GARRAIADAS

E de repente dois dos projectos vencedores da segunda edição do Orçamento Participativo de Portugal, são contrários! Um, defende a “Tauromaquia para Todos”. O outro, defende “Portugal sem Touradas”.

E eis que as vozes se levantam. De um lado os aficcionados. Do outro, os totalmente contra. E depois o IVA. E a discussão do Orçamento de Estado na Assembleia da República dominado pelas touradas. 

Pelo fim das touradas? 

E por opiniões que para mim só servirão para inflamar mais ou menos a questão, dizendo aquilo que muitos querem ouvir e enraivecendo outros que defendem exactamente o contrário… (onde é que já vimos isto?)

Porque a verdade da questão, nada tem a ver com as touradas. É só uma guerra política. Nada mais. Uma tomada de posição dos partidos mais à direita e mais à esquerda. Para sobressaírem. Para sentirem o apoio dos directamente envolvidos e aficionados (CDS). Ou para ganharem força dentro das vozes discordantes (BE). E até o PAN se torna no grande protagonista desta garraiada partidária. 

E olhamos para o governo. Para a recém-nomeada Ministra da Cultura. E para os dois prémios atribuídos a dois projectos contrários. Porque qualquer um dos dois cumpriu os requisitos estipulados. 

Será o fim das touradas?

Para quando uma conversa, um debate, uma manifestação de opiniões, que esclareça e que não fomente o ódio e a raiva de parte a parte? Para que aquilo que aconteceu na Praça de Touros de Albufeira neste verão não se torne um hábito? Apenas relembrar o ocorrido: no meio da corrida de touros, um grupo de manifestantes (contra as touradas) saltou para dentro da arena com cartazes e pinturas corporais, chamando assassinos aos intervenientes e exigindo o fim da corrida. Os aficcionados que ali estavam a assistir saltaram-lhes em cima, com bandarilhas, espetando-as nas costas dos manifestantes. É esta a solução? O confronto violento entre opiniões divergentes? (onde é que já vimos isto?)

Talvez seja excessivo quando Manuel Alegre ou Miguel Sousa Tavares defendem que estas situações conduzem ao aparecimento de Bolsonaros. Espero sinceramente que não. Vivemos num estado de direito democrático. Somos seres livres, racionais e inteligentes. Vamos saber com toda a certeza resolver esta questão de uma forma pacífica e civilizada. 

E que tal deixarmos que os dois projectos vencedores comecem a trabalhar? Serão com certeza uma oportunidade de percebermos e tomarmos o partido de uma ou de outra opinião.

Nunca assisti a uma tourada. Não sou aficcionada (como não sou de tantos outros eventos). Já vi algumas vezes, em zappings, as corridas que a televisão transmite. Confesso que gosto de ver as pegas de caras. E acho os cavalos lindíssimos. O touro é a peça essencial. Sem ele, não há tourada. E sendo uma tourada, a solução passará por encontrar outras formas de tourear o touro que não o espetar de bandarilhas. Digo eu que não percebo nada destas lides.

Curiosamente, as touradas em Portugal, nasceram com Portugal. E foram vários os reis toureiros: D. Sancho II, D. Sebastião, D. Afonso VI, D. Carlos I,… 

Foi a rainha D. Maria II que proibiu as touradas em meados do século XIX. Mas a revolta popular não se fez esperar e pouco depois, as touradas voltavam com uma diferença: era proibida a morte do touro na arena. Mas para manter a soberania do homem sobre o animal no final da corrida, nasceram os forcados e as pegas de caras.

Alguns locais do país continuaram com os touros de morte mas em 1928 (um mês depois da eleição de Oscar Carmona como Presidente da República e da entrada de Salazar para o governo da Ditadura Nacional) foram definitivamente proibidos. 

Mas, o povo é teimoso e em 2002 (três meses depois da eleição de Durão Barroso como Primeiro Ministro) a lei seria alterada para que em locais justificados pela tradição, pudessem ocorrer touros de morte. Foi o caso de Barrancos. E em 2014, de Monsaraz.

A verdade é que existe toda uma cultura de touro e cavalo em Portugal, com ganadarias, coudelarias, campinos, cavaleiros, forcados, bandarilheiros, novilheiros,… são 32 os municípios portugueses que declararam a Tauromaquia como “Património Imaterial e Cultural”. E para além das 76 Praças de Touros do país, um sem número de largadas e garraiadas invadem ruas e espaços livres de vilas e cidades, onde os mais afoitos encaram o touro… alguns têm sorte, outros sentem na pele a violência da cornada. E no ano seguinte, vão todos outra vez.

E o tão nosso cavalo lusitano. Sabem que é uma raça desenvolvida especialmente para as corridas de touros? O cavalo “Sangue Puro Lusitano”.

Haverá muito que pensar. E a civilização evolui. E irá evoluir. Pacificamente. Com soluções e não com agressões e extremismos. O IVA? Deixem lá o IVA. Não é isso que importa. Os prémios atribuídos? São uma oportunidade de debater o assunto. Com verdade. O resto? O resto é politiquice.

O PAN? Tem pelo menos o mérito de introduzir novas temáticas para discussão na Assembleia da República: o ambiente, a sustentabilidade, as medidas ecológicas, o direito dos animais. É um discurso novo que não deverá cair na tentação de colagem a situações extremistas sejam elas a favor ou contra determinado assunto.

Fiquemos pois atentos. Inclusive ao projecto que visa elevar a Tauromaquia a “Património da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura”.

E boas touradas! Sejam elas quais forem 😊



















FONTE da IMAGEM: acoresnewz.com - Foto/JEdgardo Vieira

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