1º. DIA DE EMERGÊNCIA NACIONAL 19.MARÇO.2020
E de repente, as nossas vidas pararam.
Parou a pressa, a azáfama, o trânsito, a falta de estacionamento, o stress da correria, os atrasos, a falta de tempo para um número infindável de coisas que não conseguíamos fazer, dia após dia.
Voltámos a ser pessoas apenas preocupadas com a vida. E com a saúde. E com a segurança. E com a higiene. E com a alimentação. Porque são estes os pilares da vida. Para além do amor que sentimos, que damos e que recebemos. E é este sentimento profundo, do saber que não podemos ir, estar, que verdadeiramente nos dói. Que nos ata o peito. Que nos retira a liberdade de ir, de estar. E vem a saudade. E a preocupação. E os telefonemas e as video-chamadas 😂
A verdade é que este primeiro dia de emergência nacional é só o primeiro do resto das nossas vidas. Que irão ser com toda a certeza, para uma grande parte de nós, diferentes. Porque se agora nos parece difícil ficar em casa, futuramente ser-nos-á difícil voltar às rotinas de um mundo rápido, competitivo, duro, sem dó nem piedade pelos mais fracos.
Vai ser difícil voltar ao mundo que só está preocupado com números e com metas orçamentais, esquecendo as pessoas. A humanidade.
O Covid-19 tornou a humanidade una. Somos todos humanos, independentemente da nossa localização geográfica. E existe um valor maior em toda a humanidade: a vida. E a riqueza, os bens materiais e os zeros à direita nas contas bancárias, não nos servem neste momento para rigorosamente nada.
O que queremos é que o sistema de saúde funcione, com médicos e enfermeiros a serem descritos como heróis (quando há tão pouco tempo eram enxovalhados por reivindicarem melhores condições de trabalho e um maior reconhecimento).
O que queremos é que as forças de segurança assegurem a nossa segurança e a segurança do nosso país (quando há tão pouco tempo eram enxovalhados por reivindicarem melhores condições de trabalho e um maior reconhecimento).
O que queremos é que os agricultores, os lavradores e os produtores de todo o tipo de bens continuem a cultivar, a alimentar os animais e a produzir tudo o que precisamos (quando, na cadeia económica mundial são o elo mais fraco).
O que queremos é que a distribuição dos diferentes produtos chegue aos locais habituais, com o empenho dos motoristas de pesados (quando há tão pouco tempo ficámos a conhecer as dificuldades da profissão, a solidão, os turnos, as horas consecutivas de condução).
O que queremos é que os super e hiper mercados continuem a funcionar, com todos os empregados a repor stocks e a garantir a abertura de portas (quando sabemos que é neste sector que existem tantos vínculos precários, que trabalham por turnos e com baixos salários).
O que queremos é que o governo nos garanta a nossa sobrevivência, enquanto seres vivos mas também, enquanto agentes económicos. Garantindo-nos os nossos salários, empregos e sustentabilidade económica. E é bom ver que, este vírus mortal e invisível, apagou as diferenças políticas e partidárias. É bom ver e ouvir o parlamento a uma só voz, preocupado de facto, com os portugueses. Com a vida dos portugueses. E das empresas e dos negócios portugueses.
O que queremos é ultrapassar tudo isto. E que o mundo, uno e universal, fique livre e vivo. Porque tudo o resto, é só uma consequência de se estar vivo.
Que este vírus nos una. E que no futuro, seja de facto a vida, o valor mais alto e importante de todo o sistema mundial.
E talvez passemos a ter orçamentos europeus e orçamentos nacionais mais preocupados com os europeus e os cidadãos, com a vida, com a saúde, com a segurança com a garantia de bens e serviços, com salários e empregos. E deixemos de nos preocupar tanto (quase obsessivamente) com os bancos e os desaires financeiros e as injecções de capital e as nacionalizações do sistema bancário e as dividas milionárias e as metas orçamentais e a divida ao banco central europeu e o défice e o PIB,…
Termino com uma pergunta: se fomos nós, os portugueses, que através dos nossos impostos, dos cortes salariais, da subida dos impostos, da congelação de carreiras e da sobretaxa do IRS, pagámos as dívidas dos bancos, será que os bancos agora, nesta fase mortal da vida (que os sustenta), vão fazer alguma coisa que nos ajude a combater esta guerra contra um inimigo invisível e poderoso?
Aguardemos.
Protejam-se e protejam.
FONTE DA IMAGEM: covid19.min-saude.pt
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