A SUBIDA DO NÍVEL DAS ÁGUAS
Não percebo rigorosamente nada de aeroportos. Para mim, são estruturas fundamentais e imprescindíveis para a mobilidade entre países e continentes. E nas capitais dos países ditos desenvolvidos, existem grandes estruturas, mais do que uma, na periferia da cidade capital, com uma rede de transportes eficaz que assegura as movimentações entre o aeroporto e os diferentes destinos citadinos. Nos outros países, a estrutura é mais pequena, por vezes deficiente e, nalguns casos, distante do destino citadino.
O caso da cidade de Lisboa é capaz de ser único. Tem o seu aeroporto dentro da cidade, sendo que os aviões sobrevoam uma grande parte da cidade habitacional e comercial. Aeroporto esse que, dizem os entendidos, está esgotado e precisa urgentemente de uma segunda opção. Muitos defendem o alargamento do próprio aeroporto. Mas levanta-se a questão de duplicarem ou triplicarem o número de voos a sobrevoarem a cidade. E todos os riscos que envolvem esse sobrevoo, nomeadamente numa situação de acidente aéreo na aterragem ou na descolagem.
A verdade é que Portugal afirmando-se cada vez mais como um destino turístico de europeus, asiáticos e americanos, (sendo que as receitas turísticas têm vindo a fortalecer o nosso desempenho económico), parece-me que, se é essa a intenção, a de fazer crescer Portugal como destino turístico de referência, é urgente um novo aeroporto.
E no debate no parlamento, fiquei a saber que se discute a localização do novo aeroporto de Lisboa há 60 anos. E que existiram 17 possíveis localizações. E depois de anos de debate, a decisão foi tomada em 2014/15: Portela + Montijo.
Pergunto: 60 anos? 60 anos só para encontrar a localização de 17 possíveis? E ao fim de 60 anos, e depois de uma decisão, volta a discussão da localização? Se voltarmos a este debate, Portugal será o único país do mundo a demorar um século para decidir apenas, uma localização! Surreal.
Fui ver as localizações que ainda perduram:
BEJA – a 200 km da capital. Pergunto: Então mas o aeroporto é para ser o segundo da capital do país ou, para ser o novo aeroporto de Beja? A 200 km da capital? Nem quero imaginar as questões ambientais que se iriam levantar para garantir o transporte eficaz desde Beja até Lisboa (TGV?, táxis aéreos?)
ALCOCHETE – que poderia ser construído por fases e custaria o mesmo que o Montijo. Mas que provocaria o abate de uma grande área de sobreiros e seria implantado num importante aquífero. Para além das aves (as mesmas do Montijo).
MONTIJO – a solução mais barata e mais perto da cidade de Lisboa. Tem as aves e a água que, segundo os especialistas, com as alterações climáticas subirão nos próximos 30 anos, inundando as pistas do aeroporto.
Pergunto: 60 anos? A sério? Então mas os políticos deste país não sabem chegar a consensos de estado? Não sabem tomar uma decisão de estado, unânime e consensual?, que não se altere com a mudança de governos? Uma decisão para o interesse do país, sem partidarismos?
A verdade é que, seja onde for a localização do aeroporto, terá sempre, sempre, impactos ambientais irreparáveis. E se questionamos tanto os pareceres de técnicos habilitados para o efeito, para que é que os mesmos são solicitados e emitidos? Já sabemos que Portugal é um país de sábios. E todos os sábios que por aí andam sabem mais do que os técnicos habilitados e que não são sábios. E os técnicos que não emitiram pareceres (hipoteticamente vinculativos e que irão sustentar as decisões politicas), são mais sábios do que todos os outros que analisaram os documentos e as diferentes propostas. Surreal.
E para mim, que não percebo nada de aeroportos, não consigo perceber quem tem razão. E qual é afinal a melhor localização. Se se trata de uma teimosia, de um negócio, ou de uma solução viável.
Mas a decisão sobre a localização do aeroporto do Montijo também passa pelos Presidentes de Câmara dos concelhos abrangidos. E há dois municípios contra. E o Primeiro-Ministro vai reunir com os dois Presidentes. Para ouvir as reivindicações e encontrar soluções. Estou ansiosa por saber quais serão as condições apresentadas pelos dois municípios que possam conduzir a uma alteração das suas decisões. Em nome de um interesse nacional. E também local, claro está. 😊
E sobre as alterações climáticas e a subida do nível da água. Fiquei preocupada. Porque se daqui por 30 anos o aeroporto do Montijo (se vier a ser construído) estará debaixo de água, o que será de Lisboa? Da baixa de Lisboa? Se calhar é melhor esquecermos um novo aeroporto e garantirmos a sobrevivência da capital do país.
E até já tenho uma ideia para resolver o problema: a construção de uma muralha que rodeie a zona baixa da cidade e a proteja da subida do nível da água. Uma muralha como a dos finais do século XIV. Mas desta vez seria a “muralha Antoninha” (de António 😊). Fica a ideia. Talvez mais um motivo de discussão para os próximos 60 anos…
E lembrei-me agora: e o Seixal? E o Barreiro? E o Montijo? Já estou a imaginar lindas muralhas a protegerem toda a frente do rio Tejo que irá subir nos próximos 30 anos. Vou já começar a fazer desenhos! Talvez depois os partilhe 😊
FONTE DA IMAGEM: Expresso
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