A PRAIA

E eu na praia a levar com o vento”. Sentada na areia, olhando o mar. Pessoas que passam sozinhas, apenas com uma toalha. Casais, com um saco de praia ao ombro, geralmente da mulher. Famílias, carregadas de tudo para todos: chapéu-de-sol, para-vento, cadeiras, espreguiçadeiras, bóias gigantes de flamingos e tubarões e pneus, baldes, pás, formas e forminhas, sacos de praia, geleira, bola e raquetes.

Depois, pessoas que passeiam em fato de banho, numa caminhada à beira mar. Elas, quase todas, de telemóvel na mão. Aqui e ali uma selfie para o ‘face’.

Crianças que brincam na areia: castelos e grandes construções elaboradas. Buracos, buraquinhos e buracões, autênticas piscinas de água salgada. Pais que jogam à bola com os filhos. Mulheres que jogam raquetes. Rapazes que, em círculo, dão toques numa bola branca. Duas raparigas que jogam vólei. Outras duas jogam badmington. E a pena que voa com o vento…

Uma mulher em fato de banho, na casa dos cinquenta e poucos anos. Transporta uma espreguiçadeira cinzenta. Dirige-se ao mar e perto da rebentação, deita-se na espreguiçadeira, virada de frente para o sol nascente. Não há quem passe que não olhe.

Um grupo de brasileiros: três mulheres, dois homens e duas crianças. Eles, trazem a geleira cheia de Coronas que vão bebendo umas atrás das outras. Elas, fotografam a bunda em várias posições e com diferentes enquadramentos. Um dos homens, não tem calção de banho: veste uma sunga que cada vez está mais larga e ensopada ameaçando cair a qualquer momento e, uma camiseta preta de manga comprida que lhe deixa a barriga de fora. Sobre esta, um fio de ouro com uma cruz. Está dentro de água, quase de frente para mim, olhando para as brasileiras que se fotografam e riem. Na mão, a Corona que vai bebendo alegremente.

Um homem, talvez de uns sessenta anos. Vem de calções azuis e uma t-shirt amarela. Chega à beira mar. Está vento. Não há ninguém ao banho. Entra no mar até a superfície de água lhe tocar nas bainhas dos calções. Alivia a bexiga serenamente.

Eu, que estou sentada na areia da praia a levar com o vento, vejo o homem a olhar para os calções: uma mancha enorme está em toda a zona frontal dos calções. A entrada na água não foi a suficiente…

Vejo-o regressar ao chapéu-de-sol. A mulher nem desviou o olhar do jornal. Ele despe a t-shirt amarela, regressa ao mar e, a custo, mergulha. Volta para o chapéu-de-sol. Gelado mas como novo. 

Oiço alguém dizer “a água está gelo do frigorifico”. 

Chegam um grupo de rapazes. Espanhóis. Amontoam-se estrategicamente perto de um grupo de raparigas que estão a jogar às cartas. Aparentemente, nem dão pela presença deles. Apesar da alegre galhofada.

Oiço uma conversa entre dois homens: “ficou chateada… não posso dizer-lhe nada”. O outro responde: “eu não me meto”. O primeiro continua: “queria despachar-se e estava a reclamar por causa da loiça”. “Pois”, diz o outro. “Eu ainda lhe disse” – continuou o primeiro – “que para ser mais rápido e poupar trabalho devia fazer como a minha mãe…” O outro riu e o primeiro continuou: “fazia uma saponáriazinha numa bacia e ia pondo a loiça de molho…” Diz o outro: “Estão a chegar”.

Olhei para ti: “estás a ouvir a conversa?” Sorriste e acenaste com a cabeça. Continuei: “vou-me deitar de barriga para baixo para ver quem são…”

Confesso que tive vontade de me levantar e lhe dizer: “Venho dar-lhe um conselho: nunca, mas nunca, mas mesmo nunca, nunca, diga à sua mulher como é que a sua mãe faria. Especialmente se a sua mulher já estiver enervada e chateada. O que deve dizer é: deixa estar, eu lavo a loiça.”


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