EUROPEIAS
Ouvi num relance que o Parlamento Europeu é composto por 751 deputados representativos dos 28 estado-membros. Olhei para a imagem televisiva: um gráfico mostrava o número de deputados de cada país, evidenciando que a Alemanha era o país com mais deputados, num total de 96. E que os países com menos deputados eram o Chipre e a Estónia, com apenas 6. Portugal faz-se representar com 21 deputados.
Fiquei a pensar: mas que raio de critério é este? Então mas os europeus não são todos iguais? Porque raio é que os alemães “mandam” mais na Europa do que qualquer outro estado-membro?
Imaginem este cenário noutra qualquer organização. Por exemplo, na liga de futebol. Não sei quantos clubes fazem parte da liga mas, imaginem que o Benfica teria direito a 96 votos e o Vitória de Setúbal, apenas 6. Que justiça seria esta? Ou uma Associação de Comerciantes, em que um restaurante tem 96 votos e uma cafetaria tem apenas 6.
Não aprendemos todos que a justiça é cega e que quando tomada em conjunto, deve ocorrer em número ímpar? E que o número de votos é igual entre todos para que à partida, a votação não esteja viciada? A Europa não é uma sociedade anónima, constituída por accionistas que detêm mais ou menos acções, em que os votos correspondem ao número de acções que detêm. A Europa, pelo menos a Europa que eu idealizo, é igual entre os seus pares, não fazendo diferenciação entre os seus cidadãos.
Para mim, que nunca tinha pensado nisto, a solução até é relativamente simples:
Se o parlamento tem 751 deputados, é só dividir pelos 28 estado-membros. E cada estado-membro ficaria com 26 deputados. E sobrariam 23 lugares. Para quem? Divididos pelos 3 grandes grupos europeus: os países da Europa do Norte, os países da Europa do Sul, e os países que estão entre estes dois grupos, e que chamarei de países da Europa Central. E como seriam distribuídos estes 7 lugares por cada grupo? Seriam atribuídos aos países com menor índice de abstenção. E os dois lugares que faltam? Seriam atribuídos ao país da Europa com menor abstencionismo. Uma espécie de prémio.
A verdade é que estas eleições europeias não servem para discutir esta questão dos deputados no parlamento europeu nem o porquê desta diferença abismal entre países europeus.
Avancemos. Para a campanha eleitoral portuguesa. Temos direito a 21 deputados (uns míseros 2% do parlamento europeu é português), ridículo. Talvez isto explique cada vez mais, a elevada taxa de abstenção. (Lembro que só a Alemanha representa cerca de 12 % do parlamento europeu e que países como Itália, França e Reino Unido representam cada um cerca de 9%. Polónia e Espanha representam cada um, cerca de 7% . Ou seja, mais de 53% do parlamento europeu está nas mãos de seis países. Talvez isto explique muita coisa…).
E a campanha em Portugal? Se calhar devíamos era acompanhar as eleições europeias nos seis países que constituem a maioria do parlamento europeu... Adiante.
Temos direito a 21 lugares. Actualmente, divididos por sete forças políticas: PS com 8 deputados; PSD com 6 deputados; PCP com 3 deputados; CDS/PP, BE, Partido da Terra e Partido Democrático Republicano fazem-se representar, cada um, com um deputado.
Mas a verdade é que nestas eleições teremos de escolher entre 12 partidos políticos: Aliança; BE; CDS/PP; CDU; Iniciativa Liberal; Livre; Movimento Alternativa Socialista; Nós, Cidadãos; PSD; PS; PAN; Partido Unido dos Reformados e Pensionistas. Ufa!
E o que é que ouvimos? Tudo e nada. Frases contraditórias. Acusações. Comparações. O mesmo de sempre. Com mais ou menos fulgor. E não querendo ser má-língua, a verdade é que estão em causa cerca de 15 mil euros mensais durante cinco anos! Por isso a luta é renhida! Vale tudo e mais alguma coisa. E o povo, que é quem mais ordena, num estado de direito democrático, irá decidir quem nos representará nos míseros 2% do parlamento europeu.
E depois, dentro do parlamento europeu, os nossos deputados serão “arrumados” em 8 grupos diferentes: o Grupo do Partido Popular Europeu Democratas/ Cristãos (do qual fazem parte PSD e CDS/PP); o Grupo Europa das Nações e da Liberdade; o Grupo Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (do qual faz parte o PS); o Grupo dos Conservadores e Reformistas; o Grupo da Aliança dos Democratas e Liberais; o Grupo dos Verdes/Aliança Livre; o Grupo Europa da Liberdade e da Democracia; o Grupo Confederal da Esquerda Unitária/Esquerda Nórdica Verde (do qual fazem parte o PCP e BE). Depois, para os que não se integram em nenhum dos grupos, existe um outro, denominado “não inscritos”…
…
Isto para dizer que o importante será acreditar que os nossos 21 deputados esquecerão as quezílias nacionais expressadas nesta campanha e que na Europa defenderão Portugal como um todo. Como uma nação unida e em sintonia. O resto? O resto são números!
Quanto ao povo votante, a maior decisão que têm de tomar nestas eleições é se preferem uma Europa mais à esquerda ou mais à direita. Não esquecendo as forças extremistas que começam a invadir esta realidade europeia.
E depois, acreditar que os seis países que representam a maioria do parlamento europeu não sofrerão com os populismos e extremismos dos seus cidadãos votantes… e que decidem muita da nossa vidinha sossegada…
Quanto ao fim-de-semana eleitoral, ide votar. Conscientemente. Se estiver sol, a praia vai ser prioritária… se chover, sair de casa não será opção… está tudo nas mãos de São Pedro… Espero que o tempo ajude e não traga níveis de abstencionismo nunca sonhados...
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