PRÉMIO CARLOS MAGNO ATRIBUÍDO A UM PORTUGUÊS

E o parlamento europeu está eleito. Com mais representantes “verdes” e “extremistas”. Muitos, anti-Europa. A maioria, para e com a Europa, (os Europeístas). Agora é a luta pelas cadeiras, com pretendentes de todos os quadrantes. Depois de definidos os lugares de topo, os 751 deputados irão discutir e definir o nosso futuro. 

E que grande exemplo nos dá o parlamento europeu. Mesmo daqueles que são anti-Europa, com ideias e ideais construtivos, discutíveis e exequíveis. Uma Europa que é também mais “verde” e “extremista”. Porque as questões do planeta estão cada vez mais na ordem do dia. E porque as questões nacionalistas e patrióticas invadem as redes sociais e a opinião pública, em que cada país é um país, com as suas diferenças, tradições e singularidades. E é graças a esse conjunto de países tão diferentes que a Europa se assume como um continente livre, democrático, humano e humanizado
E como a Europa é um continente livre e democrático, apesar das ideias serem diferentes, todos têm objectivos comuns que, resumidamente passam por construir uma Europa melhor. Melhor para todos os europeus. Melhor para todos os que não são europeus. Melhor na relação entre as diferentes raças e culturas europeias. Melhor no respeito pela diferença entre países europeus. Melhor na aceitação dessas diferenças. Melhor para a vida, para o ambiente, para o planeta.

A Europa assume-se como um continente de união, respeito, solidariedade e justiça entre os seus diferentes povos. E todos têm o seu lugar. Mais ou menos Europeístas. Porque afinal o que todos queremos é viver em paz e liberdade. E que nos respeitem como nação. Como pessoas. Sem violência e actos ditatoriais. Poderei até afirmar que a Europa caminha a passos largos para ser o “continente-exemplo”. Onde as opiniões são respeitadas, discutidas e implementadas, independentemente de se ser “verde”, “extremista”, anti-Europa ou Europeísta.

Eu a escrever estas palavras e vejo, em directo de Aachen, na Alemanha, a atribuição do prémio Carlos Magno ao Secretário-geral da ONU, “pela defesa da unidade do continente europeu”. E um orgulho enche-me o peito. Um prémio instituído há mais de 60 anos e que, pela primeira vez, é atribuído a um português. O discurso de homenagem foi proferido pelo Rei de Espanha, Filipe VI, que para descrever tão grandioso feito disse, em português, uma frase de Fernando Pessoa, do poema «Mar Português»: “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. 

António Guterres estava visivelmente emocionado, agradecido. E discursou. Em inglês. E em português, dizendo que teria de terminar na sua língua materna. E o que disse o Secretário-Geral da ONU? 

Numa mensagem forte, politica, humana, defendeu os valores da Europa que resultaram do fim da guerra, no sentido de assegurar a paz, a prosperidade, a justiça social e os valores da dignidade humana. E que a Europa era um exemplo de relação e entendimento entre os seus pares. E como exemplo, teria de dar ao resto do mundo, o exemplo com medidas de futuro. A Europa terá de ser pioneira e exemplar na luta contra as alterações climáticas, avançando com a ideia de que os impostos deveriam ser sobre as emissões de carbono e não, sobre os salários. E esta seria uma medida positiva e entendida por todos os povos, uma vez que os impostos seriam sobre a poluição produzida e não, sobre o trabalho e sobre o salário de cada um de nós. 

Falou da evolução tecnológica, da inteligência artificial. Falou dos jovens que acreditam na Europa do futuro e que hoje, a Europa tem de pensar nestes jovens, assegurando-lhes um futuro com emprego, com justiça social, com paz, com igualdade, com dignidade, com um planeta.

E lembrou a questão dos migrantes. Lembrou que foi a Europa, saída da guerra, que criou o estatuto internacional dos refugiados para proteger os refugiados e os migrantes europeus. E que agora, a mesma Europa, não podia esquecer esses valores.

E alertou para a próxima cimeira, que terá de ser muito mais exigente do que a de Paris. 

Enquanto discursava, António Guterres foi aplaudido várias vezes. No fim do seu discurso, foi aplaudido de pé. Pelos mais altos representantes dos países europeus. Cá fora, na rua, centenas de emigrantes portugueses bateram palmas, orgulhosos, ostentando a bandeira lusa. E António Guterres fez questão de os cumprimentar, agradecendo. 

Ao nosso primeiro-ministro, o jornalista perguntou:
- Estamos na presença de um português especial?
- Claramente que é!

A esta distância, fico feliz de sentir cada palavra como se fosse minha. Acredito que cada vez mais pessoas espalhadas pelo mundo defendem os valores da dignidade humana, do respeito, da tolerância, do diálogo, da diferença, do amor, da liberdade, da igualdade, da fraternidade, da solidariedade, da paz, da justiça. Só assim haverá futuro. E para esse futuro, é cada vez mais urgente introduzir objectivos e metas climáticas exequíveis e obrigatórias. Que irão interferir no nosso modo de vida. Que farão desaparecer profissões e negócios. Mas que darão origem a novas formas de viver, a novas profissões e a novos negócios.

Termino com uma frase de António Guterres: “Tenho esperança num mundo melhor.”

Olhei para o ecrã da televisão. Numa entrevista, Denis Mukwege, Prémio Nobel da Paz, pede a Portugal para solicitar aos seus pares e à ONU medidas urgentes contra a violência sexual na República Democrática do Congo onde, depois de violadas, “mulheres foram enterradas vivas pelos que hoje são os comandantes das forças armadas”.

Também eu “tenho esperança num mundo melhor.”























FONTE DA IMAGEM: www.jn.pt

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