AJUDA
O que é uma notícia? Ou, o que é notícia? Notícia é tudo o que lemos, vemos e ouvimos e que é transmitido pelos canais de comunicação. E as notícias são as mesmas. Como se alguém definisse uma playlist de notícias sobre os quais todos falam, comentam, escrevem. Depois, a imagem. Melhor ou pior sobre a mesma notícia.
Há as notícias bombásticas e especulativas, repetidas intensivamente que chegam a ocupar espaço durante semanas inteiras. Há as notícias diárias, que valem o que valem e não passam de meros acontecimentos. Há as notícias que chocam com imagens brutas que depois são partilhadas e partilhadas e partilhadas e…. Há as notícias que nem aquecem nem arrefecem. Há as notícias para “encher chouriços”, que nem sequer são notícias. E há as notícias de má-língua. E há as notícias que nos tocam, que nos fazem pensar, que nos fazem querer ajudar e largarmos as nossas vidinhas confortáveis e sairmos, como verdadeiros salvadores, ajudando quem precisa.
E esta playlist definida merece o destaque nas nossas atenções e, de repente, como por artes mágicas, desaparece. Ninguém ouve mais uma palavra sobre aquela notícia que encheu écrans, páginas, conversas,… Porque a playlist foi redefinida. Actualizada. Porque já chateia estar sempre a falar do mesmo.
E as notícias internacionais. Bolsonaro. Bolsonaro. Bolsonaro. Trump. Trump. Trump. Brexit. Brexit. Onu. Portugueses na Venezuela. Tsunami na Indonésia. Mau tempo.
Na grande maior parte das vezes, aquilo que é destaque nas notícias hoje, é esquecido amanhã. E nunca mais volta à ordem do dia.
E eis que um ano depois, as playlist de notícias escolhem um acontecimento e voltam a colocá-lo na ordem do dia. Um ano depois, que já nos esquecemos todos de tudo e regressámos todos às nossas rotinas.
Vem isto a propósito dos fogos e das notícias de hoje.
O que me entristece? As pessoas que ficaram sem nada e que, por não terem nada, continuam sem nada. Porque o povo solidário, movido pelas notícias, mobilizou-se e deu, ajudou, acreditou que as coisas seriam rápidas. E esqueceu-se do assunto. Porque o assunto deixou de ser assunto. No momento em que a notícia morreu. E com ela morreu tudo.
O que me entristece? As pessoas que ficaram sem nada e que, por não terem nada, continuam sem nada. Porque o povo solidário, movido pelas notícias, mobilizou-se e deu, ajudou, acreditou que as coisas seriam rápidas. E esqueceu-se do assunto. Porque o assunto deixou de ser assunto. No momento em que a notícia morreu. E com ela morreu tudo.
E agora? Um ano depois? Voltamos a ficar indignados, chateados, irritados. A grande maioria das pessoas continuam sem nada. O que é que falhou? O que é que está a falhar?
E durante esta semana, vamos ouvir esta notícia. Vamos ver as pessoas com os olhos cheios de lágrimas a mostrarem o que lhes resta de uma vida de trabalho. Porque para além da notícia “um ano depois”, a mesma faz-se com a dor de quem perdeu e continua à espera de tudo. Alguns têm ajuda da família, dos amigos, dos vizinhos, das instituições. Outros, resta-lhes esperar pela ajuda dos portugueses e do estado português.
Custa assim tanto, de uma forma rápida, eficiente e eficaz, sem oportunismos e oportunidades de negócio com a desgraça dos outros, ajudar? Ajudar pessoas com alguma idade que já deram tudo? Que recebem o rendimento mínimo e que o que tinham foi à custa do trabalho de uma vida inteira? Custa muito fazer chegar a ajuda de uma maneira séria e eficaz?
Parece que a engrenagem social está corrompida. Está a ser vítima de um “error” seguido da mensagem “the program will be shut down; fatal error”.
Aguardemos pela playlist de notícias da próxima semana. E para o ano, falamos outra vez disto. Porque é uma notícia que vende e permite grandes “shares” de audiência.
O resto? O que é que isso interessa? Ajuda? A Ajuda é ali para os lados de Belém!
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