NOVO AUDITÓRIO NO PARQUE AUGUSTO PÓLVORA
Naquela que foi a última reunião de Câmara, realizada no dia 8 de Fevereiro, a quatro dias dos ensaios gerais de Carnaval, e perante uma Ordem de Trabalhos recheada de assuntos que perfaziam um total de 35 pontos a deliberar, o executivo municipal, apenas no ponto 15 das “Deliberações Diversas” (que visava atribuir um subsidio no valor de cerca de 45 mil euros às escolas de samba e grupos de carnaval) considerou necessário tecer alguns comentários sobre a matéria, despendendo de cerca de 15 minutos em considerações, justificações e opiniões. 15 minutos.
Sobre os restantes 34 pontos a deliberar, nenhum eleito mostrou vontade de fazer uma única pergunta, um único considerando, uma única observação. Nada. A reunião decorreu em forma de monólogo, com a leitura de cada ponto da “Ordem de Trabalhos”, seguido das duas perguntas da praxe: “quem vota contra?, quem se abstém?”, e a conclusão: “aprovado por unanimidade”. E para deliberar sobre os restantes 34 pontos, o executivo eleito precisou apenas de cerca de 25 minutos. Tal eram a insignificância dos pontos a deliberar.
Jamais pensei repetir o que já disse em anterior post: começo a sentir saudade do anterior executivo, nomeadamente daqueles que eram os dois vereadores eleitos pelo PS, sem pelouros, tempos ou meios-tempos. É que mesmo votando favoravelmente, fomentavam o debate e a explicação de cada ponto que consideravam importante, fazendo com que os munícipes ficassem esclarecidos e informados.
A verdade é que já todos sabemos que o PS é oposição apenas na Assembleia Municipal. Na Câmara, integrou o PDC, o “Partido da Câmara” (como diz e bem, o deputado municipal Carlos Macedo, eleito pelo BE). E até proponho novamente a mesma sugestão (poupam tempo e poupam-nos tempo): elaborem a Ordem de Trabalhos com um único ponto e deliberem tudo ao mesmo tempo, em menos de 1 minuto, estabelecendo um novo recorde, a cada 15 dias! Isso é que era! Uma leitura tipo aquela voz off acelerada, que se ouve nos anúncios de medicamentos e em que só se ouve e percebe a parte final “consulte o seu médico ou farmacêutico!” Ou uma outra sugestão: porque é que a leitura da ordem de trabalhos não é acompanhada por exemplo, de movimentos explicativos, apontando para aqui para ali e para acolá, como as hospedeiras?
E ainda outra sugestão, para que os membros do executivo sejam uma parte activa durante a leitura e votação dos diferentes pontos da "Ordem de Trabalhos": distribuir por cada um dos sete eleitos três raquetes, cada uma com um símbolo difrente, adequado ao sentido de voto: uma raquete com o emoji "like", outra raquete com o emoji "dislike" e uma raquete sem qualquer emoji (sabendo-se que, sendo as deliberações tomadas por unanimidade, bastará distribuir apenas a raquete com o emoji "like"). Isso é que era inovar.
Ou uma sugestão mais criativa: a leitura da ordem de trabalhos ser feita nos moldes da extração da lotaria popular, entoando cada número e concluindo com uma frase mais emotiva: “Aprooovaaaado por unaaaaanimidaaaaadeeeee”. Tornava-se pelo menos, menos entediante. Adiante.
Confesso que pelo menos a mim, as dúvidas invadem-me a todos os minutos. Aliás, permitam-me começar pelo fim da reunião de Câmara, naquele que é o período dedicado à intervenção do público. Graças à pergunta colocada, o povo sesimbrense ficou a saber finalmente, (passados que estão 4 anos) o que raio vai acontecer ao restaurante que funcionou no Parque Augusto Pólvora. Transcrevo parcial e textualmente:
“O que existe é para deitar abaixo e nós tivemos uma candidatura do PRR para a construção de um Auditório exactamente na zona onde se encontrava o antigo restaurante barra cafetaria a…… o projecto de execução penso que neste momento tá a ser tramitado. Eu tenho que ser claro, portanto o que tá previsto em PRR é que aquela intervenção ocorra entre 2024 e 2025. A intervenção, a construção é rápida também é um facto, porque ela é em material mais rápido de construção e ela prevê, o próprio Auditório, prevê não, tem uma cafetaria que pode ter esplanada para a zona interior do Parque. Portanto não é um restaurante, vai ser mais pequenino é uma cafetaria, não terá a função de restauração (…)”
Confesso que pensei que as “novidades” que surgiam durante o último mandato como “surpresas!”, tivessem ficado arrumadas no já longínquo dia 26 de Setembro de 2021. Mas não. Elas aí estão de volta!
Então o Parque Augusto Pólvora vai ter um Auditório no lugar do antigo restaurante? Com cafetaria e esplanada? Cafetaria essa que será um espaço “mais pequenino” porque “não terá a função de restauração”? E é o PRR que vai pagar tudo? Fantástico.
Então e esse Auditório que será “em material mais rápido de construção” terá capacidade para quantas pessoas? Quantos mais pinheiros irão ser abatidos? E cabe?, ali atarracado, entalado, asfixiado, atrofiado, apertado, encravado, tolhido, enfezado, acanhado,… entre o Spot Jovem e aquela que seria a grande praça (prevista inicialmente) de entrada no Parque e que daria as boas vindas aos visitantes (sendo que essa intenção já está plasmada no pavimento decorrente da obra recentemente efectuada no exterior)? E que altura irá ter o Auditório?
Mas quem é que teve esta ideia peregrina de fazer um Auditório no Parque Augusto Pólvora?
O Parque Augusto Pólvora é um lugar descontraído, onde se corre e anda, onde se joga futebol, basquete e muitas outras modalidades, onde se pratica ginástica e ioga, onde se patina e anda de bicicleta, de skate e de trotinete, onde se passeiam animais de estimação, onde as crianças se divertem, onde se transpira, grita e ri. Onde é possível apenas deitar na relva e não fazer rigorosamente nada. Onde se fazem grandes churrascos, festas de amigos e de aniversários. Onde as pessoas estão felizes e descontraídas!
É um local, por excelência, livre, despreocupado e despretensioso que não precisa de um Auditório, onde, engravatados e saltos altos, chegarão de altas cilindradas, acompanhados pelos seus mordomos, para discursar, conferenciar, pregar, e que ficarão incomodados com os barulhos e o ambiente descontraído que os rodeia.
O que a mim me parece é que, como ninguém saberá o que fazer com o restaurante, surgiu a ideia de um Auditório, resultante do PRR. E como o Parque é muito grannnde, pode-se meter lá tudo e mais alguma coisa, como o “Rossio na Rua da Betesga”!
Até tenho uma ideia, façam no Parque Augusto Pólvora o novo edifício dos serviços camarários. Aquele terreno ali, quase vazio, cheio de relva, equipamentos desportivos, instalações sanitárias, churrasqueiras, zonas de merendas, parque infantil, skate-park, spot jovem, ecotrilhos e o que resta de um restaurante, é um desperdício! E assim, ao invés de um mono de 9 pisos na entrada da Vila de Sesimbra, arrasam os pinheiros todos, fazem um grande parque de estacionamento em cave e constroem o edifício dos serviços camarários, num só piso (pontualmente dois), integrado na envolvente, eficiente energeticamente e sustentável! Fica a ideia.
Sinceramente. Fazer um Auditório num parque que é desportivo e de lazer, com tantos terrenos camarários (nomeadamente ali nas redondezas), não lembra a ninguém.
Querem uma ideia simples? Deitem o restaurante existente abaixo, comprem um qualquer pré-fabricado moderno e adaptável ao local e concessionem a exploração para instalação de cafetaria, tal como fizeram no Parque da Vila, na Quinta do Conde. Agora um Auditório? Um mono de empenas cegas, em cima da vedação, que terá no mínimo uns seis metros de altura, “em material mais rápido de construção”, com uma pequena cafetaria que até poderá vir a ter, pasme-se, uma esplanada virada para o interior? Não lembra a ninguém.
Uma coisa é certa: o que “tá previsto em PRR é que aquela intervenção ocorra entre 2024 e 2025” mesmo a tempo de ser inaugurado em plena campanha eleitoral. E antecipo desde já um programa de inauguração: um grande comício daquele que é o partido de Sesimbra que se julga no Olimpo e sonha com uma escada até à lua, sendo, qual Deus, omnipresente: está sempre connosco!
A verdade é que, e ao que parece, o Auditório do Parque Augusto Pólvora já tem reservas a partir de Outubro de 2025 (porque só estará pronto mesmo em cima das eleições autárquicas e antes, pasme-se, do tão desejado Auditório da Quinta do Conde). E segundo o que se ouve, a primeira conferência, com conferencistas de todo o mundo (que até já estão a reservar alojamento no Concelho), é sobre o tema: “A escada para a lua: contributos e soluções.” Diz que vai ter vários painéis e oradores, estando garantido desde já, um orador da NASA (cujo nome ainda está por confirmar) que irá aterrar na plataforma do Cabo Espichel no foguetão que foi à lua em 1969.
Um Auditório no Parque Augusto Pólvora. É mesmo o que faz falta. Então mas essa verba do PRR não podia ter sido alocada (mais uma palavra da moda politica) a outra qualquer intervenção que servisse de facto para “promover a inclusão social de comunidades que vivem em situação de carência”? Um Auditório, pago pelo PRR, a 100%, é mesmo o que faz falta à comunidade que vive “em situação de carência” na Freguesia do Castelo. Enfim.
Termino em modo "extracção da lotaria popular": ideiiiiiias peregriiiiiiiiiiiinas!!
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