ENQUANTO HOUVER CÉU ESTRELADO...
Notícia no Expresso:
Se nalguma noite, entardecer ou amanhecer vislumbrar uma série de pontos luminosos em movimento, como se fosse um comboio de luzes a seguir viagem, nada tema. Não é um ataque ou invasão alienígena em marcha, mas um dos cinco lotes de satélites de Musk.
Diz a notícia que o Sr. Elon Musk pretende enviar para o céu 40 mil satélites. E como os satélites brilham mais do que os outros objectos já em órbita (cinco mil), existem relatos um pouco por todo o mundo sobre os satélites a percorrerem os céus: umas luzes brilhantes, atrás umas das outras, a andarem de um lado para o outro.
E quem é o Sr. Elon Musk? E porque irá lançar para o espaço 40 mil satélites? Simples: o Sr. Musk é o multimilionário sul-africano dono da Tesla e, os 40 mil satélites que irá colocar em órbita permitirão que a internet de alta velocidade chegue a todos os sítios do mundo onde ainda não existe ou é lenta ou muito cara. Fantástico!
Para mim, que sou do século passado, faz-me confusão pensar no planeta terra rodeado por uma rede de internet que nos irá controlar a todos. Filtrar os nossos hábitos, gostos, preferências. Parece-me uma cena de filme: surreal. O problema é que é real. E está aí, à vista de toda a gente, um pouco por todo o mundo.
E como se trata em primeiro lugar, de um negócio, já há concorrência. E vamos então ter o Sr. Jeff Bezos (que ainda só é milionário) a lançar mais de três mil satélites para o mesmo fim. (O Sr. Bezos é o fundador da Amazon).
Diz a mesma notícia que actualmente existem cinco mil satélites a girar à volta da Terra, sendo que apenas 1900 estão activos. Os outros 3100 são lixo espacial. Lixo espacial. Vamos ter mais 40 mil satélites do Sr. Musk e, mais de 3 mil do Sr. Bezos. Num total que rondará os 50 mil satélites à volta da Terra…
Os cientistas estão preocupados. Dizem que o céu deixará de ser como o conhecemos. Daqui para a frente, veremos satélites que como são mais brilhantes, se irão sobrepor ao céu estrelado, às zonas de escuro, onde é possível ver constelações e até alguns planetas. Dizem até que num futuro próximo poderemos vir a ter anúncios luminosos no céu. Já pensaram? Naquelas noites limpas, um anúncio publicitário de uma qualquer bebida gaseificada. Ou linhas de noticias a piscar com “última hora!”. Ou melhor ainda, as campanhas eleitorais projectadas indefinidamente nos céus que nos rodeiam. E será que vão ter som? Valha-nos Deus!
Esta ideia nobre de colocar internet em todos os recantos do mundo, é louvável. Pelo menos por dois motivos:
1º. A coisa que faz mais falta ao mundo, às pessoas que habitam o mundo, é mesmo, mesmo, a internet em todo o lado. 😊
2º. Com o planeta a esgotar os recursos, cada vez mais poluído e saturado, é louvável começar a enviar lixo para o espaço. 😊
Louvável, louvável seria o multimilionário sul-africano colocar água potável em todos os recantos do seu continente. Isso sim, era um gesto louvável. Mas não era a mesma coisa. Nem tão pouco geraria o lucro ambicionado a curto prazo. E desde quando é que o Sr. Musk, só por ser sul-africano e multimilionário se teria de preocupar com as condições de vida do povo do seu continente? Para isso tinha sido politico! E não, multimilionário. Ou talvez conseguisse atingir os dois epítetos: político e multimilionário. Nunca saberemos.
Isto de misturar problemas terrestres com ambições espaciais não lembra a ninguém. O que é que interessa onde é que os multimilionários gastam dinheiro? Alguém pergunta onde é que os não-multimilionários gastam dinheiro? Não temos todos o “livre-arbítrio” de fazermos o que quisermos de acordo com as nossas vontades e ambições?
E o Sr. Musk é ambicioso. Diz a notícia que em 2022 fará a primeira viagem a Marte e que, em 2024 serão enviadas as primeiras tripulações. Mas há mais: em 2050 o Sr. Musk irá transportar um milhão de pessoas para o planeta Marte. Serão os primeiros habitantes daquele planeta (e quem serão os escolhidos?, ou os ‘obrigados’?, ou os que pagam mais?)
Para além de ambicioso é visionário. Não é 2050 o ano limite do planeta Terra? É bom que existam alternativas para que toda a gente possa sair do planeta e começar do zero, tudo de novo.
Com gases poluentes, plásticos, produção massiva de bens, lucros económicos, economia linear,… e depois há sempre Vénus, mesmo ali ao lado… quando Marte atingir o limite… e aparecer um outro multimilionário qualquer que nos trará a salvação divina!
Como dizia a minha avó: “isto já não vai ser no meu tempo!”. Graças a Deus!
Do meu tempo é a fome, a guerra, a miséria, a pobreza. Do meu tempo é a impotência que, em pleno século XXI, o mundo tem para conseguir garantir qualidade de vida a todos os seres humanos. Porque há sempre um valor mais alto, que nunca é a vida nem a dignidade humana. É sempre, sempre, sempre, o dinheiro. Com negócios que geram milhões, altamente poluentes, e que apelam ao consumismo desenfreado daqueles que vão querer ter no telemóvel, no Tablet, no relógio, internet de alta velocidade em qualquer parte do mundo. No topo dos Himalaias! Na Antártida! No meio do Pacifico!
Vai ser melhor do que aquele anúncio da rádio. Fica aqui a ideia:
Em casa, no carro, no mar ou em terra! Na montanha, na planície ou na savana! Em grutas, em desertos, ou em qualquer lado! Internet!
Termino com uma pergunta: quem é o país, ou o grupo de países, ou as instituições, ou organizações que autorizam que mais de 40 mil satélites invadam o espaço e constituam uma rede de internet à volta do planeta que é de todos? Quem é que tem essa competência?
FONTE DA IMAGEM: as maravilhas do céu estrelado.com
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