AS ÁRVORES
Partilho aqui o meu artigo de opinião publicado no Jornal "Raio de Luz", dia 31 de Agosto de 2022.
Por exemplo, dos estudos realizados na pintura atribuída a Gregório Lopes e que integra a exposição patente na Capela do Espírito Santo dos Mareantes de Sesimbra: Nossa Senhora da Misericórdia, ficou a saber-se que a madeira utilizada como suporte da pintura é de carvalho (proveniente do Báltico) e data de 1538. Coincidindo com o período de actividade do pintor Gregório Lopes.
Mas para saber a idade de uma árvore não é necessário abatê-la. É possível fazer um pequeno corte e retirar uma amostra do tronco principal. Este método já permitiu datar um sem número de árvores no mundo inteiro, inclusive daquela que será a mais antiga do planeta, e que conta com 5 milhões de anos.
Vem isto a propósito das limpezas de terreno e dos abates de árvores que ocorrem um pouco por todo o lado, aparentemente com o argumento de limpar os terrenos para prevenir os fogos. Não me vou perder em transcrições da Lei que veio dizer aos portugueses que têm de limpar os terrenos. Vou apenas dizer que limpar um terreno não significa abater todas as árvores. Limpar um terreno, é isso mesmo: limpar.
E o que é limpar? É cortar ramos secos, ervas, arbustos e transportá-los para os locais apropriados e autorizados. É podar árvores e, se necessário, proceder a alguns cortes. Para que as copas distem umas das outras e também, das construções. Qual é o objectivo? É impedir que numa situação de fogo, o mesmo não alastre horizontalmente (queimando tudo o que é vegetação rasteira) e verticalmente (queimando as ramagens junto ao solo, subindo os troncos das árvores e atingindo as copas das mesmas).
Numa altura em que o mundo acordou para a urgência climática, e que parece ter percebido (finalmente) que as árvores são responsáveis pela produção do oxigénio que precisamos para respirar, é incompreensível que, em zonas naturalmente verdes, seja promovido o abate indiscriminado e sem justificação absolutamente nenhuma.
As árvores, para além de produzirem oxigénio, absorvem o dióxido de carbono. A grande meta mundial e nacional: reduzir as emissões de carbono até 2050. E as emissões de carbono para a atmosfera são absorvidas por árvores. Talvez esta ideia explique a vontade de por exemplo, Lisboa continuar a arborizar vias de tráfego urbano, ao mesmo tempo que define percursos pedonais e interdita algumas áreas ao trânsito automóvel.
Está em causa a qualidade do ar e consequentemente, a nossa qualidade de vida. E claro, as zonas que naturalmente já são arborizadas, constituem-se como sumidouros de carbono e por isso, essenciais para a qualidade do ar. E nestes casos o que se assiste é à manutenção dos exemplares existentes por mais franzinos que possam parecer. E as vias, os passeios, os estacionamentos são pensados não só em função das necessidades mas respeitando as árvores existentes. Depois existem os casos de terrenos sem árvores, onde ocorrerá uma qualquer intervenção urbanística. E é ver as imagens dos projectos que são publicitadas, com os edifícios, as vias, os estacionamentos e árvores. Uma enorme mancha verde enquadra a intervenção. E existem casos em que as árvores existentes estão tão débeis que a solução é abatê-las. Mas como o que se pretende sempre, é um espaço verde e arborizado ao longo de vias e estacionamentos, é ver os projectos com caldeiras afastadas entre si cerca de 5m, onde serão plantados novos exemplares de árvores que não sejam apenas ornamentais mas sim, sugadoras da poluição que todos nós produzimos.
Infelizmente nem sempre estes princípios se aplicam. E em pleno século XXI, com cimeiras climáticas, com preocupações ambientais, com a Amazónia, com a meta definida pelo governo do nosso país para ser neutro em carbono em 2050, continuamos a assistir a limpezas e abates de árvores que não têm qualquer tipo de justificação aparente.
Voltando ao início do meu texto, o que proponho é um desafio: da próxima vez que virem uma árvore no chão, contem os anéis de cada um dos troncos principais das árvores que foram abatidas (a melhor forma de fazer esta contagem é no tronco que ainda está na terra, depois de cortada a árvore: o chamado toco). Sendo que a cada anel corresponde um ano de vida da árvore, é só contar! Esta até pode ser uma actividade para fazer em família. Ou até enquanto actividade didáctica com as escolas.
Que sejam os mais novos a tomar consciência do crime que é abater uma árvore com mais de 5m de altura. Especialmente se essa árvore não for apenas, ornamental. Porque, grosso modo, uma árvore que absorve carbono e produz oxigénio, com mais de 5m de altura, terá no mínimo, 30 anos.
É toda uma vida que nos dá vida, que desaparece em minutos, com a força de uma motosserra.
(As fotografias que ilustram este texto, correspondem a um “antes” e a um “depois”, daquela que é a entrada do Parque Augusto Pólvora: um descampado que será uma fonte de calor com perigosidade elevada, naquele que é um parque verde, desportivo, de lazer e natureza).
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