CORONAVIRUS COVID-19

No momento em que escrevo, existem em Portugal 41 casos confirmados sendo que 667 estão em análise. O governo decretou que eventos com mais de 5 mil pessoas, devem ser suspensos ou adiados e, suspendeu os voos de e para as áreas italianas infectadas. Estão 100 mil pessoas em isolamento e Felgueiras (a região mais afectada) admite recorrer a sanções para os que não acatarem a ordem de quarentena.

Como a nossa lei não obriga ninguém a ficar fechado, porque temos todos o direito à liberdade, parece que há pessoal que por ser livre, não fica isolado dos outros que, sendo livres igualmente, poderão ficar doentes… nem tenho palavras. E até já existem debates sobre as discrepâncias entre a Lei de Bases da Saúde e a Constituição da República... parece que temos tempo para debater a lei quando, o vírus anda por aí, a gozar da liberdade que o seu portador tem. 

Alguém que está infectado tem a liberdade e o direito constitucional de não ficar isolado. De fazer o que lhe apetecer. E se agora o governo aprovar uma Lei que obrigue ao isolamento, ela pode ser considerada inconstitucional porque põe em causa o direito à liberdade! Fantástico. Quase digno de Fellini. Dizem no debate que terá de haver bom senso. E eu repito o que alguém me disse um dia numa reunião: “o bom senso não vem na Lei”.

Continuando: a meia maratona de Lisboa marcada para o dia 22 de Março, foi adiada para Setembro. A conferência mundial de turismo, marcada para o Algarve, foi cancelada. O Primeiro-Ministro reuniu com oito ministros para implementar ou não, novas medidas que serão anunciadas amanhã, entre elas o encerramento de todas as escolas do país. Ou não. Todos os jogos de futebol serão realizados à porta fechada e, o concerto de Tony Carreira no Altice-Arena foi cancelado. No Alentejo, não existem casos. Em Lisboa, a Câmara decidiu encerrar museus, teatros, galerias, bibliotecas e piscinas municipais. As universidades de Lisboa, Coimbra e Minho e, o Instituto Superior Técnico, suspenderam todas as aulas presenciais. No Porto, a Câmara decidiu cancelar todos os eventos abertos e encerrou museus, galerias e piscinas municipais. E, não menos importante, os prémios que a TAP iria atribuir (mesmo com prejuízo), foram anulados graças ao COVID-19.

 A bolsa de Lisboa caiu drasticamente, perdendo 5 mil milhões de euros em apenas um dia. O que nos sossega parece, é que aconteceu o mesmo em todas as bolsas do mundo. Para além da liberdade dos cidadãos, o Covid-19 ataca em força a economia nacional e mundial. 

Ou seja, para além da questão de saúde, grave grave, vai ser a queda económica. E no caso de Portugal, a primeira baixa vai ser no Turismo: menos turistas, menos estadias, menos dinheiro a entrar… que ajudou em muito a equilibrar as contas públicas. Depois, se a quarentena e isolamento colocar os portugueses em casa, haverá menos consumo (comércio e serviços). As empresas terão de continuar a pagar ordenados sem produzirem. As exportações vão baixar. E as importações também. (Acresce, digo eu, a greve dos estivadores de Lisboa – até 30 de Março – que abastece a cidade e toda a região de Lisboa). Se juntarmos a isto, a quantidade de produtos e componentes que importamos da China (e de outros países igualmente infectados) e que poderão vir a ficar suspensos, o cenário poderá ser catastrófico. Mas, é só um cenário. E como dizem os especialistas, “temos de antever o pior para esperar o melhor”.

Entretanto, na China os casos estão a reduzir e cerca de 75% dos infectados estão curados. Em Macau, não existem novos casos há mais de 30 dias, depois das medidas que, na altura, foram consideradas drásticas. 

A Grécia encerrou todas as creches, escolas e universidades do país, durante pelo menos, duas semanas. Não porque existam casos mas antes como medida preventiva face à possível propagação do vírus. 

A Eslovénia encerrou a fronteira com a Itália. A Air-France cancelou todos os voos para Itália até dia 3 de Abril.

O país Itália está de quarentena até dia 3 de Abril, isolado do resto do mundo. 60 milhões de italianos não podem sair de casa até dia 3 de Abril. A menos que provem que, por motivos de trabalho ou de saúde, o tenham de fazer. (Parece que em Itália a lei prevê que a liberdade seja condicionada se puser em causa a saúde pública e a liberdade dos outros). Nas últimas 24 horas, morrerem 168 italianos contaminados.

Enfim. Depois disto tudo, e como alguém me dizia ontem, desta vez a solidariedade e ajuda europeia não vai ser igual. Porque todos os países da Europa estão com o mesmo problema e terão de implementar as suas próprias medidas e soluções. Ou seja, o dinheiro terá de ser bem gerido e bem distribuído.

Diz o Ministro da Economia que as medidas orçamentais aplicadas, nomeadamente nos gastos da saúde para combater o vírus, não serão contabilizadas para efeitos de défice. E o Primeiro-Ministro aconselha a que cada um de nós tome as medidas recomendadas pelos organismos oficiais e que continuemos a fazer “a nossa vida da maneira mais normal possível”.

Como é que podemos continuar a fazer a nossa vida normal, perante um cenário destes? Nós, que somos o ser vivo mais poderoso do planeta, que temos a ilusão de tudo controlarmos? É este medo que nos invade a mente, perante o desconhecido, que nos faz vacilar. Onde é que está a nossa superioridade enquanto espécie, perante um vírus que surge sem que ninguém o antecipe? Que mais vírus virão e de onde? E quando? E se este é um vírus do tempo frio, será que virão outros, com o tempo quente? Ouvi um entendido dizer que a comunidade científica conhece cerca de 2 mil vírus diferentes mas, nas últimas análises que foram feitas aos oceanos, encontraram dois mil vírus que não conhecem… Pergunto: já alguém pensou nas consequências globais do aquecimento planetário nos vírus que por aí andam? Que efeitos terão na saúde da espécie dominante: o ser humano?

Mas há uma coisa que este COVID-19 relembrou ao ser humano: a sua fragilidade. Que conduziu a outra certeza: a importância da vida humana. 

Resta-nos continuar “a nossa vida da maneira mais normal possível” e acreditar que o cenário previsto surge da máxima: “antever o pior para esperar o melhor”.

Talvez o excedente orçamental constante no Orçamento de Estado para 2020 nos ajude perante um cenário catastrófico. É para isso que servem os mealheiros: para cobrir os imprevistos. E que imprevisto!




FONTE DA IMAGEM: bbc.com

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