O ÚLTIMO ESTADISTA PORTUGUÊS
Hoje, a 3 dias das eleições legislativas, Portugal assiste ao desaparecimento do último estadista português. Um dos pais da democracia e do estado de direito democrático pós 25 de Abril.
Diogo Freitas do Amaral, Álvaro Cunhal, Francisco Sá Carneiro e Mário Soares construíram o Portugal democrático que conhecemos. E tão diferentes figuras fundadoras da democracia portuguesa, tinham pelo menos três pontos em comum que defendiam fervorosamente: a liberdade, a paz e a dignidade e respeito pelo ser humano.
Estamos na recta final das campanhas eleitorais. E a pergunta que se põe: quem são os estadistas que nos garantirão o futuro? Onde andam as figuras ímpares, que apesar de ideologicamente diferentes, conseguem construir um futuro uno, de paz, de liberdade, de dignidade e respeito pelo ser humano?
Que lideres, partidos ou campanhas falam globalmente, com ideias de estado e compromissos para o futuro? Onde está o ser humano nestes discursos politizados, onde a única coisa que parece interessar são as promessas de reduzir impostos e subir vencimentos?
E o mais preocupante: onde estão as referências, as vozes firmes e certeiras, que possam conduzir, pelo seu saber e experiência, as decisões destes jovens e ambiciosos políticos caseiros que discutem o agora e não apresentam qualquer tipo de estratégia ou proposta, para o futuro. Futuro esse que é mais tecnológico e menos humano. Que sofre com as consequências das alterações climáticas e é invadido por “inteligência artificial”.
Quem irá assegurar a paz? A liberdade? E o respeito pelo ser humano? Será a ”inteligência artificial” e a tecnologia que comandará a nossa vida? E que vida será essa? Seremos nós os possuidores de “inteligência artificial” ou, será a “inteligência artificial” que nos irá possuir?
Quem irá definir limites? Quem irá garantir os valores humanos? Numa altura em que o mundo parece estar em ebulição? E não são só as alterações climáticas e as promessas vãs sem medidas sérias e concretas.
Não se vislumbra uma ideia concreta de futuro. Que não o PIB, a divida, os impostos, a ferrovia,... E claro, o caso Tancos!
A estes quatro homens que construíram o Portugal democrático, devemos o que somos enquanto nação. Enquanto portugueses. E que em 1976, saídos da revolução de Abril, discutiram, escreveram, defenderam e aprovaram a Constituição da República Portuguesa. E transcrevo apenas uma parte do preâmbulo: “garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno”.
E também o seu primeiro artigo: “Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária”.
Que estes nomes, não sejam apenas nomes vagos, perdidos e esquecidos com o passar dos anos. Que Diogo Freitas do Amaral (fundador do CDS), Álvaro Cunhal (fundador do PCP), Francisco Sá Carneiro (fundador do PSD) e Mário Soares (Fundador do PS), sejam pelo menos, inspiradores.
E que a principal mensagem sirva de exemplo futuro: apesar de ideologicamente distantes, conseguiram gizar um documento comum, para um país que saía aos poucos de um regime fascista e que unia Portugal e todos os portugueses. E com artigos, vistos a esta distância, absolutamente fantásticos para a época, como sejam os artigos relativos ao “Princípio da igualdade”, “Direito à vida”, “Direito à integridade pessoal”, “Direito à liberdade e à segurança”, “Liberdade de expressão e informação”, e tantos outros que integram os 276 artigos que compõem a Constituição da República Portuguesa.
Que os valores sobrevivam. Que a democracia continue firme. Que a humanidade seja o valor mais alto e soberano. E que os actuais políticos aprendam com o passado. E que se unam para o futuro que se aproxima. Apesar de afastados ideologicamente.
E como alguém disse, há vida para lá do PIB! E é de vida que se trata. Porque sem vida, não há PIB.
Fonte da Imagem: RTP.PT
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