A COR DA PELE

O melhor do mundo, são as crianças!” Porque crescem iguais, livres de pré-conceitos e preconceitos. Porque para as crianças, não existem diferenças, nem religiões, nem partidismos, nem clubismos, nem raças, nem etnias, nem deficiências, nem cores de pele. Essas são catalogações dos adultos. Para arrumar cada um no seu sítio. Dizia um ministro de Salazar, “a cada um o seu lugar”. 

Porque foram os Homens que inventaram as palavras. Para poderem comunicar. E foram os Homens que criaram os ódios. E é com os Homens que as Sociedades crescem. Mais ou menos livres. Mais ou menos violentas. Mais ou menos pobres. Mais ou menos ricas. Mais ou menos preconceituosas. Mais ou menos igualitárias. Mais ou menos fraternas. E são os Homens que educam as crianças. Que eram livres, sem pré-conceitos e preconceitos. E são os Homens que lhes toldam o pensamento. Que lhes definem o berço. Passando-lhes todos os seus medos e preconceitos. Ensinando-lhes o que está certo… e que para outros poderá estar errado. E ensinando-lhes o que é errado… e que para outros será o certo.

Socorro-me das palavras de Agostinho da Silva (1994):
 “Havia uma tribo no Amazonas que gostava das crianças com a cabeça cúbica e, quando elas eram pequenas, punham-lhes umas talas na cabeça para obrigá-las a crescerem cúbicas. Afinal de contas, é o que sucede a todos nós, pois no fundo, a nossa cabeça é cúbica visto as circunstâncias externas obrigarem a isso. Mas quando a Sociedade não nos colocar as suas talas, para nos impedir o crescimento normal, será possível que cheguemos ao mais pleno de nós próprios.” 

E quando respeitarmos o outro, enquanto ser humano igual a nós, que tem os mesmos direitos e deveres. Que chora, que ri, que sofre, que ama, que perde, que ganha. Que tem família, que tem fome, que tem frio, que sente medo, que sente saudades. Exactamente como nós. Porque somos todos seres humanos. Talvez nessa altura, palavras como “refugiado”, “xenofobia”, “racismo”, desapareçam das nossas vidas. Porque as Sociedades perderam as talas e deixou-nos Ser apenas Humanos. Livres, diferentes, iguais. E a Humanidade será de facto, una.  

Que este cenário assustador que domina os americanos, exaltando ódios entre uns e outros, provocando destruição e violência e replicando-se em manifestações um pouco por todo o mundo, nos traga uma mobilização mundial da Humanidade. Que nos indignemos. Que a nossa indignação provoque o fim das diferenças. Sejamos mais interventivos. Mais exigentes. Mais conscientes. E que a Sociedade americana, em Setembro, dê um exemplo ao resto do mundo, mudando de facto aquela que é a terra dos livres. A Humanidade tem capacidade para acabar com isto. Para não permitir discursos ofensivos, racistas e de ódio. Para não permitir grupos radicais e extremistas. Para não permitir violência. Para não permitir o desrespeito pelos Direitos Humanos.

Porque a Humanidade é formada por muita gente boa e talentosa. Direi mesmo que esta, é a sua maior parte. Mas como em qualquer rebanho, existem as ovelhas ranhosas, que alcançam o poder, manipulando, chantageando, movendo massas, criando grupos, gerindo dinheiro e influências. Porque é sempre, sempre, o dinheiro. E quando um dia, as Sociedades do mundo forem mais sociais e menos económicas, a Humanidade dará um passo gigantesco na sua consolidação e sobrevivência.

E pensemos nos seres humanos anónimos que, só por serem isto ou aquilo, são humilhados, usados, pisados. Pensemos nos seres humanos anónimos que, só por serem daqui ou dali, são menosprezados, rejeitados, isolados. Pensemos nos seres humanos anónimos que, por terem uma cor de pele diferente, são mortos. Como George Floyd. Sem misericórdia. E debaixo dos olhares de dezenas de outros seres humanos. Que nada fizeram para auxiliar quem pedia socorro: I can´t breathe. E não fosse a coragem de alguém que filmou toda aquela situação, seria apenas mais uma morte, perfeitamente anónima, esquecida e perdida num qualquer arquivo de ocorrências…

E lembrei-me de alguns nomes, perfeitamente conhecidos e que, representam muito de bom que a Humanidade produziu e que são, no mínimo, inspiradores:
Cesária Évora, Nelson Mandela, Kofi Annan, Spike Lee, Nelson Évora, Martin Luther King, Will Smith, Denzel Washington, Ray Charles, Tina Turner, Whithney Houston, Bau, Naide Gomes, Conceição Queirós, Francisca Van Dunem, Sidney Poitier, Diana Ross, Prince, Barack Obama, Michelle Obama, Sara Tavares, Stevie Wonder, Patrícia Mamona, Pelé, Tiger Woods, Oprah Winfrey, Louis Armstrong, Eusébio, Seu Jorge, Morgan Freeman, Whoopi Goldberg, Usain Bolt, Michael Jordan, Beyoncé, Eddie Murphy, Bob Marley, Michael Jackson, Nina Simone, Milton Nascimento, Gilberto Gil,…

Quantos destes nomes farão parte das vidas daqueles que, só por serem brancos, se julgam de uma raça superior? Mas que têm os seus clubes, os seus atletas de eleição, os seus cantores e bandas favoritas, os seus filmes preferidos,…. Talvez apenas nestas circunstâncias, não olhem para a cor da pele… valha-nos Deus.

E falando em Deus, segundo mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Utopias?



IMAGEM: fotografia de Robert Mapplethorpe


Comentários

Mensagens populares