FURACÃO

E eis que Portugal continental recebeu com expectativa o seu primeiro furacão. Leslie. Todos os meios accionados. Todas as medidas de prevenção activas. Todos de uma maneira geral cumprimos as orientações. Ventos a 170 km/hora. Chuva. E o Leslie fez estragos. Como era esperado. Nas linhas de electricidade. Milhares de casas sem luz. E os serviços da EDP a tentar repor a normalidade.

E é esta “normalidade” que dá azo a esta… como direi?... a esta perplexidade. Talvez seja o termo certo…

Parece que o furacão com os seus ventos deitou abaixo umas centenas de metros de linha eléctrica (que aquando dos fogos, alguns defenderam que as linhas de electricidade deveriam estar enterradas e assim não sofreriam danos. Ao que a EDP reagiu dizendo que essa alteração - substituir a rede aérea por subterrânea - custaria milhões). Adiante:

Como foi um fenómeno da natureza (como nos seguros dos carros), a EDP será compensada pela reposição das centenas de metros de linha eléctrica, pelos equipamentos que terá de substituir, pelos números de horas que irá despender com trabalhadores,… 

E será compensada por quem? Pelos portugueses! Isso! Vamos ser nós, todos nós, a pagar os danos que o fenómeno da natureza causou na rede eléctrica do país. Somos nós, todos nós, o seguro da EDP.

A pergunta é: como é que esta informação não abre os telejornais diários? O que abre os noticiários é a redução do IVA na electricidade. Até dá vontade de rir. 

Vejamos: a redução do IVA na electricidade é só relativamente à potência contratada, que passará de 23% para 6%. Serão cerca de 8 € que deixaremos de pagar por ano. Qualquer coisa como menos 66 cêntimos na factura mensal. Uma fortuna 😊 

Ou seja, os restantes valores de IVA que pagamos na factura de electricidade continuarão a ser 23% (excepto a contribuição audiovisual que já é de 6%).

E isto é relevante? Muitos dirão “é melhor do que nada”. E de facto é. Mas não se esqueçam que nós todos somos uns beneficiados por termos acesso à rede eléctrica e por isso pagamos todos os meses, para além do consumo, o encargo relativo ao acesso às redes, os custos de interesse económico, o imposto especial de consumo eléctrico, a taxa de exploração DGEC, a potência contratada e a contribuição audiovisual (acrescidos de IVA). 

Estes seis itens referem-se a mais de 70% do valor da factura. Não é energia consumida. São outros cálculos, outros valores, que nada tem a ver com o nosso “esbanjar” de electricidade.

Preparem-se pois para ver um novo item na factura. Qualquer coisa do género: Valor atribuído ao Leslie: não sei quantos euros, acrescidos de IVA, obviamente.

Apenas lembrar que desde o início da crise económica, que nos deu a sobretaxa de IRS, os cortes de ordenados e de pensões, o congelamento de carreiras, e todas essas medidas que não cabem num parágrafo, a EDP apresentou sempre, sempre, lucros a rondar os mil milhões de euros.

Fantástico não é? 

É o que faz sermos um povo solidário. Sempre prontos a ajudar quem mais precisa!



















Fonte da imagem: www.publico.pt/2018/10/15/sociedade/noticia

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