O MEU ARTIGO DE OPINIÃO NO JORNAL "RAIO DE LUZ"

Partilho aqui o meu artigo de opinião publicado no Jornal "Raio de Luz", dia 29 de Março de 2022.




...


GUERRA

E de repente a Ucrânia, um país europeu livre e independente, é invadido e atacado militarmente pela Rússia. Não quero saber de razões. Não quero saber de enquadramentos, de contextos históricos e políticos. Não quero saber dos jogos estratégicos, de geopolítica e de acordos mundiais. Não quero saber de interesses económicos. Não quero saber. 

A invasão e o ataque militar da Rússia à Ucrânia não é uma guerra de máquinas, de metal frio e bruto que visa atingir alvos militares. A invasão e o ataque militar da Rússia à Ucrânia é uma guerra que dói, que sangra, que mata. Nem o povo russo, nem o povo ucraniano, pediu esta guerra. Não é uma guerra entre povos, mas são os povos que mais sofrem. Diariamente. 

Na Rússia, o povo manifesta-se contra a guerra e é detido violentamente pela polícia, arriscando penas de prisão de 20 anos. Até crianças já foram detidas e uma idosa com 101 anos que sobreviveu à segunda guerra mundial. No mundo inteiro, os povos manifestam-se nas ruas e praças de cidades, ostentando a bandeira ucraniana, apelando à paz e ao fim da guerra. Os líderes mundiais reagem com sanções económicas à Rússia. Ninguém quer uma terceira guerra mundial. Ninguém quer responder com força militar. Ninguém quer dar um passo que seja interpretado pelo governo russo como um ataque ou declaração de guerra. Muito menos a partir do momento em que a utilização de armas nucleares foi abordada. 

Não quero saber da NATO, nem da Europa nem dos Estados Unidos. Não quero saber das hipotéticas razões de uns e de outros. A razão é perdida quando a solução é atacar militarmente, destruir e matar. A Ucrânia é um país da Europa com riquezas naturais e geográficas que parecem suscitar muitos interesses. Não quero saber disso. 

Uma idosa ucraniana, com 80 anos, de cadeira de rodas, escondida na estação de metro (onde vive durante estes dias com centenas de outros ucranianos) dizia, chorando, que a Rússia é um país tão lindo e tão grande; tem florestas, tem montanhas, tem paisagens,… para que precisa da Ucrânia? Para que precisa a Rússia da Ucrânia? Não quero saber de justificações revivalistas e imperialistas. A guerra que persegue o povo ucraniano estava guardada nos livros de história e na sétima arte. Ninguém esperava ver, em pleno século XXI, as imagens de dor e desespero que invadem as nossas casas através dos canais televisivos, 24 horas por dia. 

A Ucrânia tem como flor o girassol, símbolo de felicidade. Seriam felizes os ucranianos, na sua liberdade e independência. Até os tanques, os misseis e os ataques aéreos russos destruírem tudo e todos. Não consigo sequer imaginar uma situação igual em Portugal. E nós, portugueses, ficarmos sozinhos na guerra, protegendo a nossa pátria e o nosso povo, contra o ataque de um gigante. Enquanto o resto do mundo aplicava sanções económicas ao invasor mas nós, todos nós, continuávamos a ser atacados, feridos, mortos, destruídos. Sem ajuda militar de ninguém, que nos ajudasse nesse combate pela liberdade e independência. Até quando aguentarão os ucranianos? 

Até onde irão os russos? Bombardeiam escolas, hospitais, creches, orfanatos, edifícios de habitação. Cidades inteiras estão transformadas em campos de batalha com milhares de ucranianos presos nas suas casas: sem aquecimento, sem electricidade, sem água, sem medicamentos. Do caos instalado, das mortes que se sucedem, corpos são enterrados em valas comuns, abertas em jardins, em logradouros de prédios. Que mundo é este? Que Europa é esta? Que Rússia é esta? Que bombardeia maternidades e jardins de infância? Nada voltará a ser como era. 

O ataque russo à Ucrânia abalará para sempre a nossa confiança em relação aos outros países do mundo que nos rodeiam. E mudará igualmente todos os conceitos de liberdade, independência e democracia. “Malditos sejam os que começaram isto!” diz um homem ucraniano que carrega, com outro, mais um corpo dentro de um saco plástico preto, atirando-o para a vala comum. Valas comuns na Europa em pleno século XXI. Que mundo é este? 

No desespero, as mulheres fogem com os filhos pequenos, rumo a uma Europa que as acolhe de braços abertos. Não sabem para onde vão. Não sabem o que as espera. Tentam sorrir, com os olhos cheios de água. Muitas, transportando bebés de colo. Milhares de crianças fogem da guerra, de olhos assustados e perdidos. São milhares de pessoas desesperadas que tentam apanhar comboios. São milhares de pessoas, sem casa, sem vida, que correm pelas ruas na direcção de abrigos, apenas com a roupa do corpo. São milhares de idosos, muitas idosas sozinhas, desesperadas, sem saber para onde vão e como vão. São milhares de homens que ficam para lutar, mostrando-se fortes perante a partida das mulheres e dos filhos, que não sabem quando voltarão a ver (e se voltarão a ver), completamente destruídos por dentro e de olhares vazios. 

As sirenes tocam. Ouvem-se bombardeamentos. Prédios atingidos. Conversações de paz inúteis, em que o invasor não equaciona sequer, cessar-fogo. A Polónia, porventura o país que melhor sabe o que é uma invasão militar que destrói e mata, mobiliza-se exemplarmente. Milhares de polacos, disponibilizam as suas próprias casas para acolher ucranianos, na maioria, mulheres ucranianas sem nada que não apenas os filhos e uma réstia de esperança num qualquer futuro imprevisível. O mundo inteiro mobiliza esforços, acolhendo refugiados, desburocratizando processos, enviando bens essenciais, alimentos e medicamentos. Por todo o lado são criados postos de acolhimento temporário. Até que as vidas se endireitem, com perspectivas de trabalho e em segurança. 

Para as gerações futuras que, tal como nós, irão ler nos livros de história e ver na sétima arte os relatos desta guerra desumana, iniciada pelo ataque militar russo à Ucrânia, ficarão vários registos. Nomeadamente daqueles cinco países (na Assembleia Geral da ONU) e daqueles 13 deputados europeus que votaram contra a condenação do ataque militar. 

Para a história ficará também Sesimbra: todas as forças políticas representadas na Assembleia Municipal de Sesimbra, excepto a CDU, condenaram o ataque militar da Rússia à Ucrânia.




Comentários

Mensagens populares