DESDE QUANDO É QUE A FESTA DAS CHAGAS PERTENCE A UM PARTIDO?
Todos sabemos que temos a CDU connosco todos os dias (mesmo aqueles que não foram votar; mesmo a maioria que não votou CDU; e até aqueles que não pediram para ter a CDU com eles, todos os dias). E todos sabemos que tudo o que acontece no Concelho de Sesimbra é graças à CDU e não, aos nossos impostos e à gestão desses mesmos impostos por parte da Câmara. Aliás, o grande mecenas de Sesimbra é a CDU pelo que importará perguntar urgentemente ao executivo municipal onde é que anda a gastar o nosso dinheiro já que tudo é responsabilidade da CDU de Sesimbra. Adiante.
Na mais recente publicação nas redes sociais da CDU Sesimbra, então não é que surge, mais uma vez, aquela propaganda abusiva, desta vez reclamando para si a Festa das Chagas? Mas desde quando é que a Festa das Chagas é pertença da CDU de Sesimbra?
Diz a legenda que a Festa das Chagas de 2022 retomou o modelo iniciado em 2019. Então mas antes de 2019 não havia Festa das Chagas? Foi preciso vir a CDU de Sesimbra (em 2019) implementar um modelo que, por ter sido interrompido com a pandemia, foi retomado este ano? Fantástico.
Permitam-me utilizar uma frase que parece estar na moda da política sesimbrense: “os senhores vereadores são muito novos, já não se lembram.” E eu acrescento, os senhores vereadores mais velhos, também não se lembram porque, nessa altura, estavam por outras paragens que não Sesimbra.
E a primeira coisa de que não se lembram é que a Festa das Chagas é, uma festa dos Pescadores. E para lutas políticas e partidárias, reclamando para si a Festa e o Senhor Jesus das Chagas, bastaram aquelas que marcaram o final do século XIX e que João Augusto Aldeia deu a conhecer no livro “O "rapto" do Senhor das Chagas e a política partidária de Sesimbra” (que recomendo vivamente aos “muito novos” e aos mais velhos que são novos nestas andanças).
A imagem do Senhor Jesus das Chagas surgiu na praia em 1534. Quer isto dizer que a devoção dos Pescadores de Sesimbra ao Senhor Jesus das Chagas está à beira de completar 500 anos. O arraial terá sido realizado pela primeira vez em 1908, unindo a festividade religiosa a um “parque de diversões mundanas”.
E para os vereadores mais novos (que não se lembram) e os vereadores mais velhos (que também não se lembram), o arraial ocupava a rua entre o cinema e a “escola do comboio” e, a Avenida da Liberdade, desde a “Arcada” até ao “arranha-céus” (e nalguns anos, subia até ao topo do campo de futebol). E de um lado e do outro da Avenida da Liberdade (e na rua entre o cinema e a “escola do comboio”), dezenas de barraquinhas com artesanato, loiças de barro, todo o tipo de pequenos utensílios domésticos, cestos e vergas, roupas, calçado, objectos em ferro e cobre, brinquedos, doces,…
Nos terrenos que são hoje ocupados pelo terminal, instalavam-se os carroceis: a selva, os carrinhos de choque, as cadeirinhas, os aviões, o carrossel do oito,… e também as rifas, as barraquinhas de tiros, as farturas, as bifanas, as pipocas,…
Houve um ou dois anos em que o arraial ocupou os terrenos entre o Hotel Espadarte e a Califórnia. E num desses anos (que mudou o arraial de sítio) uma intempérie abateu-se sobre Sesimbra, destruindo tudo o que eram as barraquinhas do arraial. Nunca mais foi repetida a experiência e o arraial voltou para a Avenida da Liberdade.
O momento alto da Festa das Chagas era a Procissão, seguido da actuação da banda (em regra, da Sociedade da Música) no Coreto que era montado no topo nascente do Jardim. A Festa das Chagas durava no máximo uma semana, dependendo do dia de semana a que calhava o 4 de Maio.
Os concertos também existiam: gratuitos, em espaços públicos e abertos. Durante vários anos, foi montado um palco na praia do ouro (junto ao morro do Macorrilho), onde actuaram bandas como os Xutos e Pontapés ou a Quinta do Bill. Também houve anos em que o palco foi montado no Largo da Marinha (com concertos marcantes de, por exemplo Sérgio Godinho e Carlos do Carmo). Depois, no largo de Bombaldes e, mais recentemente, na Fortaleza de Santiago.
A Festa das Chagas foi crescendo (em número de dias) juntando-se às comemorações do 25 de Abril, com o fogo de artificio na baía de Sesimbra na noite de 24 para 25 de Abril.
Com o passar dos anos, a Festa das Chagas perdeu o Coreto, foi perdendo o arraial e o brilho de outros tempos. Daqueles tempos que nem os vereadores mais novos, nem os vereadores mais velhos, se lembrarão. E este ano, nem sequer houve fogo-de-artifício pelo 25 de Abril (e este facto, é de facto, imputável à CDU de Sesimbra).
Cabe à Autarquia (qual foi a verba despendida pelos cofres camarários para a realização das festas deste ano?), e não à CDU (qual foi a verba despendida pela CDU de Sesimbra para a realização das festas deste ano?), assegurar a realização das festividades, enaltecendo-a e engrandecendo-a, nomeadamente através de um “parque de diversões mundanas”.
Deste modelo que orgulhosamente é reclamado pela CDU de Sesimbra, importa apenas referir: a montagem de um palco, fechando o recinto e criando uma aglomeração de pessoas, que ficam entaladas e encavalitadas umas sobre as outras (entre o morro do bloco do moinho, o palco e os edifícios da Avenida da Liberdade), inviabiliza a saída de emergência rápida se, por um acaso, ocorrer alguma situação de perigo. O palco, sendo dedicado a espectáculos gratuitos, deveria proporcionar uma ocupação aberta, desimpedida e segura, capaz de albergar centenas de pessoas em segurança.
Mas como os vereadores mais novos e os vereadores mais velhos não se lembram de como eram montados os palcos para espectáculos gratuitos (por exemplo, na praia de Sesimbra que enchia até à Fortaleza e toda a marginal e permitia a saída desafogada e em segurança); e aparentemente também não frequentaram ainda nenhum festival de verão, fica a dica: os palcos devem ser montados direccionados para zonas amplas e desafogadas que permitam, numa emergência, a evacuação rápida e segura dos espectadores.
Desde quando é que a Festa das Chagas é pertença da CDU de Sesimbra? Desde nunca. Nem da CDU, nem de qualquer outra força político-partidária. A Festa das Chagas é do povo sesimbrense; é dos pescadores.
E se a CDU de Sesimbra anda atenta àquelas que são realizações da responsabilidade da Autarquia, reclamando-as para si, até tenho umas sugestões para novas publicações.
Por exemplo, uma fotografia de fundo de cada acção que ainda não foi reivindicada, com aquela faixa roxa com letras brancas com as seguintes frases:
ACONTECEU
Limpeza Urbana
- A CDU, desde 2017, implementou um novo modelo de poda, cortes de árvores e limpezas de zonas verdes que arrasa qualquer tipo de forma de vida.
Medalhas
- A CDU, pelo terceiro ano consecutivo, deixou de fora da lista das “Distinções e Condecorações Municipais” os trabalhadores da Autarquia.
Iluminação de Monumento Nacional
- A CDU mantém a muralha norte do Castelo de Sesimbra às escuras depois do incêndio que ocorreu quase há três anos.
Propaganda politica
- A CDU mantém um conjunto de painéis e cartazes de propaganda espalhados pelo Concelho, nomeadamente em equipamentos públicos.
Turismo
- A CDU não aprovou a revisão e actualização do Plano Estratégico de Turismo para o Concelho de Sesimbra (com mais de 10 anos e baseado em dados de 2007), por ser “extemporâneo”.
Guerra
- A CDU não aprovou a Moção pela condenação do ataque militar da Rússia à Ucrânia
Liberdade democrática
- A CDU realiza sessões de câmara deliberativas à porta fechada.
Tradições
- A CDU, não realizou o habitual espectáculo pirotécnico sobre a baía de Sesimbra, no dia 25 de Abril
E no fim, aquela barra com o slogan “CDU Sesimbra, Contigo todos os dias”.
Fica a ideia.
A Festa das Chagas é do povo sesimbrense; é dos pescadores.
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