EXEMPLOS
Começo com Fernando Pessoa. 1928: “Ninguém conhece que alma tem”.
Como é que é possível sabermos tão pouco sobre aquilo que nos define enquanto portugueses, enquanto nação, enquanto pátria? Quem foram os nossos heróis, os nossos destemidos aventureiros, as nossas referências? O que fizeram os nossos reis?, de bom e de mau? Como é que nascemos? Como é que nos tornámos o maior império do mundo? Porque é que fomos espanhóis? Quem era D. João IV? E porque é que Nossa Senhora foi coroada rainha de Portugal? E na implantação da república?, quem foram os heróis vitoriosos? E para além de Salazar?, quem foram os outros todos? E a ditadura? E o fim da ditadura? E o general Ramalho Eanes? E a Europa? E…
Olho para os mais novos que eu, completamente embrenhados nas tecnologias, no amanhã sem passado. Será que se interessam? Será que querem saber? Ou será que o que é fixe é usar uma camisola de Che Guevara sem fazer a menor ideia de quem foi e porque é que foi? Sem saberem sequer a sua nacionalidade nem a sua história. Apenas porque é uma imagem revolucionária. E isso chega para expressar uma qualquer vontade de diferença. Apesar de “ninguém saber que coisa quer, nem o que é mal nem o que é bem” (outra vez Pessoa, 1928).
E porque a política é sempre a mesma. E porque já ninguém parece acreditar nos partidos e na democracia, aparecem as extremas direita e esquerda. Com nacionalismos e patriotismos, com retóricas deste e daquele que, com fervor, cospem aquilo que muitos desejam ouvir. Porque se sentem maltratados, injustiçados, desrespeitados. Porque todos os dias veem os mesmos de sempre suspeitos disto e daquilo, a serem declarados inocentes ou a terem um qualquer perdão, ou a verem os processos arquivados. E podia dizer aqui tantos nomes que diariamente nos entram pela casa dentro...
Mas não. Prefiro contar uma conversa que ouvi há uns anos, entre dois homens sentados no muro da praia. Dizia um: como é que é possível o Primeiro-Ministro não saber que tinha de pagar a Segurança Social? Pergunta o outro: Então mas ele não é doutor? Resposta: É, mas não sabia… e a Segurança Social perdoou-lhe a divida. Diz o outro: Não sabia? Olha aquele ali do café, que nem deve ter a quarta classe, sabe que tem de pagar todos os meses a Segurança Social. E o outro: Não pagues tu o que deves para ver se alguém te perdoa! Resposta: Se fores tu tás feito mas se fores o Primeiro-Ministro, tás safo!
E os milhões dos bancos que faliram? Em que o estado de direito democrático injectou um dinheirão e nós, todos nós, contribuímos. Qual é o resultado dessas falências? Há algum responsável? O que há é um défice a cumprir que nos comanda e que é comandado pela União Europeia.
E depois voltamos aos populismos. Às frases que nos parecem de justiça e que prometem acabar com estas 'indrominisses'. E ficamos espantados com a vitória de Trump. E ficamos boquiabertos com a vitória de Bolsonaro. Mas respiramos. Afinal existe todo um oceano (que já foi nosso) a separar-nos.
E sem perceber nada de política internacional, sabem o que me assusta? A Alemanha aqui tão perto. Sem Merkel. E com tantos extremistas desejosos de poder. E entre nós não existe um oceano. Existe uma Europa unida (?) com valores e princípios.
Termino com a mesma frase de Fernando Pessoa: “Ninguém conhece que alma tem”.
E pergunto: onde está o futuro? Onde é que andam as novas gerações? Completamente descrentes e afastadas desta vida de politiquices? E terão alguma hipótese de dizerem o que sentem? De se fazerem ouvir perante estas máquinas politicas, com políticos formatados e protegidos pelo estado de direito democrático?
Estou cansada da Assunção, do João, da Mariana, do Mário, do José, do André, do Duarte,… e desta discussão sem discussão do Orçamento de Estado para 2019. Estou cansada de todas aquelas caras de deputados que nos habituámos a ver muito cedo nas juventudes dos partidos. Estou cansada de ver os mesmos no mesmo.
Trump? Bolsonaro? São só o início. De um fim.
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