TENTH ROUND: CRISTAS/SILVA. AND THE WINNER IS...
E na RTP 3, António José Teixeira de casaco preto, camisa branca e gravata azul com uns quadradinhos brancos, modera o debate entre Assunção Cristas, de casaco cinza com quadrados azuis e t-shirt cinzenta e, André Silva de camisa branca desabotoada.
E a primeira pergunta de António José Teixeira é para Assunção Cristas: de acordo com as suas últimas declarações, o que é que falhou na direita nestes 4 anos?
Assunção Cristas começa por dizer que seria "importante debater os programas e as propostas apresentadas e não continuar a falar do passado". António José Teixeira insiste e Assunção Cristas diz que "a esquerda foi apoiada pelo PAN. André Silva dizia ser contra António Costa mas aprovou os orçamentos. É necessário olhar para o que se está a passar. E para o risco de termos um governo muito virado à esquerda."
Apela ao voto contra a esquerda em vez de apelar ao voto no CDS. Isso quer dizer que as propostas da direita falharam?, insiste António José Teixeira. Assunção Cristas sorri: "É importante explicar o programa do CDS". E ataca dizendo que "o governo socialista foi apoiado pelo PAN".
António José Teixeira refere que os outros partidos dizem que o PAN apresenta propostas muito soltas e pouco estruturadas. Fez contas para todas as medidas?
André Silva começa por dizer que: "O que é importante é mostrar o projecto para o país. O PAN, ao contrário do CDS que apresenta um programa para dar tudo a todos, a caminho de um eventual resgate como vimos no passado. Não propomos baixar todos os impostos com contas que nos podem levar a uma situação calaminosa".
E António José Teixeira pergunta: Qual é o cenário macro-económico que sustenta as suas propostas. E André Silva responde que o cenário macro-económico tem que ver com o "abrandamento económico".
Assunção Cristas reage de imediato, fitando André Silva: "Fico estupefacta ou com a falta de memória ou com a desonestidade politica de André Silva. Quem levou o país à bancarrota foi o PS. Olho para o programa do PAN e vejo 480 medidas para aumentar os impostos".
André Silva responde: "O CDS promete tudo a todos. Vocês não se podem demitir do estado a que chegámos. O CDS tem contribuído para a degradação dos serviços públicos". E fala do Serviço Nacional de Saúde, com números e dados e cenários.
O debate está aceso. Assunção Cristas dispara: "2017 é do seu governo, com o orçamento que você aprovou. O senhor foi conivente com estes orçamentos".
E introduzido que está o tema da Saúde, António José Teixeira pergunta André Silva se concorda com a politica do CDS para o Serviço Nacional de Saúde. E a resposta: "O CDS não é sensível a esta matéria do Serviço Nacional de Saúde. O objectivo do CDS é descapitalizá-lo". E continua, dizendo que "tem de se encontrar financiamento e pensar num regime de exclusividade dos médicos no Serviço Nacional de Saúde. Temos de encontrar uma forma, através de uma devida compensação salarial".
Assunção Cristas defende a ADSE para qualquer português. Defende que a saúde privada faça parte do serviço público, nomeadamente em consultas de especialidade. E que "o PAN é contra a liberdade das pessoas poderem escolher. Seja na saúde ou nas questões alimentares. O PAN é um partido profundamente autoritário, ideológico e ditatorial. Eu percebo que queira ser vegetariano. Percebo e respeito. Mas essa opção não deve ser imposta, deve ser uma opção."
E António José Teixeira pergunta a André Silva: faz sentido obrigar as escolas a terem uma refeição vegetariana? Impor essa regra, não correrá o risco de ser uma espécie de autoritarismo? André Silva, já com a ruga da testa bem vincada, responde: "Não. Temos de reduzir o consuma de carne". E António José Teixeira afirma: Isso não quer dizer que tenhamos de ser todos vegetarianos. E André Silva responde: "É instituir que a refeição é vegetariana, com outras opções". Fala das recomendações da ONU, da necessidade de reduzir a produção animal e o consumo de carne. Da necessidade de travar a pecuária, referindo a sustentabilidade do planeta.
E Assunção Cristas interpela-o falando da realidade do país e da utopia em pensar-se que todos seremos vegetarianos. "Até porque se deixarmos de produzir carne, teremos de importá-la. E quanto é que vale essa pegada ecológica? E a soja, que está na base da alimentação vegetariana? Sabe que a Europa não produz soja? Ela vem quase toda do sudoeste asiático? E o carbono?"
André Silva remata: "O CDS lida muito mal com a evolução. É um partido que rejeita estas propostas que seguem as orientações da ONU".
E Assunção Cristas reage imediatamente: "O PAN é em si mesmo um poço de contradições. Uma coisa é promover boas práticas, outra coisa é obrigar a seguir a cartilha. O PAN é profundamente ideológico a querer mandar na vida e nas casas de todas as pessoas".
O debate está taco-a-taco. Fala-se de soja e de percentagens de soja e André Silva diz que não é verdade: "A soja não é a base da alimentação de um vegetariano". E Assunção Cristas diz: "Ai é é!". E André Silva responde: "Não é não." E Assunção Cristas diz: "É, é". E António José Teixeira muda de tema: o envelhecimento dos professores. Apenas 1% dos professores estão abaixo dos 30 anos. Como olham para esta questão?
Foi como se não tivessem ouvido, tal era a teima da soja. Respiram. André Silva responde primeiro: "Não temos acompanhado a carreira dos professores de forma digna". E fala dos professores, das escolas, dos programas curriculares, do excesso de disciplinas e afirma: "Estamos a implementar uma escola-fábrica".
Assunção Cristas diz que "é uma questão muitíssimo importante. É preciso conseguir mecanismos para o rejuvenescimento do pessoal docente". E aproveitando o tema, António José Teixeira questiona Assunção Cristas sobre a proposta do CDS relativamente à livre escolha da escola, mesmo que seja privada. E Assunção Cristas diz que "não é isso". E explica: "devem escolher a escola pública que quiserem", mesmo que seja fora da área de residência. "Defendemos que devem ser mantidos os contratos de associação." E António José Teixeira lembra os casos em que o estado financiou escolas privadas quando ao lado, existiam escolas públicas com a oferta necessária. E Assunção Cristas: "E nos outros casos?, em que não haviam quaisquer escolas públicas e que hoje, têm de fazer quilómetros para irem à escola?" E por fim, "a possibilidade de criar escolas livres".
E é Assunção Cristas que muda de tema: "Mas gostava de ouvir o PAN falar sobre a Justiça." E pergunta directamente a André Silva: "Defende o agravamento de penas para os crimes relacionados com os fogos e, ambientais. Para todos os outros crimes, propõe a redução das penas. Para crimes de violência. De corrupção". E continua, dizendo que o PAN quer "promover as condições para garantir apoio psicológico ao agressor em crimes de violência doméstica. E propões consultas psicológicas para a vitima e para os filhos menores desde que tenham presenciado a agressão. Não percebemos o pensamento do PAN relativamente à justiça. O PAN não tem preocupação sobre as pessoas. No CDS, as pessoas estão em primeiro lugar".
André Silva responde: "O CDS vem com propostas que o PAN já apresentou no parlamento e o CDS chumbou!"
E António José Teixeira pergunta: E na justiça?, quais são as propostas do PAN? E André Silva responde: "A revisão do Código Penal, ao contrário do CDS. O CDS é fundamentalista".
E o debate termina.
Aceso. Quase num tom zangado. Talvez tenha sido a soja. Ou o Serviço Nacional de Saúde. PAN e CDS estão em campos opostos. Assunção Cristas soube penetrar nas fragilidades do PAN, até com a questão vegetariana. André Silva argumentou com a sustentabilidade do planeta. Foi pena não ter contraposto a questão da soja que viaja do sudoeste asiático. Será menos ecológica a produção de soja ou, a produção animal? Sendo que até aí Assunção Cristas entupiu André Silva, dizendo que para a agricultura ser biológica precisa do fertilizante animal. É por isso que é ecológica, disse.
Fundamentalismos e ideologias à parte, a verdade é que CDS e PAN jamais se entenderão. Ou talvez não. Os opostos atraem-se, e estes dois têm mais em comum do que aquilo que querem transparecer. Aguardemos pelos votos e pela composição do parlamento. Porque num cenário de 'geringonça' seja ela em que quadrante for, o PAN que não é de esquerda nem de direita, é bem capaz de se juntar à equipa vencedora.
Até ao próximo!
FONTES DAS IMAGEMS: MAGSAPO (ANDRÉ SILVA) E PÚBLICO (ASSUNÇÃO CRISTAS)
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