PRESIDENCIAIS 2021
E o ano de 2020 terminou com a indignação geral sobre o congresso do PCP em estado de emergência, depois do mesmo partido realizar a conhecida Festa, tudo à luz da Constituição da República Portuguesa. Ou seja, à luz da lei do país mas sem o mínimo de bom senso e respeito pelo povo e pelos trabalhadores. Como se os políticos fossem ser supremos acima da humanidade, e por isso, inatingíveis por coisas menores como um simples vírus, nas palavras de Bolsonaro, uma gripezinha. (ficámos entretanto a saber que os políticos foram considerados prioritários por integrarem órgãos de soberania e por isso, começam a ser vacinados para a semana. Não deixa de ser irónico.)
Enfim, politiquices. E como politiquice que era, que é, o povo queria comemorar o Natal. E não havia motivo nenhum para que as pessoas não se reunissem em família… porque na ilusão de muitos, a pandemia iria ficar em stand-by durante as festividades, como se o vírus tivesse coração e compaixão pela humanidade e pela necessidade desta comemorar com os seus, aquela que é naturalmente, a celebração da família. E claro, os portugueses saberiam cumprir as regras definidas e acautelar as suas vidas e as vidas dos outros…
E entrou 2021. E a pandemia afinal não tinha adormecido momentaneamente. Aproveitou a oportunidade e apanhou-a! Com toda a força. E voltámos ao estado de emergência. Com números cada vez maiores em todos os parâmetros. E na semana em que é decretado o confinamento geral obrigatório, começa a campanha eleitoral. Porque, à luz da lei, não se podem adiar actos eleitorais, seja pelo motivo que for.
E foi ver comícios, jantares, pseudo-arruadas, bandeiras e bandeirinhas. Porque a democracia não pode parar. E votar é lutar contra o vírus (palavras do Presidente da Assembleia da República). E temos de cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa (palavras do candidato do PCP). E são cumpridas todas as normas da DGS nos jantares e comícios (palavras do candidato do Chega). Porque os candidatos saberão adequar as suas campanhas a esta realidade (palavras do Primeiro Ministro). Porque os políticos não estão acima do povo e como tal, devem cumprir com o confinamento (palavras do Tino). Porque o candidato não se esquece que é o Presidente da República (e, depois de um teste positivo, seguido de dois negativos, decide uma acção de campanha num centro para idosos… desconhecendo o resultado do teste que tinha feito horas antes…). Porque não fazer campanha eleitoral é não respeitar o povo e as eleições (nas palavras da candidata quase apoiada pelo PS). Porque é preciso chegar às pessoas e não deixar ninguém para trás (nas palavras da candidata do Bloco de Esquerda). Porque este confinamento não pára a pandemia (nas palavras do candidato da Iniciativa Liberal).
E fomos votar. Ordeiramente e em segurança. E o candidato Presidente da República foi reeleito com mais de 2 milhões e meio de votos. Ganhou em todos os distritos. No segundo lugar, a candidata quase apoiada pelo PS, com mais de meio milhão de votos. E em terceiro, o candidato do Chega, perto do meio milhão de votos, coladinho à candidata quase apoiada pelo PS. E em quarto lugar o candidato do PCP, com cerca de 180 mil votos e a proeza de conseguir superar o resultado das anteriores eleições presidenciais e perder em todos os distritos historicamente vermelhos. De seguida a candidata do Bloco de Esquerda (perdendo mais de metade do eleitorado), o candidato da Iniciativa Liberal (com um resultado acima de todas as previsões) e, o Tino (que perdeu na sua freguesia natal).
E eu que não percebo nada de política, ainda fiquei a perceber menos depois de ouvir as reacções de cada um dos partidos e candidatos. E excluindo o Bloco de Esquerda (que assumiu a derrota), Ana Gomes (que assumiu a derrota e também a vitória sobre uma candidatura de extrema-direita), a Iniciativa Liberal (que assumiu a grande vitória da noite) e Tino (que assumiu a derrota e convidou o Presidente da República a visitar Rans), todos os outros foram absolutamente surpreendentes. O líder do CDS regozijou-se com uma vitória esmagadora da direita e do candidato que apoiou. E por isso, diz o líder, o CDS está de parabéns. Para o líder do PSD a vitória foi clara e absoluta do candidato que apoiou. O grande derrotado foi o PS, diz o líder, desde logo por se ter excluído das eleições. E com entusiasmo, o líder regozijou-se pela vitória absolutamente estrondosa de Ventura no Alentejo. Já o PCP nem é derrotado nem vencedor. Vão continuar a luta, na defesa dos interesses do povo e dos trabalhadores. O Chega perdeu. Mas o discurso foi de vitória absoluta. Esmagou a esquerda. E teve quase meio milhão de votos. E o PS?, um discurso tão bonito (estou a ironizar) e tão politicamente correcto que nem consigo parafrasear. E depois de todos discursarem, foi a vez do Presidente da República reeleito.
Que cansaço. Ainda bem que voltámos à ‘normalidade' da pandemia e do confinamento. Podemos agora efectivamente, remar todos na mesma direcção e travar a pandemia? E talvez aproveitar o facto de estarmos fechados e pensar no que raio aconteceu? E no que pode acontecer?
Volto a dizer que não percebo nada de política. Mas perece-me que é chegada a hora de políticos e partidos deste país analisarem o que aconteceu. E dou apenas dois exemplos de dois partidos que construíram a liberdade e a Constituição da República Portuguesa:
O PSD, com toda a história democrática que tem, deve entender estes resultados naquilo que para mim é uma mensagem óbvia: não pode o PSD depender de um partido de extrema-direita para ser alternativa de governo. Tem valores, história e personalidades capazes de iniciar um combate de ideias que se assumam como uma opção governamental e não, como uma coligação que terá na sua raiz valores antidemocráticos.
O PCP não pode fingir que não foi derrotado. Um partido como o PCP é fundamental num estado livre e democrático. Não pode perder eleitorado para a extrema-direita. São a antítese um do outro. O PCP continua com a velha cassete do povo e dos trabalhadores. Há que tirar a cassete e evoluir, pelo menos, para o CD 😊. E em pleno século XXI, em que o candidato às presidenciais é um jovem, deputado no parlamento europeu, não há justificação nenhuma para entupir quando alguém menciona a Rússia ou a Coreia do Norte.
Nas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, a Constituição da República Portuguesa irá comemorar meio século de história. É urgente olhar para tudo isto e perceber que existem quase meio milhão de portugueses descontentes com a democracia que têm. E que não são as divisões sociais, os ódios, os medos, as raivas, que tornarão a sociedade melhor e mais igual.
Que se cumpra e se faça cumprir a Constituição da República Portuguesa. Que tem frases como estas:
- Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses.
- Promover o desenvolvimento harmonioso de todo o território nacional.
- Promover a igualdade entre homens e mulheres.
E nas palavras do candidato que não foi, mas apareceu em primeiro lugar no boletim de voto: deixemos a demo-cracia e entremos na real-cracia.
E nas palavras do Tino, com os exemplos que deu sobre a gestão da famosa bazuca europeia que deve chegar a todos de maneira igual: “Imaginem um campo; nesse campo há uma represa com água. Quando a represa liberta a água, os campos que estão mais perto é que a recebem. Os que estão mais longe, a água demora mais tempo a lá chegar. E quando a água acaba há campos que não tiveram nada. E o que se faz é voltar a fechar a represa para que volte a encher de água. O que é preciso fazer é arranjar formas da água chegar ao mesmo tempo, aos campos que estão mais longe.” Simples.
Esperemos pela bazuca. E veremos se as represas se abrem de igual maneira para todos, cumprindo a Constituição da República Portuguesa. Quero acreditar que sim. Que desta vez as coisas vão correr bem. E que o dinheiro que aí vem não vai voar para destinos incertos, nem encher as barrigas de novos lobbies e interesses económicos. Quero acreditar que desta vez, não vai haver desvios, nem corrupção, nem luvas, nem compadrios. Quero acreditar que desta vez, o ser humano vai puxar do seu valor maior: a humanidade. E que acima de tudo vai estar o interesse colectivo e não o interesse pessoal e individual.
Por agora respiremos protegidos. Temos pelo menos mais sete/oito meses de descanso… até às autárquicas. Depois do verão. Com o início do outono e a descida das temperaturas, e as primeiras chuvas e frios... E as sinusites e as renites e as primeiras gripes… e com o vírus ainda a circular entre nós...
E esperemos que os resultados das eleições presidenciais não nos tragam uma onda de extrema-direita a invadir as autarquias locais. Na minha terra, 3 mil duzentas e sessenta pessoas votaram no Chega (Ventura ganhou largamente na Freguesia da Quinta do Conde e teve apenas menos um voto que Ana Gomes, na Freguesia de Santiago. E apesar de Ana Gomes ter ganho na Freguesia do Castelo – com mais 37 votos – Ventura conquistou o segundo lugar no concelho de Sesimbra, com mais de 800 votos de diferença sobre Ana Gomes).
No PCP (quando em imagens televisivas, Sesimbra foi apresentada como uma comunidade piscatória e comunista, com quem o candidato do PCP podia contar) votaram apenas mil quatrocentas e trinta e uma pessoas. João Ferreira ficou em quarto lugar e muito longe do 2º. e 3º. lugares.
E foi Rui Rio o primeiro a falar na derrota histórica do PCP. E disse gloriosamente, que nunca o PSD ganhou uma autarquia no distrito de Setúbal. Mas o Chega!, chegou, viu e venceu.
A verdade é que, desde que vivemos num estado democrático, o concelho de Sesimbra foi sempre de esquerda (PCP-PS-PCP). E que me lembre, apenas num mandato, o executivo camarário teve dois vereadores de direita (PSD) nos sete possíveis de eleger.
Continuando. Sabemos que muitos dos votos no Presidente eleito são de esquerda. Mas o que não sabemos é para quem seguirão esses votos nas autárquicas.
Também sabemos que as eleições presidenciais não têm nada a ver com as eleições legislativas e muito menos, com as eleições autárquicas. São actos eleitorais completamente diferentes. No caso do Presidente da República, o voto é no candidato. No caso do Governo, o voto é no partido. No caso das Autarquias o voto é misto. Quero dizer, o voto é nas pessoas mas também no partido, dependendo da pessoa que se candidata pelo partido. E no caso de uma autarquia como Sesimbra, o candidato tem mais peso no voto do que propriamente o partido que o apoia. E se o candidato reunir a simpatia da população geral, até pode ter um partido de extrema-direita a apoiá-lo…
Aguardemos pelos candidatos. E pelas candidatas. De esquerda. De direita. E de extrema-direita.
Até consigo imaginar os resultados obtidos por cada força política se, por um acaso, o Chega se apresentar com um candidato forte e popular. Ficaria na história com toda a certeza. Mas como não percebo nada de política, ficam apenas para mim. Não quero lançar discussões sobre futurologia autárquica.
FONTE DA IMAGEM: publico.pt
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