REGIÕES

Todos nós aprendemos na escola primária as regiões que compõem o nosso país. Aprendemos as regiões, as capitais de distrito, os trajes regionais, o nome dos habitantes dessas regiões,…

Vem isto a propósito das notícias sobre a regionalização. Então não é que a Assembleia da República constituiu uma Comissão para efectuar um estudo do país que venha a definir quais deverão ser as regiões administrativas portuguesas. E essa Comissão, decidiu contratar um grupo de sábios portugueses que irão apresentar as suas sábias teorias.

Primeira reacção: não sabia que existiam sábios em Portugal.

A notícia avança e diz que esse grupo de sábios sugeriu a contratação de outro grupo de sábios, mais imparcial, dado que o primeiro grupo de sábios era todo de Lisboa… e com ligações partidárias…

Segunda reacção: existem assim tantos sábios que os primeiros sábios reconhecem a sapiência noutro grupo de sábios que não eles próprios?

Quando estes estudos sábios estiverem concluídos, serão remetidos ao Parlamento para avaliação e decisão sobre se a regionalização será uma realidade ou não.

Terceira reacção: quem no Parlamento terá sapiência para avaliar um documento produzido por dois grupos de sábios?

Só neste país, diria Sérgio Godinho. E parece que os sábios, por serem sábios, ocupados com matérias sábias, estão dispostos a prescindir do seu tempo sábio para estudarem a regionalização do país por uma quantia irrisória: meio milhão de euros.

Confesso que não me lembro de nenhum nome de sábio vivo. Geralmente a sapiência de alguém é consolidada anos depois da sua morte. Pelo pensamento, pela inteligência, pelas ideias e teorias. Um pouco como os artistas. Salvo honrosas excepções, só depois de mortos é que são reconhecidos. Enquanto estão vivos cultivam ódios e amores. E raros senão inéditos, são aqueles que reúnem o consenso perante toda a comunidade. Porque há sempre quem diga: lá estão aqueles armados em chicos-espertos!

Custa-me acreditar que existam assim tantos sábios concentrados na capital do país. E porque a regionalização não é Lisboa, é Portugal, porque não procurar ideias e teorias sábias daqueles que vivem, respiram e sofrem espalhados por este pequeno rectângulo paradisíaco? Não haverá nenhum transmontano sapiente? Ou minhoto? Tripeiro? Escalabitano? Alentejano? Algarvio? Albicastrense?

Fazer uma regionalização que à partida está centralizada em Lisboa parece-me um mau princípio. Mas esta é só a minha opinião. Que não sou sábia. Sou só alguém que fica espantada com as notícias que nos entram pela casa dentro. Nem sei se me dá vontade de rir ou de chorar. A verdade é que, consigo defender as duas soluções.

Defendo o sim à regionalização porque descentralizando o poder de decisão para mais perto do cidadão, poupar-se-ão anos de pareceres e reuniões. Com uma entidade pública que decide em tempo útil, que representa o governo e a estratégia politica apontada para o país no seu todo, com verbas iguais, com oportunidades iguais, com iniciativas e propostas que visem de facto a supressão das assimetrias portuguesas, deixarão de existir os que vivem em Lisboa e os outros. Porque todos de facto, terão os mesmos direitos e oportunidades.

Defendo o não à regionalização porque servirá apenas para desdobrar o poder pelos vários boys, transformando-se essa nova entidade num mero nome pomposo com um dirigente politico, devidamente assessoriado, que dependerá do partido, do ministério, do governo e que em última análise terá poder algum de decisão. Porque não irá substituir o ministro ou o governo.

Resumindo, que sejam os sábios deste país a elaborar esse tal estudo que para nós, são só uns trocos dos nossos impostos. O que são meio milhão de euros comparados com os milhões que já demos para a banca? E pelos vistos na banca, não existiam sábios eram mesmo só chicos-espertos que nos trouxeram a Troika e um aumento brutal de impostos

E falando em banca. Parece que a auditoria à Caixa Geral de Depósitos identificou um período de tempo que terá sido o mais gravoso, nomeadamente no que concerne a empréstimos aprovados sem que fossem prestadas garantias pelos interessados. O que me espanta nesta desta notícia não é esta parte. É aquela que passa quase despercebida: o administrador da Caixa Geral de Depósitos neste período definido como “negro” é hoje, o actual governador do Banco de Portugal. Será sapiência?

Só neste país, diria Sérgio Godinho. Num país de sábios e onde o chico-espertismo está em cada esquina, ali, à espera do momento certo.

Viva o estado de direito democrático! E neste estado do qual faço parte, deixo humildemente uma sugestão aos sábios portugueses: não estão disponíveis para antes do estudo sobre a regionalização, se debruçarem sobre as condições a que deve obedecer a implementação de uma regionalização? E se por ventura os vossos estudos mostrarem que o resultado é mais do mesmo mas agora descentralizado e a partilhar o poder com as sedes de concelhos, recusem-se a apresentar o estudo da regionalização.

Já chega de tanta notícia triste sobre a política e os políticos. Deixem lá o resto de Portugal estar sossegado sem estes jogos de poder e teorias da conspiração. Deixemos isso para a capital e mais meia dúzia de outras cidades. Assim ficamos de boca aberta mas, não é na nossa área de residência!

E quando quisermos levar um banho de realidade, ligamos a televisão ou o rádio. Senão, como diria Salazar, quanto menos soubermos, mais felizes seremos!


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