ENTÃO E AS MEDALHAS PARA OS TRABALHADORES DA AUTARQUIA?
Como é apanágio, no próximo dia 4 de Maio serão atribuídas distinções e condecorações municipais, num total de três medalhas. A saber:
- Com a Medalha de Mérito Municipal Grau Ouro, Odete Graça;
- Com a Medalha de Mérito Municipal Grau Prata, e pelos seus 50 anos, os Serviços Sociais dos Trabalhadores da Câmara Municipal;
- Com a Medalha de Mérito Municipal Grau Prata, e também pelos seus 50 anos, o Agrupamento 350 de Santana CNE.
Ficam de fora dos condecorados, mais uma vez, e pelo terceiro ano consecutivo, os trabalhadores da Autarquia. E porquê? Ouvem-se várias razões a circular um pouco por todo o lado. Não sei se serão verdade ou não. Não sei se são apenas boatos. Mas a verdade é que existem três motivos que são mais comuns nas bocas deste e daquele:
- Quem tinha de ser condecorado, já foi;
- Todos aqueles que têm cartão do partido, também já foram;
- Todos aqueles que integraram as listas de candidatos para fazer número ou até, com possibilidade de serem eleitos, também já foram.
Quero acreditar que são apenas boatos maldosos e que haverá com toda a certeza uma qualquer justificação, consubstanciada num qualquer regulamento ou orientação que suporta o facto de, novamente, nenhum trabalhador da Autarquia ser agraciado.
Pergunto-me qual será a posição da restante vereação sobre esta matéria. E pergunto-me o porquê do processo de atribuição de medalhas não ser claro e rigoroso, pondo fim a diz-que-disse e boatos mal-intencionados.
Eu, que não percebo nada de nada de medalhas nem de critérios de medalhação, confesso que esperava que este ano fossem por exemplo, e a título póstumo, medalhados todos os trabalhadores da Autarquia que eventualmente terão partido, vítimas de doenças prolongadas e dolorosas, agravadas pela pandemia. Parecer-me-ia a mim, (voltando a dizer que não percebo nada de nada de medalhas nem de critérios de medalhação), um acto simbólico e significativo perante aqueles que dedicaram a maior parte da sua vida à causa pública e que, sem esperar, partiram em virtude de uma pandemia avassaladora.
No entanto, parece que a norma que estará a vigorar, será a de atribuir medalhas apenas a associações (pelos 25 ou 50 anos), personalidades políticas do Concelho e, personalidades que tenham desenvolvido algum tipo de trabalho relevante (como o caso dos investigadores agraciados este ano). Essa coisa de medalhar trabalhadores da Autarquia não tem pés nem cabeça. E, voltando aos boatos, é sabido que “os trabalhadores da Câmara não fazem nenhum”.
Conforme tenho afirmado várias vezes, são os trabalhadores da Autarquia que fazem a máquina funcionar. São eles e apenas eles, que dedicam a maior parte da sua vida (muitas vezes abdicando da vida pessoal e familiar) à causa pública e em benefício do bem comum. Os políticos, esses, vão e vêm a cada quatro anos. Com novos assessores e consultores donos da verdade e da razão.
E cabe aos políticos que elegemos definir quem, dos trabalhadores da Autarquia, merece ser medalhado e porquê. E este ano, ninguém merece. E se o critério “merece” e “porquê” pode revestir-se de alguma controvérsia, defina-se por exemplo, aquele que é o critério vigente em várias Autarquias do país: o tempo de serviço. E quem aguentar 25 anos a trabalhar na Autarquia, depois de levar com pelo menos seis actos eleitorais autárquicos, com pelo menos dois presidentes de Câmara, vários vereadores, assessores, secretários, adjuntos, consultores e todos os meninos e meninas filiados e filiadas no partido vencedor e que se julgam donos disto tudo; se acrescentarmos ainda as condições indignas e por vezes até, humilhantes, com que muitos trabalhadores exercem as suas funções, merecem de facto uma medalha pela resiliência e entrega à causa pública.
Haverá este ano, algum trabalhador que complete 25 anos de serviço? E haverá algum trabalhador com mais de 25 anos de serviço não medalhado? Não sabemos. O que se ouvem são boatos.
Volto a referir que existirá com toda a certeza uma qualquer razão e que ainda não foi tornada pública, para que, pelo terceiro ano consecutivo, nenhum trabalhador da Autarquia seja condecorado.
São os políticos que elegemos que detêm o poder de decidir. E perdoem-me a ousadia mas as decisões por vezes, não são fáceis de tomar: entre assessorias para candidatos não eleitos, viagens ao Brasil e a nova revista camarária, houve decisões que tiveram de ser tomadas por aqueles que nos representam. Sabendo-se que o dinheiro não chega para tudo. E as medalhas não são baratas. Alguma coisa teve de ficar para trás. Talvez para o ano as medalhas regressem, dado que não há eleições nem novas assessorias a assegurar a candidatos não eleitos. Nem tão pouco será de prever uma nova revista camarária. E provavelmente não haverá viagens ao Brasil. Talvez as viagens sejam para outro destino, mas em princípio, não será ao Brasil.
E desconhecendo por completo se existe algum tipo de regulamento para atribuir medalhas, até me arrisco a sugerir uma norma que englobe todos os trabalhadores com mais de 25 anos de serviço público:
- Serão condecorados todos os trabalhadores (a maioria provavelmente a título póstumo), quando completarem 50 anos sobre o ano em que iniciaram funções públicas, se, por um acaso, não tiverem sido condecorados pelos 25 anos de serviço prestado ou, por uma outra razão que não aquelas que sustentam os boatos mal intencionados.
E assim de repente, dentro desta norma, estarão dezenas de trabalhadores da Autarquia. Incluindo reformados. Alguns ainda vivos e muitos outros, a título póstumo. Fica a ideia.
Termino com a mesma frase do ano passado: as medalhas não servem de nada, absolutamente de nada, para aqueles que naturalmente vestem (ou vestiram) diariamente a camisola pelo bem público, pelo bem comum, pela ajuda e partilha, pela solidariedade e fraternidade.
Parabéns a todos os não medalhados. Agradeço publicamente a vossa entrega e dedicação, que fez e faz, com que a máquina continue a funcionar.
E lanço um desafio aos Serviços Sociais dos Trabalhadores da Câmara Municipal: façam chegar a todos os serviços camarários uma placa que mencione a atribuição da medalha que receberam. E remetam para as caixas de correio electrónico de todos os trabalhadores uma informação relativamente à atribuição da medalha, partilhando-a com todos. Só assim, a medalha atribuída aos Serviços Sociais fará sentido, dado que a mesma agraciará todos os trabalhadores da Câmara Municipal, sem excepções ou distinções. Porque sem trabalhadores, não existiriam Serviços Sociais.
FONTE DA IMAGEM: condecoracoeshc.pt
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