“DESCULPEM LÁ MAS ISTO NÃO CABE NA CABEÇA DE NINGUÉM”

O país está em situação de calamidade até ao próximo dia 31 de Agosto de 2021. E perante esta situação de calamidade, foram definidas um conjunto de medidas gerais e aplicáveis a todo o país, e três fases de desconfinamento. Estaremos na 1ª fase de desconfinamento, dependente das decisões que vierem a ser tomadas em Conselho de Ministros (que decorre à hora em que escrevo), uma vez que conforme informação da Ministra da Saúde, mais de 70% da população portuguesa tem a vacinação completa o que poderá antecipar a 2ª fase de desconfinamento inicialmente prevista para Setembro.

Foquemo-nos no entanto, apenas na 1ª. fase de desconfinamento. Até porque terá sido com base nas medidas definidas para esta 1ª fase de desconfinamento que o executivo camarário tomou conhecimento da realização da Feira do Mel nas manhãs dos próximos dias 28 e 29 de Agosto (sábado e domingo), na Moagem de Sampaio.

De acordo com o programa da Feira do Mel deste ano, estarão presentes diversos produtos apícolas e existirá o concurso de mel. E claro, artesanato, produtos regionais e doçaria. Diz a página da Câmara Municipal que a Feira do Mel regressa em “formato reduzido, devido à pandemia”.

Voltemos às medidas definidas para esta 1ª. fase de desconfinamento (e que partilho aqui o LINK): continuam suspensos (entre outros) os desfiles, festas populares ou manifestações folclóricas ou de outras de qualquer natureza (ou sejam, as festas religiosas que acontecem um pouco por todo o país e que pressupõem a realização de procissões; as festas populares como sejam os santos populares ou outras, como por exemplo, no caso de Sesimbra, o Carnaval de Verão).

São permitidas (entre outras) a realização de “eventos de natureza corporativa realizados em espaços adequados para o efeito, designadamente (…), espaços ao ar livre, com diminuição de lotação.” Sendo que também é permitida a realização de “outros eventos (…) ao ar livre, com diminuição de lotação e de acordo com as orientações específicas da Direção-Geral da Saúde.” E as regras? Teste negativo ou Certificado de Vacinação mas apenas se o evento exceder os 1000 participantes. 

Mas será que a Feira do Mel é um evento corporativo? Ou um outro qualquer evento não nominável? Para a pergunta: “Podem realizar-se feiras e mercados?” A resposta: “Sim. É permitido o funcionamento de feiras e mercados mediante autorização do presidente da câmara municipal territorialmente competente.”

E perante estas medidas em vigor, a Câmara Municipal decide realizar a Feira do Mel na Moagem de Sampaio, “integrada na feira de produtos locais - Sabores da Nossa Terra.” 

“Cabe na cabeça de alguém”, realizar a Feira do Mel na Moagem de Sampaio que, naturalmente enche, todos os fins-de-semana de manhã, com a Feira de produtos locais – "Sabores da Nossa Terra”? 

“Cabe na cabeça de alguém” retirar a feira do Mel do Parque Augusto Pólvora? Um espaço aberto, amplo, desafogado, com condições de adequação às exigências inerentes ao estado de calamidade (definindo um recinto; controlando entradas e saídas; garantindo o afastamento entre os diferentes apicultores, artesãos, doceiros e produtores regionais; estabelecendo um circuito para os visitantes; definindo e implementando regras e dispositivos de higienização;…)?

“Cabe na cabeça de alguém” enfiar a Feira do Mel, com apicultores e os seus produtos apícolas, artesãos com os seus trabalhos artesanais, doceiros com a sua doçaria e, produtores regionais com todos os seus produtos regionais, dentro da Moagem de Sampaio, encavalitados na Feira de produtos locais – “Sabores da Nossa Terra”, com todos os produtores locais que ali estão, todas as manhãs dos fins-de-semana com produtos hortícolas, frutas, pão, mel, doces,… ? E ainda, realizar o concurso do mel, no meio desta azáfama e confusão?

“Cabe na cabeça de alguém”, com o Parque Augusto Pólvora mesmo ali ao lado, a Câmara Municipal promover uma situação caótica na Moagem de Sampaio, misturando nas mesmas manhãs, a Feira de produtos locais – “Sabores da Nossa Terra”, (e que já é habitualmente bastante concorrida), com a Feira do Mel (que como será previsível irá contar com centenas de visitantes)? 

“Cabe na cabeça de alguém” dizer que este ano a Feira do Mel é em “formato reduzido, devido à pandemia” e depois ir ampliar exponencialmente a Feira de produtos locais – “Sabores da Nossa Terra”? 

“Desculpem lá mas isto não cabe na cabeça de ninguém!” Especialmente depois de vários exemplos organizados e que merecem ser referenciados, dado que movimentaram centenas de milhares de pessoas em segurança e cumprindo as normas definidas: refiro-me à organização das mesas de voto para as eleições presidenciais e, à organização dos postos de vacinação. 

Caramba, não será possível organizar uma Feira do Mel num espaço amplo ao ar livre, em formato reduzido, com todas as condições de segurança e em que todos se sintam bem? Haverá necessidade de ir criar uma situação de risco naqueles que habitualmente fazem acontecer a Feira de produtos locais – “Sabores da Nossa Terra”?

Esta ideia de meter a Feira do Mel na Moagem de Sampaio misturada com a Feira de produtos locais – “Sabores da Nossa Terra”, está quase ao mesmo nível daquela outra ideia peregrina de ter transformado o Parque de Campismo do Forte do Cavalo num parque de estacionamento. 

“Desculpem lá mas isto não cabe na cabeça de ninguém!”

(Entretanto, na sequência da reunião de Conselho de Ministros, Portugal passa a estar em estado de contingência, sendo que se mantêm em vigor as mesmas medidas relativamente a eventos, feiras e mercados.)

FONTE DA IMAGEM: noticiasaominuto.com