EM PERÍODO DE SECA EXTREMA, SESIMBRA DEITA FORA MILHÕES DE METROS CÚBICOS DE ÁGUA POTÁVEL
Em média, cada habitante da Área Metropolitana de Lisboa gasta cerca de 77m3 de água por ano. Significa que, no caso do Concelho de Sesimbra, os cerca de 50 mil habitantes gastarão por ano, cerca de 3 milhões e 850 mil metros cúbicos de água. A somar a este valor, estão as perdas anuais associadas à distribuição de água potável (através da rede pública) e que ascendem aos 2 milhões e 500 mil metros cúbicos de água. Grosso modo, a água perdida anualmente pelas condutas do Concelho, abasteceria cerca de 32 mil habitantes (mais de metade da população sesimbrense). Sesimbra ocupa, no conjunto dos 18 Municípios que compõem a Área Metropolitana de Lisboa, o sexto lugar da tabela, como um dos Municípios que mais água perde através das suas condutas de distribuição.
Estes são dados constantes no Relatório Ambiental Preliminar relativo à Avaliação Ambiental Estratégica do Programa Operacional Regional de Lisboa 2021-2027, cuja consulta pública terminou no passado dia 22 de Agosto.
E eu que não percebo nada de nada de redes de abastecimento de águas nem de perdas de água “devido à antiguidade e degradação das redes em baixa” (frase constante no Relatório Ambiental que referi), parece-me que não existirão grandes dúvidas sobre qual deverá ser o grande investimento público, nos próximos anos, por parte da Autarquia sesimbrense: reparar, substituir, consolidar uma rede de abastecimento público de água potável no Concelho que vise anular as perdas anuais de 2 milhões e 500 mil metros cúbicos de água potável.
Já todos ouvimos que em Sesimbra não existem problemas de água. Já todos sabemos que está tudo a ser feito, que está tudo pensado, que está tudo programado, que está tudo definido, que está tudo delineado, que está tudo tudo. Mas caramba!, 2 milhões e 500 mil metros cúbicos de água potável são perdidos “devido à antiguidade e degradação das redes em baixa”! Urge tornar a água, o bem essencial para a sobrevivência de qualquer forma de vida, numa emergência, numa prioridade de investimento municipal.
Os dados são preocupantes perante aquele que é o cenário nacional e mundial, consequência da seca extrema e da falta de água em várias regiões. Ontem, o governo português definiu um conjunto de medidas (para mais de 40 Concelhos), que visam reduzir o consumo de água e, consequentemente, subir as respectivas tarifas. Medidas essas que poderão, no futuro, vir a ser alargadas ao restante território nacional. Para além das medidas anunciadas, espera-se que a população de uma maneira geral, reduza os consumos diários daquele que é o bem mais precioso do planeta: água potável.
Os dados apresentados no Relatório Ambiental que referi, são relativos ao ano de 2019. Importa lembrar que, em 2018, o orçamento camarário total para “Água e Recursos Hídricos – Sistema de Abastecimento” do Concelho, foi de 5 milhões e 300 mil euros. Em 2019, o valor desceu para 4 milhões e 400 mil euros. Em 2020, o valor voltou a descer para uns míseros 2 milhões e meio de euros. E, em 2021, o valor foi de 3 milhões de euros. Ou seja, pelos valores constantes nos orçamentos anuais da Autarquia, verificou-se, nos últimos quatro anos, um desinvestimento claro e inequívoco no sistema de abastecimento de Água e Recursos Hídricos do Concelho de Sesimbra.
2 milhões e 500 mil metros cúbicos de água potável são perdidos, no Concelho de Sesimbra, “devido à antiguidade e degradação das redes em baixa”!
Talvez, perante a crueza dos números, o orçamento camarário anual para o ano de 2022 e relativamente à “Água e Recursos Hídricos – Sistema de Abastecimento”, subiu para 18 milhões de euros. O que é, digo eu, manifestamente insuficiente. Destes 18 milhões de euros, (e apenas para dar um exemplo), somente 121 mil euros serão gastos para substituir condutas de fibrocimento.
Repito: substituir condutas de fibrocimento. E pergunto: quantos milhares de metros lineares de condutas de fibrocimento ainda existem a abastecer a população sesimbrense, em pleno século XXI? Inacreditável.
No entanto, só para abrir e fechar valas (na freguesia do Castelo), serão gastos 161 mil euros. E se falarmos em “execução de pinturas em infraestruturas para o sistema de abastecimento”, o valor atinge os 310 mil euros. Será mais importante a “execução de pinturas em infraestruturas para o sistema de abastecimento” do que a substituição de condutas de fibrocimento. Digo eu, que não percebo nada de nada de condutas de fibrocimento nem de “pinturas em infraestruturas para o sistema de abastecimento”.
Se por um acaso (que é cada vez mais provável) as medidas definidas pelo governo vierem a ser adoptadas na totalidade do território nacional, quem é que conseguirá explicar aos sesimbrenses contribuintes, eleitores, residentes, que a factura da água terá de subir (porque a água é cada vez mais preciosa e todos temos de reduzir consumos) quando, a entidade gestora da rede de abastecimento de água (a Câmara Municipal) desperdiça, deita fora, perde anualmente, 2 milhões e 500 mil metros cúbicos de água potável apenas com a distribuição que, nalguns casos, ocorre através de condutas em fibrocimento?
Esqueçam-se as promessas eleitorais (por exemplo: o auditório, pavilhão multiusos e pólo de leitura da Quinta do Conde e, o Parque de Alfarim) que ascendem a mais de 5 milhões de euros.
Os sesimbrenses da Quinta do Conde, com toda a certeza preferirão continuar a ter água nas suas casas e jardins, do que um auditório e um pavilhão multiusos e um pólo de leitura. Já esperam há tantos anos por esses (e outros) equipamentos que, esperar mais ano menos ano, não será com certeza um problema grave.
Os sesimbrenses de Alfarim, com toda a certeza que preferirão continuar a ter água nas suas casas, nos seus cultivos e nos bebedouros dos seus animais, do que um Parque Urbano (com altos consumos de água potável). Já esperam há tantos anos por esse Parque que, esperar mais ano menos ano, não será com certeza um problema grave.
Reduzam-se por exemplo, os gastos com combustíveis que ascendem aos 3 milhões e 800 mil euros anuais (sem contar com a subida dos preços dos combustíveis verificada nos últimos seis meses e que com toda a certeza fará disparar este valor). Adoptem-se soluções sustentáveis, por exemplo conforme aquela recomendação da Assembleia Municipal aprovada por unanimidade pelos deputados municipais em Fevereiro de 2018 e que aconselhava a Câmara Municipal a substituir a frota automóvel por veículos movidos a combustíveis não fósseis. Quantos veículos movidos a combustíveis não fósseis substituíram e integraram a frota automóvel da Câmara Municipal, desde esta recomendação de 2018?
Que se reduzam os custos relativos a “Actividades do Meio” (que englobam equipamentos e instalações municipais; organização e funcionamento dos serviços; informação e comunicação; Assembleia Municipal) e que ascendem a 24 milhões e 750 mil euros.
Que o próximo orçamento anual camarário (para o ano de 2023) assuma a água como prioridade. Antes que seja tarde. Porque uma coisa é ter uma rede viária miserável a que todos já nos habituámos mal ou bem. Outra coisa bem diferente é deixar de ter água! E pagá-la a preço de ouro e, simultaneamente, ver 2 milhões e 500 mil metros cúbicos de água potável deitados fora pela Câmara Municipal de Sesimbra, por falta de visão, por falta de estratégia, por falta de investimento.
É urgente definir prioridades e temas que são emergentes. Esqueça-se a política e a politiquice. Esqueça-se quem é que gere o pelouro “A” ou o pelouro “B”. Assuma-se a água como prioridade concelhia, subscrita por todos os membros do executivo municipal.
Porque esta prioridade, esta necessidade de preservar e poupar água, não é responsabilidade nem competência do partido “A” ou do partido “B”. É uma responsabilidade e competência de todos os partidos, de todos os eleitos, de todos os sesimbrenses, sem cores políticas ou partidárias.
FONTE DA IMAGEM: redecor.pt
Comentários
Enviar um comentário