dia e exactamente um ano depois do inicio da guerra), a CDU de Sesimbra foi incapaz de aprovar uma Moção que visava prestar homenagem, solidariedade e apoio incondicional ao povo ucraniano que luta e morre “todos os dias, seja nos campos de batalha, seja porque o infortúnio que lhes chega em forma de míssil os atinge traiçoeiramente na rua, em suas casas, ou no trabalho”, aos “milhões de ucranianos refugiados, que estão dentro e fora do seu país”, aos “jovens e crianças, que perderam pais e avós, ou que simplesmente estão longe da sua terra e da sua família”, aos “Russos que na ponta de baioneta foram obrigados a seguir para a frente, de uma batalha que não entendem, em que não queriam participar mas onde deram e darão a sua vida a troco de nada”, às “famílias Russas que perderam os seus filhos na guerra”, aos “Russos que dentro do território da Federação Russa (…), que com risco da sua liberdade e mesmo da sua vida se manifestam contra a guerra na Ucrânia” e aos russos que passaram as fronteiras “com verdadeiro objetivo de preservar a vida, a dignidade e a liberdade recusando participar numa guerra de agressão contra um povo que até há pouco tempo consideravam como irmão”.
A CDU de Sesimbra foi incapaz de aprovar esta Moção. Mais uma vez e para a memória futura importa registar que a Moção foi aprovada por todos, excepto pela CDU. Votaram favoravelmente o PS, o PSD, o BE, o MSU e, o Chega. Aconselho e recomendo que todos possam ver e ouvir o que foi dito e por quem, através do canal yotube.com/cmsesimbra (LINK), a partir do minuto 2:53:40. Importa dizer que apenas 6 dos deputados eleitos pela CDU participaram na votação; os restantes, ausentaram-se da sala…
Referir que a Moção foi apresentada pela bancada do PSD. E a primeira reação sobre a Moção apresentada coube à bancada da CDU. Transcrevo textualmente essa reacção:
“É conhecida a posição política que a CDU tem sobre a forma como é vista grande parte deste conflito armado entre a Rússia a Ucrânia. De facto não…… não discordamos…… o povo ucraniano está a sofrer as consequências de uma guerra bárbara de invasão a…… por outro país e que…… isso não deveria estar a acontecer nem na Ucrânia nem noutras regiões do mundo onde prolifera a guerra.
Há aqui uma parte do texto em que é dito que a….. “o modo de pensar e viver da Europa é ajudar a Ucrânia a consolidar a estrutura política e social em que já declararam pretender viver”. A…… esta estrutura politica e social que a Ucrânia a…… escolheu, eu não sei se foi o povo ucraniano que escolheu viver assim a…… que escolheu esta estrutura politica e social onde os partidos políticos foram ilegalizados, onde a…… a tecnocracia a…… ucraniana é em tudo semelhante à russa, se nós podemos considerar Putin um ditador, não sei se Zelensky não será o mesmo.
Não sei e tenho dúvidas… Se Putin de facto é um ditador, Zelensky, na minha opinião, não deixará de o ser. E as atitudes que teve com o povo ucraniano antes da invasão russa assim o demonstraram. Ilegalizou partidos políticos, prendeu opositores políticos e isto não é democracia. Não é um país com este tipo de democracia que queremos ou que pretendemos na Europa e na União Europeia. Para isso já bastam alguns como a Hungria por exemplo em que, essa democracia é, muito subjectiva. De facto há eleições, mas depois só alguns partidos podem ir a essas eleições.
Daí estarmos também e teremos que ver que a União Europeia talvez tenha desistido da parte diplomática, da diplomacia, mas também é verdade que muitas muitas vezes a União Europeia, através dos seus órgãos e através dos seus governantes tentaram a via democrá, a via, a via diplomática, tentando encetar conversações de paz entre a Rússia e a Ucrânia e o facto é que de ambas as partes, e não foi só de uma parte, ambas as partes rejeitaram encetar essas conversações. Parece-me que desta vez Zelensky está a…… pronto a aceitar uma proposta de conversações de paz pela Rússia, ai pela China, que foi uma proposta imanada da China. Vamos ver se vai aceitar.
Vamos ver se não vai uma vez, mais uma vez, propor regras logo de início de uma negociação, com toda a legitimidade, mas ao impor essas regras, na minha opinião, na nossa opinião, está logo a pôr em cima da mesa «nós não queremos conversar sobre a paz, nós não queremos, não queremos a…… a…… discursar sobre a paz, queremos mais armamento, queremos armamento, armamento, armamento e é aquilo que a Ucrânia hoje em dia vimos a pedir, é armamento. Aquilo que eu questiono é: o que é que a Ucrânia irá fazer com esse armamento, quando o conflito acabar. E acho que é uma questão que deverá ser raciocino…… deveremos pensar sobre isso, deveremos pensar todos sobre isso, se nós não estaremos a combater um monstro com a criação de outro.”
Reação da bancada do PSD, que transcrevo parcial e textualmente:
“A Moção que aqui apresentámos não fala nem em Putin nem em Zelensky (…) fala no povo ucraniano, naquilo que são as dificuldades, as agruras, os ataques, o genocídio que está a ser vítima… e estamos a falar também dos russos. (…) Não estamos a falar dos políticos, (…) estamos a falar do povo. Se não quiserem apoiar não apoiem. Mas assumam-no. Não arranjem desculpas, digam: «nós não apoiamos uma coisa destas». Óptimo. A gente fica a saber. E até agradecemos. Porque assim sabemos sempre onde é que está, e agradecemos ao Partido Comunista, por nos lembrar de vez em quando onde é que estão. A gente às vezes esquece-se. E estas tomadas de posição que estão agora a ter, é exactamente lembrar-nos aquilo que são, como pensam e onde estão.”
Permitam-me apenas uma nota pessoal: numa terra tão pequena como Sesimbra, onde todos nos conhecemos e onde os votos refletem muito mais o conhecimento pessoal neste ou naquele candidato do que a militância no partido “A” ou no partido “B” (e o maior exemplo recente terão sido as últimas eleições autárquicas: teria a CDU ganho se, por um acaso, tivesse excluído das suas listas as Presidentes das Juntas de Freguesia de Santiago e do Castelo?) A mim, o que me faz mais confusão, é olhar para pessoas que conheço desde sempre e que, não sendo militantes do PCP e integrando a lista da CDU como independentes, defendem o indefensável em nome de uma posição politica/ideológica que os próprios militantes sesimbrenses do PCP têm dificuldade em compreender. Mas alguém é capaz de não votar favoravelmente uma Moção de solidariedade para com o povo ucraniano, perante o que sofrem, há um ano, com o impacto da guerra provocada pela Rússia? Mas alguém é capaz de não votar favoravelmente uma Moção de solidariedade para com o povo russo, perante o que sofrem, há um ano, com uma guerra que não entendem? Ninguém. Excepto meio dúzia de pessoas, deputados municipais, sesimbrenses que conhecemos desde sempre e que jamais imaginaríamos capazes de tamanha proeza: uns, não votando favoravelmente a Moção; outros, abandonando a sala no momento da votação.
Reação da bancada do PS, que transcrevo parcial e textualmente:
“A nossa incompreensão é com a defesa do país agressor por parte de algumas forças politicas, (...) a Rússia hoje em dia, é um capitalismo selvagem, portanto é um país onde se promove a maior desigualdade que pode existir entre as pessoas, (...). E por isso é incompreensível que a Europa e nós enquanto europeus, e sabendo desta intenção da Ucrânia de aderir àquilo que é o projecto europeu, (…) que se revê naquilo que são os princípios da democracia, da liberdade, que está a ser sujeito, e o seu povo está a ser sujeito há um ano, a uma pressão enorme, a perdas de vidas, a destorção de famílias, à destruição completa de infraestruturas básicas, (…) tudo isto só nos pode levar a ter total solidariedade com estes povos (…)”
Segunda intervenção da bancada da CDU (transcrevo parcial e textualmente):
“Eu não defendi a Rússia. Ou a bancada da CDU não defendeu a Rússia. Nunca defendeu a Rússia. Nunca defendeu esta Rússia de Putin nem nunca defendeu esta invasão. Aquilo que nós não defendemos é a forma como este assunto tem sido tratado. Que é a militarização da Europa. A militarização do mundo e a não existência de conversações de paz entre as partes que era aquilo que nós devíamos tentar fazer.”
Reação da bancada do BE, que transcrevo parcial e textualmente:
“Não posso deixar de transmitir a minha perplexidade (…). Como a questão da ilegalização de partidos: ele acontece depois da atribuição, da entrada em vigor da lei marcial com o início da guerra, e é aos partidos pró-russos (…) Se Zelensky ou a Ucrânia não reclamasse por armas já tinha sido absolutamente exterminado. O que é que defendemos?, é esta retirada de crianças que já foi comprovada pelas Nações Unidas?, o rapto de crianças que os russos tão a fazer, que estão a levá-las da Ucrânia para os reeducar na Rússia? Confesso que é (…) realmente me deixa perplexo esta falta de compreensão, de compaixão até. Quer dizer, esperávamos o quê? Que os ucranianos combatessem os misseis russos com fisgas? Só se fosse assim, porque realmente o que tinha acontecido é que tinham sido absolutamente exterminados.”
Reação da bancada do PSD, que transcrevo parcial e textualmente:
“Este discurso da CDU (...) no fundo o que sugerem é uma coisa parecida com isto: alguém está na sua casa, é assaltado, entra um ladrão, e alguém nos vem aconselhar «não chames a policia!, dá-lhe um café, convence-o a ver se ele…» Isto não existe. Isto é surreal. (…)”
A CDU de Sesimbra foi incapaz de aprovar uma Moção de solidariedade para com os povos que directamente sofrem, diariamente, com a brutalidade da guerra. Melhor dizendo: meia dúzia de deputados municipais, sesimbrenses que conhecemos desde sempre, não foram capazes de votar favoravelmente uma Moção que mostrava a solidariedade para com o povo que sofre.
A CDU de Sesimbra, os deputados eleitos pela CDU de Sesimbra, ficarão nas páginas negras da história sesimbrense como aqueles que, ao fim de um ano de guerra que nos afeta a todos, foram incapazes de mostrar solidariedade e até, nas palavras da bancada do BE, "compaixão" por todos aqueles que sofrem na pele, a violência da guerra. Talvez um dia tenham de explicar aos netos as posições que tomaram. E que ficarão, com toda a certeza, orgulhosíssimos.
Apenas alguns dados que foram divulgados:
- 40 mil civis ucranianos feridos e 8 mil mortos (a ONU diz que o valor é substancialmente maior)
- 14 milhões de ucranianos abandonaram o país (refugiados noutros países)
- 5,4 milhões de ucranianos estão deslocados das suas regiões, permanecendo na Ucrânia
- 87 mil militares ucranianos feridos e 12 mil mortos
- 100 mil militares russos feridos e 100 mil mortos
- 1 milhão de russos abandonaram o país
- 20 mil russos foram presos por protestos contra a guerra na Ucrânia
FONTE DA IMAGEM: dn.pt
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