ESCURIDÃO TOTAL – CASTELO DE SESIMBRA
Faz amanhã dois anos que a encosta norte do Castelo de Sesimbra ardeu, na direcção da Torre de Menagem. As redes sociais foram invadidas com imagens e todos os meios de comunicação noticiaram o incêndio. No dia seguinte e depois de extinto, a página oficial da Câmara Municipal de Sesimbra noticiava que o incêndio não tinha posto em risco a muralha nem a estrutura do Castelo, não tendo entrado no seu interior. No entanto, a iluminação exterior localizada na encosta norte tinha sofrido danos pelo que a reparação da mesma ocorreria com “a maior brevidade”. (LINK).
A imagem que ilustra este post evidencia a escuridão que, passados dois anos, aguarda a reparação anunciada com “a maior brevidade”. Ora a palavra “breve” pressupõe pouca duração. E “a maior brevidade”, pressupõe rapidez, reduzindo assim a duração que já era, naturalmente, pouca.
O Castelo de Sesimbra é o único Monumento Nacional do território concelhio, assumindo-se como um dos activos turísticos mais preponderantes, sendo enaltecido muitas das vezes por ser o único Castelo de traça medieval, à beira mar. É imponente marcando a paisagem sesimbrense, desde o Cabo Espichel até à Vila que nasceu a partir dele. Foi no Castelo que nasceu Sesimbra. Castelo esse que, abrigando o povo de então, mereceu o primeiro foral em Agosto de 1201. Ou seja, há exactamente 820 anos. Será que, para comemorar esta data, as luzes reacenderão ainda em Agosto?, com pompa e circunstância e umas belas fotos na net?
Ou melhor ainda, no dia da Festa da Luz! E este ano não coincide com aquela festa que dizem “não há como esta”, pelo que seria uma actividade propícia a umas boas fotos para depois surgir como “prestação de contas.” Perdoem-me a ironia mas, será assim tão difícil, comprar meia dúzia de metros de cabo eléctrico e substituir projectores e lâmpadas?
É certo que a gestão de dinheiros públicos não será tarefa fácil e que, existem situações prioritárias. Para já não falar da pandemia, que servirá de argumento para tudo o que não foi feito e para tudo o que, não estando previsto, foi feito. Mas caramba, gastar uns milhares de euros em painéis de propaganda eleitoral disfarçados de informação institucional (que foram agora substituídos; uns com informação de carácter lúdico/cultural e outros com um conselho rodoviário), foi mais importante do que repor a iluminação na encosta norte do Castelo? Ou naquela publicação de 80 páginas, com promessas eleitorais disfarçadas de obras institucionais?
Serão, digo eu, meia dúzia de trocos para repor a iluminação exterior do Castelo de Sesimbra. Trocos esses que, nem por sombras, serão comparáveis com os trabalhos a mais (e por isso, não previstos, tal como esta reposição de iluminação que resultou de um fogo imprevisível) realizados nas obras municipais (como sejam a Escola da Quinta do Conde, o Canil, o novo Centro de Saúde, o Bloco da Mata, a Escola Navegador Rodrigues Soromenho,…) que ascendem a um milhão de euros.
Meia dúzia de trocos para repor um cabo eléctrico, projectores e lâmpadas. E não resisto a dar um exemplo (desconhecendo se os trabalhos realizados estavam inicialmente previstos): Naquele muro rosa que em tempos foi um Aqueduto do século XVIII, com o argumento de que se tratava de uma obra para repor a imagem original (do século XVIII), sobre o troço enterrado foram colocados dezenas, para não dizer centenas, de pilaretes em plástico reciclado, para marcar a existência daqueles troços enterrados. Talvez começar por dizer que o plástico é uma invenção do final do século XIX, sendo que a sua fabricação à escala mundial ocorre depois da implantação da república portuguesa. D. José I estaria longe de saber o que era plástico. E muito menos, plástico reciclado!
Ora se a ideia era a de repor a imagem original pergunto: terá D. José I colocado algum tipo de pilarete que identificasse o troço de aqueduto enterrado? Se sim, que material terá utilizado? E onde se pode comprovar essa existência de marcação? Não me digam que apareceu mais uma fotografia misteriosa, que mostra a existência de pilaretes sobre o Aqueduto? Adiante. Cada pilarete plástico ronda os 20 euros. É só contar e não sendo “uma regra de três simples” é uma simples conta de multiplicar (e claro, acresce a mão de obra necessária à colocação dos mesmos).
Há dois anos (dois anos!) a encosta norte do Castelo ardeu. Para a memória futura, permanece às escuras, com as árvores queimadas que ainda se aguentam de pé. Para os “nós que somos, que estamos em maioria” ficámos a saber que a expressão “a maior brevidade” corresponde no mínimo, a dois anos.
Termino com um pedido a todos os candidatos à Câmara e também, a todos os candidatos à Junta de Freguesia do Castelo: nestas eleições autárquicas introduzam nas promessas eleitorais a reposição da iluminação da encosta norte do Castelo de Sesimbra, logo na primeira semana a seguir à tomada de posse. Para que “a maior brevidade” seja de facto uma acção rápida e de pouca duração. Nos programas eleitorais dos recandidatos, não vale a pena. Já todos sabemos que serão pelo menos dois anos entre a promessa e a concretização.
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